“Na busca por um padrão de beleza homens e mulheres exageram na realização de procedimentos estéticos e cirúrgicos”

            Cresce a cada dia a procura por procedimentos estéticos e cirúrgicos em clínicas brasileiras. Graças à evolução da tecnologia e ao barateamento dos procedimentos cirúrgicos e estéticos ficou mais fácil fazer uma intervenção atrás da outra e isso dá vazão a obsessão doentia pela manutenção da beleza e juventude. Muitas pessoas não sabem a hora de parar e acabam ficando com rostos deformados.

Bem feitas e bem indicadas às cirurgias estéticas representam um ganho na auto-estima, mas a falta de bom senso pode levar a bizarrices sem retorno. Casos como os das atrizes americanas, as ex-panteras Kate Jackson e Farrah Fawcett são bons exemplos. Com rostos harmoniosos na juventude, elas se deformaram de tantos preenchimentos e cirurgias. E não pára por aí: Mickey Rourke, Axl Rose, Melaine Griffith, Donatella Versace engrossam esta fileira hollywoodiana.

        A belíssima atriz Angelina Jolie com sua boca carnuda e voluptuosa é referência internacional de beleza e a maioria das mulheres cobiça o bocão da estrela. Entretanto, apesar de todas quererem a boca de Angelina e recorrer às intervenções estéticas, porque os resultados, em muitos casos, ainda ficam tão artificiais e as pessoas com cara de quem saiu da mesma linha de fabricação?

Basta ir a um Shopping Center em qualquer centro urbano do mundo para se deparar com pessoas de pele alaranjada (sessões de bronzeamento artificial), maças do rosto salientes, testa estirada, lábios inflados e dentes branquíssimos, de uma alvura inexistente na natureza. Graças à evolução da tecnologia e ao barateamento dos procedimentos cirúrgicos e estéticos ficou mais fácil fazer uma intervenção atrás da outra e isso dá vazão a obsessão doentia pela manutenção da beleza e juventude.

            Segundo o Cirurgião plástico Cláudio Bicudo, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o resultado desta obsessão são as deformidades encontradas por aí. “ A cirurgia plástica foi feita para melhorar a auto-estima. Um nariz menos adunco, uma ruga retirada, um corpo modelado pela lipoaspiração, tudo isso é possível desde que o paciente esteja em mãos competentes e seja, acima de tudo,bem orientado. O grande problema é quando se exagera na dose” diz o médico, lembrando que a lipoaspiração ( que completou 30 anos), por exemplo, é o procedimento cirúrgico mais realizado, mas que é feito para retirar gorduras localizadas e não para emagrecer.

           Por que a medicina, numa era de técnicas literalmente miraculosas, não consegue dar às mulheres e aos homens a naturalidade dos tão sonhados lábios carnudos? Porque as pessoas perseguem compulsivamente um padrão de beleza inatingível, chegando a recorrer inúmeras vezes a cirurgia plástica? A resposta é simples para Cláudio Bicudo: “ Esses  pacientes sofrem de transtorno dismórfico corporal e vemos muita gente com a doença em nossos consultórios. Cabe-nos encaminhá-las para um especialista, um tratamento terapêutico” conta Bicudo lembrando que há casos de pessoas que chegam a operar o nariz de 5 a 6 vezes.

          Mônica Linhares, dermatologista especialista em medicina estética explica que Angelina é Angelina Jolie, assim como cada pessoa possui suas características próprias. “Não dá certo transformar uma boca fininha num bocão. Quem sonha com uma boca à la Jolie esquece que não tem o rosto dela. O preenchimento de lábios exige respeito à simetria do rosto e ao desenho original de cada paciente. Senão, fica com boca de peixe" diz a especialista que atende em seu consultório no Rio de Janeiro. Segundo ela nos últimos dois anos a procura por preenchimentos labiais aumentou em 40%  entre pacientes de 20 a 40 anos, batendo um recorde que antes era liderado por mulheres por volta dos 50, 60 anos.” Sou muito favorável ao preenchimento e não vejo mal algum em harmonizar um rosto, mas procuro orientar para que ele seja feito com muita cautela, pois temos casos desastrosos e às vezes irreversíveis” completa.

        Pesquisas mostram que o aumento de boca é o segundo procedimento mais procurado nos consultórios – só perde para tratamentos anti-rugas e que é difícil controlar os pedidos. “Todas querem colocar mais do que deviam”, diz Mônica. Algumas conseguem, e aparecem então os deletérios resultados observados no rosto da nada controlada Donatella Versace, 53 anos, que está praticamente deformada. A estilista italiana é um caso típico de como inflar os lábios pode virar uma espécie de vício e de como os exageros não fazem bem a ninguém.

A dermatologista Mariana Pinheiro Machado, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que o profissional deve orientar suas pacientes a nunca ultrapassar os limites e não faz procedimentos em pessoas menores de 18 anos. Ela explica que por ter esta cautela sempre obteve resultados excelentes. “Precisamos ser firmes com as pacientes mais afoitas e que em um só procedimento querem injetar mais quantidade de preenchimentos do que sua harmonização facial” diz. A médica defende que qualquer pessoa pode melhorar sua aparência, mas que a sutileza do contorno dos lábios e a harmonia com o resto do rosto são os detalhes principais na hora de optar pelos preenchimentos faciais.

A modelo Isabella Fiorentino, um dos rostos mais bonitos do Brasil fez preenchimento labial com polimetilmetacrilato (PMMA) por curiosidade, como ela mesmo alega e ficou “com um bocão que não combinava com sua silhueta”. Já passou por duas cirurgias para tentar reverter o processo já que achava sua boca mais chique e elegante antes do preenchimento. Devido a casos como os de Isabella é que Mariana Pinheiro Machado explica aos seus pacientes as conseqüências dos exageros. “Faço uma aplicação bem sutil e natural, dando prioridade à simetria do rosto das pacientes. Quando me pedem para deixá-las com um “bocão”, oriento a primeiro fazer um preenchimento temporário para que não haja arrependimentos futuros. Os exageros podem deixar rostos assimétricos, apagando muitas vezes traços finos e bonitos”.