Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 2024

Profissão mãe

Profissão mãe

Mulher é bicho doido mesmo. Até o começo do século tinha uma vida mansa, meio sem função na sociedade - fora as funções biológicas que lhe cabem e pelas quais sempre foi incluída no mundo - mas resolveu se rebelar contra essa coisa inexpressiva que era seu papel social e queimou em praça pública um dos muitos ícones da tortura feminina depois do cinto de castidade: o SUTIÃ.

 

 

Tudo bem que naquele tempo a coisa era meio chata e a gente se divertia pouco e nem escolhia o homem que ia casar, mas depois do tal fumacê, a vida da gente virou uma loucura, pois, com a revolta, somamos funções ao que já era bastante e agora estamos revoltadas com o acúmulo de tantas tarefas.

 

 

Pensando melhor, acho que essa revolta foi mal articulada, pois somamos deveres dos direitos adquiridos, mas continuamos com os mesmos deveres que já tínhamos e a soma de todas as funções faz da nossa carga horária de trabalho uma coisa para dar inveja a qualquer executivo chinês.

 

 

Hoje não temos mais a opção de nossas mães de trabalhar ou não, nós trabalhamos porque precisamos ajudar na família e, quando não precisam de nosso dinheiro, o que é raro, ficar sem uma atividade produtiva formal virou sinônimo de vadiagem ou ignorância, sabido que quem trabalha em casa é vista como folgada.

 

 

Cuidar dos filhos, marido, casa, trabalho, família, amigos e ainda fazer ginástica, unha, cabelo, dieta, não é para qualquer um. E além de tudo tem a reza, sim a gente reza para dar tudo certo porque se não der a culpa é nossa, pois, afinal de contas, de quem era a responsabilidade da casa, dos filhos, da empregada... Você já entrou em uma casa onde as crianças acabaram de bagunçar? Quem é a relaxada? A casa está arrumada, mas você está meio fora de forma. Quem é a relaxada? Você é brilhante em seu trabalho, mas não tem tempo nem para escolher a roupa que vai vestir. Puxa você é mesmo relaxada!

 

 

Quem pensa desta maneira se equivoca, pois deveria considerar a imprudência de julgamento que está cometendo quando critica um aspecto sem considerar o restante.

 

 

Os homens sempre foram muito exigentes com as mulheres, mas não podemos ignorar que as mulheres são muito piores neste quesito quando resolvem bancar as heroínas ou criticar as outras mulheres.

Seja como for, nos últimos anos, a balança de direitos e deveres vem se equilibrando e dando a mulher uma chance de experimentar a satisfação de suas necessidades e desejos.

 

 

Ser mãe é uma necessidade, mas antes de tudo é o desejo de somar, se misturar com o mundo e a natureza, de dar um pouco da pele, do coração e da alma.É uma viagem de ida sem volta, que mistura todos os sentimentos, que da um medo enorme, que expõe todas as fraquezas, as mazelas, os limites.

 

 

Mãe é cargo vitalício, todas nascem mulher e muitas morrem mães. Vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano, todos os anos de vida, é assim a vivência desta escolha que transforma e liberta, que enriquece e fortalece e que deixa a mulher mais perto de tudo que é mais sagrado e bonito neste mundo.

 

 

Parabéns a todas as mulheres mães deste mundo tão maluco, que não perdeu o rumo ainda porque vocês brigam por ele e por seus filhos o tempo todo e é sabido que, no que depender desta briga, as batalhas estão ganhas e a guerra, se existir uma, será vencida.

 

 

 

PARABENS!

 

 

 

 

 

Silvana Martani é psicóloga e especialista em obesidade da Clínica da Beneficência Portuguesa.

 

 

Crédito:Renata Rebesco

Autor:Silvana Martani

Fonte:Materia Prima