De papel passado ou não, o que conta é o amor
Além do amor e admiração, sonhos e valores em comum fazem com que os casais queiram dividir os mesmos teto e cama, sendo ou não a união oficializada por lei, num casamento civil, ou com todo o ritual que envolve igreja - vestido branco, véu e grinalda.
De uma forma ou outra, especialistas concordam que, o que faz a diferença mesmo é o respeito e a cumplicidade entre o casal, a aceitação das diferenças e da individualidade, além do entrosamento sexual.
A psicóloga clínica Karen Camargo lembra que, para muitos casais, o casamento tem um valor importante, já para outros não há necessidade de papel assinado para assumir uma nova casa.
“Casar ou morar junto anuncia mudanças importantes na vida do casal, que vão exigir adaptação, reorganização, estar aberto para a construção de um novo lar com o companheiro e assumir responsabilidades”, orienta.
Segundo Laila Pincelli, psicóloga especialista em terapia de casal, a oficialização da união acaba pesando mais para as mulheres.
“Elas pressionam o parceiro por um casamento oficializado, com rituais ou não, mas que a permitam assumir o papel de esposa. Muitas vezes, mesmo morando juntos, ainda se referem ao companheiro como namorado”, diz.
Para que o amor cresça e não apenas sobreviva, cada um dos cônjuges precisa descobrir virtudes novas e sinais de amadurecimento no outro.
“O parceiro tem que tornar-se cada vez mais compreensível, amável e respeitoso. Se isto estiver presente na relação do casal, pouca diferernça faz morar juntos ou casar“, esclarece Adriana Savio, psicoterapeuta de família e casal.
Morar junto ou casar: o que vale é a decisão do casal
No fundo, os valores que cada membro da relação tem sobre o casamento é o que vai pesar na decisão de casar ou simplesmente morar junto.
“Para alguns, o casamento é um valor importante, pois envolve assumir um novo papel diante da sociedade ou mesmo um valor sobre a construção de uma família, levando em conta toda a história de vida de cada um”, conta a psicóloga Karen Camargo.
Acontece também, explica Karen, que muitas mulheres possuem uma crença de que, quando o casal vai morar junto, acaba por adiar a opção do casamento oficial, ou ele nunca chega às vias de fato.
Elas começam a sentir que estão sendo “enroladas” pelo companheiro, que pode não estar assumindo a relação de verdade.
Nos tempos atuais, o “morar junto” acabou quebrando etapas mais tradicionais, como namorar, noivar e casar, período que o casal tem para se conhecer e adquirir respeito, confiança e equilíbrio em relação ao outro.
“Essas etapas servem de amadurecimento na relação e são muito importantes no inicio da fase de casados. O equilíbrio é a chave para resistir às turbulências que, com certeza, todos nós um dia passamos ou iremos passar”, aconselha a psicóloga Adriana Savio.
De alguma forma, observa a terapeuta Laila Pincelli, as mulheres estão querendo voltar aos moldes antigos, com casamento oficializado, para se sentirem mais seguras.
“Apenas morar junto ou ter uma relação onde ‘vale tudo’ não está sendo suficiente para elas”, afirma.
Por envolver gastos (cartório, roupas, festa etc.), lembra Karen, talvez as pessoas deixem para se casar quando tiverem dinheiro, com a vida econômica mais estabilizada. Neste sentido, é comum vermos casais que moram juntos e optam pelo casamento em um momento mais maduro da vida.
Casamento nos tempos atuais
Outro ponto é que o casamento de hoje não significa mais para a mulher abrir mão da vida pessoal, parar com tudo e se dedicar apenas à família.
“Muitas delas se recusam ao casamento quando percebem que faltará autonomia e liberdade para continuarem vivendo com tudo o que já conquistaram, como uma carreira de sucesso”, aponta a terapeuta de casal Laila.
“O casamento, quando oficializado, torna mais penosa a opção pela separação jurídica. Entra em jogo um patrimônio que precisará ser dividido a partir do regime acordado. Talvez isto faça com que as pessoas adiem o divórcio. Filhos também podem fazer com que muitos fiquem presos ao casamento, mesmo estando infelizes”, afirma Karen.
Não é o registro civil, lembra a psicóloga Laila, “que vai fazer com que a pessoa se entregue de verdade à relação e siga ‘regras’ de uma união estável, desejada pela maioria das pessoas, como assumir um companheiro único e ser fiel”.
O que diz a lei sobre união estável
Perante a lei, pouca coisa muda em se casar no papel ou não após algum tempo.
De acordo com o novo Código Civil, a união é considerada estável quando a relação é pública, contínua e duradoura entre duas pessoas livres para o matrimônio.
Após dois anos morando juntos, a lei facilita a conversão em casamento.
Assim, ficam valendo os mesmos direitos do casamento civil pela comunhão parcial de bens (quando os bens móveis ou imóveis adquiridos após a união do casal pertencem aos dois e podem ser divididos em partes iguais no caso de uma separação).
Testemunhas, contas conjuntas ou mesmo declarações como dependente no imposto de renda, além dos filhos comuns do casal, comprovam a união estável.
Mas, as uniões formais crescem a cada ano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007 foram realizados 916.006 casamentos civis, contra 889.828 em 2006.
Para que o casamento civil seja permitido, é preciso que ambos sejam solteiros (ou divorciados).
A cerimônia religiosa pode ter efeito civil, desde que seja registrada em cartório em até 90 dias.
O casal pode manter os nomes de solteiros ou a mulher adotar o sobrenome do marido e vice-versa.
Crédito:Luiz Affonso
Autor:Karen Camargo
Fonte:Universo da Mulher