Tratar sobre o destino é uma aventura arriscada, pois as pessoas possuem pontos de vista conflitantes, causando quase sempre momentos de forte tensão, haja vista o assunto tocar em questões filosóficas e sobretudo religiosas, cuja defesa das crenças particulares faz surgir ferrenhos argumentadores de pacatos cidadãos.
Porém, tal atitude é ao mesmo tempo uma oportunidade especial de entrar em contato consigo mesmo e refletir sobre tamanho problema, provocando, finalmente, uma revisão a respeito da possibilidade de se intervir sobre o futuro.
Não é a intenção aqui apontar afirmações pretensiosas acerca da validação ou refutação da existência do destino, mas levantar alguns pontos ainda obscuros a fim de ampliar o estudo em questão ao invés de tentar mantê-lo trancafiado a sete chaves, apenas pelo grau de dificuldade existente em discussões desta natureza.
O significado da palavra destino é: Sucessão de fatos que podem ou não ocorrer, e que constituem a vida do homem, considerados como resultantes de causas independentes de sua vontade; sorte, fado.
Mas é só um lado da moeda.
O outro, em oposição, salienta o controle sobre o porvir. Em outras palavras, parte da população crê na pré-existência dos acontecimentos e parte acredita no domínio e no direcionamento das coisas. Eis um difícil embate.
Todavia, devemos nos animar pelo simples fato de existir mais de uma alternativa.
Embora tais proposições sejam distintas e distantes em sua concordância, é possível aproximá-las, transformando contradição em afinamento, desde que não se petrifique a impressão sobre o destino, permitindo, em contrapartida, que ele tenha vida e que esteja tão presente dentro do ser humano quanto lhe for permitido, proporcionalmente à criação e ao Criador, conforme Gênesis 1:26: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. Ou ainda, de acordo com o filósofo francês René Descartes: A idéia de Deus está impressa no homem, como a marca do obreiro em sua obra.
Por conseguinte, se considerarmos que o destino é fruto do que pensamos e praticamos (plantio e colheita), é natural e lógica a expectativa de efeitos pertinentes a causas anteriores.
Então, não há porque duvidar do “destino”, e ainda, embasar-se no pressuposto de que é inevitável receber pelo que se proporcionou, oferece a chance de escolhermos o que pretendemos para nós mesmos, tornando a inevitabilidade um bem que se aguarda com prazer e não um sofrimento do qual a fuga é um desejo corrente.
Contudo, o conhecimento a este respeito é crucial, do contrário, torna-se somente um mero jogo de palavras sem qualquer significado pessoal. É preciso fazer sentido internamente. Com efeito, se o destino é aceito a partir de semelhante idéia, podemos acrescentar um novo dado conforme já se observou: a intervenção sobre ele.
Pois bem, se o “inevitável” é o efeito de algo anteriormente causado, e tal movimentação foi gerada por nós, é sinal de que interferimos diretamente sobre os acontecimentos.
Deste modo, convém perguntar:
1) Nós intervimos sobre o próprio destino (ele é flexível e não rígido), senão, em nada resultaria qualquer ação que empreendêssemos?
2) A nossa experiência demonstra que “mexemos os pauzinhos” e assim modificamos a direção de alguns fatos?
3) No amor, é o acaso que aproxima as pessoas ou o convívio (gente que mora próximo ou freqüenta o local de trabalho, passeio, etc), via de regra, que as une?
4) Na vida profissional, é a dedicação que faz alcançar um dado objetivo ou basta somente esperar o tempo para que se obtenha êxito?
5) No desenvolvimento, é a acomodação ou a ação que faz evoluir?
6) E sobre a inevitabilidade, será que é tão imutável assim, que não possa receber nova intervenção e ser modificada, aumentado-a, diminuindo-a, dissipando-a? Enfim, podemos descrever uma extensa lista de perguntas com a finalidade de ponderar sobre o destino e a intervenção, mas isto compete a quem deseja ir fundo neste tipo de investigação. É uma decisão singular.
Concluindo, em relação ao destino, podemos pensá-lo como um meio de mudança e não exclusivamente como um fim.
Intervir no presente, ainda que inevitavelmente tenhamos que colher os frutos do que se plantou no passado nos abre a porta para um futuro mais promissor.
É antes uma oportunidade do que uma imposição.
Quantas coisas podem ser diferentes na sua vida, caso tome para si, gradativamente, o leme das decisões?
É antes liberdade do que aprisionamento, se observarmos a intervenção.
É claro que dá mais trabalho agir do que ficar acomodado, mas vale a pena. Portanto, eis a pergunta final: Que tipo de destino você quer para si?
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo e diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas. É professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School.
E-mail: selfcursos@uol.com.br
E-mail: selfcursos@uol.com.br
Crédito:Fatima Nazareth
Autor:Armando Correa de Siqueira Neto
Fonte:Armando Correa de Siqueira Neto