Quem somos nós, quem é dos nossos e quem é contra nós? Quem são seus inimigos? Quem são os seus amigos? Como é que um amigo se converte em inimigo?
Por vezes, alguém se aproxima, demonstrando ser um amigo afável e solidário, com presença constante em sua casa, disponível para cultivar uma amizade. Você corresponde, mal escondendo um certo entusiasmo, pois amizade é coisa rara, e inicia a abertura dos canais pelos quais desfrutará desse convívio e intimidade. Expondo seu jeito de ser, quem você é e como resolve as situações intrincadas do dia-a-dia. O perigo começa quando seu amigo passa a admirá-lo e respeitá-lo tanto que suas qualidades acabarão por incomodá-lo, sobretudo se evidenciarem o que ele tem de mal resolvido ou, de forma simplória, o que não possui na vida.
É nesse instante que alho se converte em bugalho. Perde a noção de limite e acha que a intimidade conquistada lhe assegura o privilegiado direito de fazer, dizer e pedir o que é vedado a outros. Age tranqüilo, garantido pela certeza de que o amigo sempre irá compreender. Não se trata de desconfiar da própria sombra, mas se o inimigo pode entrar na sua casa na pele de cordeiro, o que fazer? É nessa hora que baixa um espírito protetor de mãe que repete cansativamente para desconfiar sempre dos outros.
Por outro lado, se somos atacados é porque temos alguma força ou predicado que atiça interesses e provoca inveja. Portanto, ser atacado tem seu lado positivo, demonstra que demarcamos claramente uma linha entre nós e os outros. Significa que quem ultrapassar essa linha, evidencia que está em oposição e invadiu para se apropriar de uma forma de ser que gostaria que fosse a sua. Seduzindo, inventando mil artimanhas, glorificando a ilusão de ótica e emaranhando tudo para não se ver sozinho consigo mesmo. Reforçando a tendência pessimista de valorizar o que não presta e desvalorizar o que presta.
O difícil de verdade é fortalecer-se espiritualmente para não confundir adulação com reconhecimento de caráter e confiar mais no seu taco para não ficar de rabo abanando, no aguardo de um elogio ou mimo. Mas o inimigo não morre sozinho. Há que aprender a se livrar dele.
Crédito:Antonio Gaio
Autor:Antonio Gaio
Fonte:Universo da Mulher