Rio de Janeiro, 03 de Dezembro de 2024

Amor ou dependência afetiva?

A dependência amorosa é explicada pelo psicólogo Dr. Luiz Ainbinder sobre a confusão que as pessoas fazem a respeito do verdadeiro amor
 
Existe uma confusão, aliás várias, a respeito do amor. 
Uma delas é a que podemos chamar de “amor-necessidade” ou “amor-deficiência”, que no fundo não é amor, é um estado de dependência. 
 
Neste estado de dependência amorosa, você dá para o outro as suas carências e cobra dele o preenchimento de suas deficiências. 
Fica claro que não é verdadeiro amor – é uma necessidade. 
Você usa o outro, você o usa como um meio, um provedor emocional.
Você explora, manipula, domina.  
 
Usar outro ser humano é desrespeitá-lo, é uma profunda demonstração de desamor e falta de Deus no coração.
Uma criança recém-nascida depende totalmente de sua mãe.  Seu amor para com a mãe é um “amor-deficiência” – ela precisa da mãe, não pode sobreviver sem ela. 
 
De fato, não é realmente amor – ela amará qualquer mulher, quem quer que a proteja, quem quer que a alimente, quem quer que satisfaça suas necessidades. 
O problema é que milhões de pessoas continuam crianças por toda a vida, num sentido amoroso. 
Elas jamais crescem. 
 
Estão sempre precisando de cuidados, ansiando, agora, pelo alimento emocional que o parceiro (a) pode dar.
E o ser humano amadurece no momento em que começa a amar em vez de necessitar. 
 
Seu relacionamento não é de abastecimento e sim de transbordamento. 
Ele começa a transbordar, a partilhar; ele começa a dar. 
A ênfase é totalmente diferente. 
 
 
Com o primeiro, a ênfase está em como obter mais e subtrair ao máximo tudo que puder. 
Com o segundo, a ênfase está em como dar mais, em como dar incondicionalmente. 
Só uma pessoa madura pode dar amor, porque só a pessoa madura o tem. 
 
Então, seu amor não é dependente.

 
O que acontece quando uma flor floresce numa floresta sem ninguém para apreciá-la ou tomar conhecimento de sua fragrância, de seu perfume? 
Será que ela morre? 
Sofre? 
Fica apavorada? 
Entra em crise?
Em depressão?
Comete suicídio? 
 
Ela continua a florescer. 
 
Não faz nenhuma diferença se alguém passa ou não; isso é irrelevante. 
Ela continua espalhando no ar sua fragrância.  Assim é com o verdadeiro amor.  O amor não é uma relação.  É um estado da pessoa amorosa. 
 
Uma pessoa verdadeiramente amorosa ela ama porque é essa a sua natureza, seu amor não brota apenas na presença de determinada pessoa. 

 
O outro recebe o amor que transborda de uma coração pleno – e esse é o “amor-dádiva”, o verdadeiro amor.
 
 
Escrito por Dr. Luiz Ainbinder
 

www.aluzdapsicologia.com.br 

 


 

A Co-Dependência, Amor ou Maldição?

Na realidade, a entrega sem limites ao outro tem consequências nefastas para o próprio e revela diversas fragilidades justificadas pela intensidade do sentimento amoroso. Gradualmente a pessoa anula-se na relação para poder servir os interesses da pessoa amada, funde-se com ela chegando mesmo a perder a sua própria identidade, enquanto reclama não sentir da outra parte o mesmo empenho e devoção.

A organização da vida de alguém em torno da pessoa amada ao ponto de tornar inconcebível a sua existência sem o outro é uma forma de dependência semelhante à dependência de drogas ou álcool, cujo carácter destrutivo requer tratamento e prevenção.

Desde o final dos anos 70 que surgiu no meio da psicoterapia o conceito de co-dependência inicialmente usado para descrever as pessoas cuja vida era afetada por alguém dependente de drogas ou álcool. Este conceito teve origem nos Alcoólicos Anónimos que organizaram grupos de auto-ajuda para apoiar os cônjuges de pessoas dependentes do álcool, os Al-Anon.

Estas pessoas eram caracterizadas por procurarem relações com pessoas dependentes de substâncias na medida que estas suscitariam comportamentos co-dependentes. Estes comportamentos incluíam uma enorme reatividade, necessidade permanente de controlo do outro, baixa auto-estima e esvaziamento emocional da pessoa co-dependente.

Este conceito rapidamente se alargou a  pessoas que estabelecem relações em que ficam obsessivas em controlar o comportamento do outro, esquecendo-se de si próprias e do que as terá levado a agir desta forma.

As pessoas co-dependentes sentem-se incompletas sem o parceiro(a). Têm pouco amor-próprio, são muito auto-críticas e sentem-se magoadas facilmente. Por estas razões os co-dependentes são muito reativos às atitudes e comportamentos do outro, têm dificuldades em expressar certo tipo de sentimentos em que julgam ficar demasiado expostos ou vulneráveis.

Por consequência, estas pessoas têm dificuldade em pedir ajuda, em reconhecer os seus erros e olhar para as suas feridas. Tudo porque têm medo de perder o controle. O controle sobre si próprias que é assim assegurado através do controle do outro.

Os co-dependentes tentam reforçar a sua auto-estima ajudando os outros a resolver os seus problemas, nem que para isso tenham de comprometer a sua integridade e os seus valores. Os co-dependentes têm dificuldade em dizer que não, têm relações sexuais sem vontade, despendem demasiado tempo a dizer que tudo vai bem.

Numa fase inicial, os co-dependentes dedicam-se a tentar “salvar o outro”, zelando quase religiosamente pelos seus interesses, tomando para si a responsabilidade das suas acções, pensando por eles, sofrendo as consequências do seu comportamento. Posteriormente, os co-dependentes irritam-se com os outros pela falta de gratidão e reconhecimento, chegando ao ponto de sentir uma raiva incontrolável sobre os outros e sobre si próprios.

Este ciclo deixa a pessoa co-dependente ainda mais frágil porque deu tudo e afinal não mudou nada. Na verdade, a pessoa co-dependente ajuda o outro a perpetuar os seus problemas e a desresponsabilizar-se dos seus atos.

Quando estas relações atingem um ponto de  ruptura, a pessoa co-dependente tende a procurar outra pessoa problemática para dar início a um novo ciclo.

A recuperação da co-dependência inicia-se pela tomada de consciência de que a pessoa precisa de centrar-se em si mesma, desprendendo-se da adição ao outro, procurando ajuda para identificar as suas vulnerabilidades e os vazios que tenta preencher através da dedicação aos outros.

Quando as pessoas começam a gostar de si mesmas, a cuidar das suas feridas e a sará-las, quando aprendem a expressar os seus sentimentos e necessidades de forma adequada, as pessoas ganham noção dos seus limites e ganham perspectiva sobre si próprias.

Quando as pessoas gostam de si mesmas vão tender a procurar pessoas que as valorizem e respeitem pelo o que elas são. O ciclo da co-dependência pode ser interrompido e desfeito quando a pessoa co-dependente compreende que a resolução do seu problema reside em si próprio. Reside em tomar responsabilidade por si, tomar conta da sua vida e assim ficar disponível para poder verdadeiramente amar.

 

Sugestão de leituras sobre este tema:
“Vencer a Co-Dependência – Como Deixar de Controlar os Outros e Cuidar de Si”, Melody Beattie, Sinais de Fogo
“Mulheres que Amam Demais”, Robin Norwood, Sinais de Fogo

Esta entrada foi publicada em Artigos e com as tags amor, co-dependência, controle, obsessão, relação.

Escritor por Rui Ferreira Nunes

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Dr. Luiz Ainbinder

Fonte:Universo da Mulher