Rio de Janeiro, 30 de Outubro de 2024

"Casos mal resolvidos" atrapalham escolha de um parceiro

Mulheres "enroladas" vivem um tipo de relacionamento que ainda não encontra definição em nosso vocabulário.

Não é namoro. Não é um caso, transa ou affair. Muito menos noivado.

O termo "rolo" é atribuído a este tipo de relação excluída dos padrões comuns. Às vezes, fugir de um relacionamento como manda o figurino é uma escolha. Mas, na maioria dos casos, a própria mulher não encontra uma explicação para tanta demora na descoberta do seu "príncipe encantado". A inconstância é o comportamento sempre presente neste tipo de relacionamento.

A microempresária Priscilla Seixas, 36 anos, se divorciou de seu marido há sete anos. Desde então, só mantém casos amorosos "enrolados".

Atraente e simpática, Priscilla nunca se fecha para as paixões. Mesmo assim, ainda não encontrou o homem ideal com o qual deseja ter uma relação mais estável e duradoura. Ela acredita que esta atitude está ligada ao seu medo de se envolver demais e depois sofrer.

"Sei que um dia encontrarei uma pessoa a quem eu possa me entregar incondicionalmente, sem ficar criando barreiras para controlar a intensidade da emoção", revela.

Relacionamentos instáveis indicam problemas emocionais

Por mais que tenham sido as decepções vividas por uma mulher, a esperança de encontrar a outra metade nunca a abandona, lembra o psiquiatra Cândido Vallada.

A desenhista industrial Daniela Mendonça, por exemplo sempre viveu relacionamentos instáveis até conhecer seu atual namorado, com quem vive há dois anos.

Antes, logo nas primeiras semanas de envolvimento com alguém, ela intuía que suas expectativas não seriam preenchidas. "Não ficava triste porque sentia que o cara certo iria aparecer um dia", conta Daniela, 29 anos.

Cândido Vallada julga que o fato de uma mulher na faixa dos 25 aos 45 anos buscar ansiosamente um parceiro ideal e não conseguir achá-lo é sinal de que algo não vai bem na sua parte emocional. Na sua versão, os motivos que levam a mulher a este ponto estão impregnados na bagagem afetiva que ela constrói a partir de suas primeiras experiências.

Um relacionamento familiar conturbado e é a principal causa dos rolos. Cândido explica que a fixação na imagem do pai, tenha sido ele rígido ou carinhoso, é prejudicial à mulher. A supervalorização da figura paterna fatalmente vai impedí-la de enxergar ou valorizar as qualidades de seus parceiros.

Mulheres devem abandonar a busca do homem perfeito

Atribuir a frustração amorosa à modernidade e à vida urbana pode ser uma conclusão precipitada. No entanto, relacionar o aumento de "rolos" ao consumismo não é um racicínio incorreto, na opinião do psicanalista Welson Jerônimo Barbato.

Conforme ele esclarece, o sistema capitalista induz ao consumo instável e reciclável. "Isso pode ter consequências subjetivas, como, por exemplo, o desejo flutuante ou insatisfeito", diz. Este sintoma pode também ser responsável pela impossibilidade da mulher de fixar seu desejo em uma só pessoa.

O psiquiatra lembra um comportamento que acompanha a condição feminina: pretender se apropriar de um objeto de desejo impossível de ser alcançado. É a antiga questão do eterno desencontro entre querer e poder. Ele observa que a queixa de não encontrar a pessoa certa é cada vez mais freqüente entre as mulheres e se manifesta cada vez mais cedo.

O novelo, ou novela, das "enroladas" pode ter fim. Barbato explica que desconstruir a figura mítica do homem idealizado internamente (e não apenas racionalmente), pode ser a solução. "Afinal", diz, "todas as mulheres tem consciência de que o homem ideal, perfeito, não existe".

 

 

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Elizabeth Mendonça

Fonte:Universo da Mulher