Negras ou amarelas, católicas ou mulçumanas, jovens ou idosas, não importa.
"As mulheres que vieram depois de 1945 passaram por um "boom" de transformações.
Na verdade, acho que fomos quase que cobaias.
A começar pela bomba atômica, pelo pós-guerra. Depois veio a pílula, o movimento feminista, a educação sem limites para os filhos, as drogas, a produção independente, hormônios.
Tudo nesta minha geração.
Passamos por tudo... Meu Deus do Céu, daqui uns dois anos, alguém pode nos avisar de que tudo era um teste e que a experiência deu errado", expressa Maria Aparecida.
Aos 87 anos, ex-combatente da II Guerra Mundial, juntamente com milhares de mulheres, Maria sentiu na pele essas mudanças que alteraram a situação feminina no mundo como um todo.
Quase 150 anos separam o data de hoje do dia em que 129 operárias morreram em uma greve nos EUA.
A história do Dia Internacional da Mulher tem seu começo.
Em 8 de março de 1857, patrões e policiais colocaram fogo na fábrica têxtil onde as mulheres estavam trancadas, após protestarem contra a jornada de trabalho de 16 horas e por melhores salários.
Muita coisa mudou desde então, mas ainda há muito por fazer.
As primeiras articulações de um movimento feminista começaram logo após a Revolução Francesa.
Os principais objetivos eram o direito ao voto e à educação.
No Brasil, até 1879, as mulheres eram proibidas de freqüentar cursos de nível superior e, durante boa parte do século 19, só poderiam ter educação fundamental. Mesmo com a legislação que permitia a instrução feminina, as mulheres tinham o acesso dificultado.
Aos poucos, as conquistas vão acontecendo.
A passos de formiga, mas vão.
Toda a crise no Oriente Médio, por exemplo, trouxe - embora, de forma trágica - significativas mudanças.
A libertação ocorreu em diversos níveis e, dentre eles, o da mulher. Somente o fato de questionar todos os conceitos pré-estabelecidos e, muitas vezes, prejudiciais, já é uma forma de evolução.
Hoje, muitos homens já reconhecem esta força feminina, tanto que, muitos deles, buscam neste equilíbrio da emoção e criatividade (características, muitas vezes, somente da mulher) artifícios para a busca de seus objetivos.
"Já cheguei a dar palestras para cerca de 3 mil homens, numa sala onde haviam apenas três mulheres", revela Mônica Buonfiglio, uma estudiosa de assuntos esotéricos e espiritualistas.
Mônica encara esta mudança como uma porta de entrada para o avanço de ambos os sexos.
As mudanças foram absorvidas de tal forma que muitas pessoas acreditam que a mulher já conquistou a ambicionada "igualdade". Porém, novas e antigas formas de preconceito e violência persistem.
Enquanto isso, a mulher, com seu poder descomunal, continua abrindo fronteiras, assumindo espaços e gritando por seus direitos.
Com uma parte da guerra vencida, o feminino encara cada ano como uma nova batalha.
Algum benefício na guerra
Terrores à parte, a a guerra serviu como um grande empurrão para a emancipação feminina.
Por causa da falta de homens, que eram obrigados a ir para o front, mais mulheres entraram para o mercado de trabalho.
Desde a Revolução Industrial, mulheres vinham ocupando postos em fábricas, além de exercer as profissões tipicamente femininas, como enfermagem e serviços domésticos.
Os salários, entretanto, tinham diferenças brutais. As distorções permanecem, mas menos severas.
O batalhado direito ao voto
O direito a escolher os próprios governantes mobilizou mulheres de todo o mundo durante boa parte da primeira metade do século 20. No Brasil, essa conquista aconteceu em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas.
A Nova Zelândia foi o primeiro país a permitir o voto feminino, em 1893. Na França, apesar de "igualdade" estar entre os lemas da Revolução Francesa, a mulher só conseguiu votar a partir de 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
A liberação sexual
Nos anos 50, o feminismo ganhou um novo aspecto: a contrução da identidade feminina e a liberação sexual.
Em 1949, a escritora Simone de Beauvoir publicou O Segundo Sexo, que demolia o mito da "natureza feminina" e negava a existência de um "destino biológico feminino".
Para a companheira de Jean-Paul Sartre, "a feminilidade não é uma essência nem uma natureza: é uma situação criada pelas civilazações a partir de certos dados fisiológicos".
O livro causou impacto imediato e provocou críticas não só dos conservadores - devido principalmente aos capítulos dedicados à sexualidade feminina -, mas também da esquerda. Simone de Beauvoir foi acusada de desviar o foco da questão principal, a luta de classes.
Um novo impulso chegou nos anos 60, com a criação da pílula anticoncepcional.
A revolução sexual acompanhava outros acontecimentos da época, como a guerra do Vietnã e a ascensão do movimento estudantil.
Com a chegada da pílula, um dos pretextos para a repressão sexual feminina, a gravidez indesejada, não tinha mais porque existir. Depois de cerca de 40 anos de existência, a pílula é usada por cem milhões de mulheres em todo o mundo.
Outro sinal dos tempos viria em 1964, quando a inglesa Mary Quant escandalizou com uma saia dois palmos acima do joelho.
O pedaço de pano de trinta centímetros rapidamente conquistou mulheres de todo o mundo e deu o impulso a novas musas, como a modelo Twiggy, que apesar de polêmicas eram mais simpáticas que as feministas clássicas, como Betty Friedman e Simone de Beauvoir.
Em 1971, preenchendo a longa lista de tabus quebrados, a brasileira Leila Diniz apareceu de biquíni em uma praia carioca, exibindo uma grande barriga de gravidez.
Uma nova ordem familiar
Com o novo papel da mulher da sociedade, mudou também a estrutura familiar. As publicações e programas de televisão dirigidos ao público feminino se multiplicaram durante os anos 80, e a educação sexual começou a entrar nos currículos escolares.
Sem dependerem financeiramente do marido, as mulheres passaram a adiar o casamento.
As taxas de fecundidade caíram, ligadas à presença cada vez maior no mercado de trabalho.
Crédito:Luiz Affonso
Autor:Luiz Affonso
Fonte:Universo da Mulher