O que quer uma mulher?
A pergunta perturba há séculos homens e mulheres, sem resposta definitiva.
O novo livro da psicanalista americana Polly Young-Eisendrath, "A mulher e o desejo - Muito mais do que a vontade de ser querida" (Editora Rocco), é mais uma tentativa de decifrar esse enigma.
Para a autora, a mulher contemporânea está mais perdida do que nunca.
Obrigada a ser sedutora, jovem, vitoriosa no trabalho e eficiente em casa, a mulher perdeu o controle sobre sua verdadeira natureza. O enigma sobre o que uma mulher quer da vida estaria cada vez mais indecifrável.
Não é o caso da médica Ana Moura, que se diz uma mulher do século XIX grávida de um homem do século XXI. Ela conta que seu "namorido", um mix de namorado e marido, se espanta ao ouvi-la dizer que gosta realmente é de cozinhar e cuidar das crianças:
- A mulher quer ser a rainha do lar. Isso é o essencial. Converso muito sobre isso com meu namorado, que é moderno, e aos poucos aprendo que posso fazer as coisas simultaneamente. Se um dia eu chego tarde do trabalho e meus filhos já estão dormindo, coloco os dois em minha cama para matar a saudade. E agora, novamente grávida, sinto-me totalmente a rainha do lar.
Homens e mulheres em busca de amor
Se a mulher quer amar os filhos, o homem e o lar - e não apenas ser amada, como vislumbrou Freud após interpretar o desejo de dúzias de histéricas - o que o homem quer?
O psicólogo americano Alon Graych tenta decifrar o homem no livro "Se os homens falassem - Como compreender as atitudes masculinas" (Editora Campus).
Para o engenheiro Marcos Sademberg, porém, o enigma do homem já está resolvido. Tudo o que satisfaz essencialmente a um homem, segundo ele, está nas relações afetivas:
- Mas a relação afetiva não é só sexo e companheirismo. Deve conter doses certas de carinho, humor, cultura e inteligência. O amor releva muita coisa, mas as faltas pesam com o tempo. Você pode viver com uma pessoa sem humor, mas, depois de anos, será uma frustração. É por isso que as relações longas são difíceis.
Para o advogado Eric Albuquerque, compreensão e solidariedade bastam:
- É disso que preciso numa relação afetiva. Não sei o que uma mulher quer, mas espero que também queira isso.
Para o psicanalista Giovanni Gamgemi, as necessidades básicas do ser humano são iguais para homens e mulheres.
- Homens e mulheres têm necessidade biológica de água, ar, amizade, alimento, amizade e amor. Essa é a realidade. Já os desejos são imaginários, muitas vezes desconhecidos e nunca satisfeitos plenamente - comenta.
Quando a maternidade se torna descartável
O psicanalista Giovanni Gamgemi acha que Ana Moura tem razão. Quando pensa no que quer uma mulher, ele diz que lhe vem a idéia da necessidade de ser mãe.
- O que a mulher quer e necessita é ser mãe. Mas não basta essa necessidade existir. Ela precisa ser sentida. O problema é que a nossa cultura é tão invadida por desejos imaginários que ser mãe se torna muitas vezes um acessório indesejado e descartável. Daí a proliferação de creches e babás. De tal modo que a Humanidade está se transformando num amontoado de órfãos de mães - diz.
Ele adverte que as mulheres devem se conscientizar da importância da maternidade. Mães despreparadas, segundo ele, são responsáveis pela maior parte da destruição do ser humano:
- Quando o bebê não tem o seu amor correspondido pela mãe, desiste de amar. Esse adulto passará a desejar satisfações imaginárias, muitas vezes destrutivas. Em vez de água, por exemplo, beberá cachaça.
Sucesso na profissão pode impedir a maternidade
A jornalista Simone Bittencourt confessa que deseja amar um homem e com ele constituir uma família, mas essa realização jamais poderá comprometer a sua vida profissional.
Do contrário, será descartada. Astrid explica que não abre mão de seu trabalho por amor algum:
- Tenho 40 anos e quero ser feliz com um novo amor. Ele será o nono coração que vou tatuar em meu corpo, mas não ameaçará o meu trabalho. Tenho planos a médio prazo de ser mãe, o que também não me impedirá de trabalhar. O meu trabalho é minha realização fundamental.
Já a cineasta tcheca Michaela Pavlatova diz que é impossível dizer o que uma mulher quer porque cada uma quer algo diferente. Ela veio ao Rio esta semana exibir no festival Anima Mundi seus filmes sobre relações entre homem e mulher, as quais, segundo ela, são inviáveis:
- Cada cultura tem um modelo diferente de família e o papel da mulher também varia em cada sociedade. Algumas mulheres preferem se casar com um homem que seja bom pai e que cuide da família. Para outras, o homem amado é mais importante que a família. Há as que concentram toda a satisfação no trabalho. Eu acho que queremos tudo: amar e ser amada, ter uma família linda que deixe um bom espaço para o trabalho, a criatividade e a independência. Mas não podemos ter tudo; logo, tentamos a melhor combinação.
Quanto ao desejo dos homens, Michaela diz que sabe apenas o que eles não querem: problemas.
- Eles querem mulheres que não criem problema algum. E para eles sexo é o mais importante, mas gostam também de privacidade e de poder - afirma.
O gerente-geral do bar temático Hard Rock Café, Marcelo Politi, de 39 anos, discorda radicalmente da cineasta tcheca. Ele diz que o homem não quer sexo, poder e vida fácil, mas amor, amigos, um trabalho agradável e muita atividade esportiva:
- Sei que sucesso e dinheiro não satisfazem. O que me realiza é amar profundamente minha mulher, Luciana, e minhas filhas Ayla, de 13 anos, e Mariah, de 10. E praticar esporte. Sem atividade física minha vida é uma desgraça. Já a mulher é mais simples. Ela só quer atenção, porque é carente. A mulher já nasce carente.
Se a questão do desejo é interminável para leigos, o que dirá para psicanalistas. Para o psicanalista Carlos Saba, a mulher quer ser amada e se cuidar, além de sexo, segurança e proteção. Cabe ao homem atendê-la:
- O feminismo tornou as mulheres masculinas e agressivas. Os homens se assustam com isso e muitos estão se tornando até sexualmente impotentes. Duvido do homem que diz gostar de mulher independente. Só se for para tirar proveito financeiro dela - comenta.
Diferentes formas de amar
A MULHER
AMOR POSSESSIVO: Para o psicanalista Carlos Saba, a mulher quer amar, mas seu amor pelos filhos e pelo marido é possessivo. Ela se ama através do amor pela família que gerou e, portanto, é dela.
CUIDADOS MASCULINOS: A mulher quer ser cuidada e protegida pelo homem. Saba diz que, no consultório, a maioria das mulheres independentes se sente usada, explorada e desprezada pelos homens.
MATERNIDADE: A mulher precisa desenvolver o seu amor maternal não só com os filhos, mas com os homens, com os amigos. Ela se realiza quando compreende e ajuda os outros.
PODER INVISÍVEL: Para a psicanalista Tânia Salles, a mulher se realiza usando seus poderes subjetivos de persuasão.
O HOMEM
PAIXÃO LOUCA: O homem quer se apaixonar, se perder em delírios e delícias afetivas com suas musas, com exceção, segundo Carlos Saba, dos machistas, que só querem se exibir para outros homens.
SEM DOR: A psicanalista Ana Maria Carvalhaes, autora do livro "Multiplique sua capacidade mental" (Editora Madras), diz que os homens deveriam querer amor, respeito e auto-estima. Mas o que ela vê no consultório são homens em fuga desesperada da dor e das limitações e numa busca irracional de prazer e de uma auto-imagem poderosa que compense a falta de respeito e de amor-próprio.
COLO MATERNO: O homem deseja repetir com a mulher o aconchego do colo materno, que na idade adulta inclui o sexo.
Crédito:Anna Beth
Autor:Anna Beth
Fonte:Universo da Mulher