Família Guinle inaugura hotel de luxo em 1923 e põe Copacabana no mapa mundi
Entre seus hóspedes estão Lady Di, Ava Gardner, Carmem Miranda, Mick Jagger, barão de Rotschild e rei George VI. Até os anos 20, praia era usada só com fins terapêuticos
Estava escrito nas estrelas. O cabalístico dia 13 de agosto de 1923 entraria definitivamente para a História. E entrou. Nascia no meio de um areal, então sem o menor charme, o queridinho número um dos cariocas. Todos enchem o peito de orgulho para pronunciar duas palavras mágicas: Copacabana Palace. Calcula-se que cerca de cem mil pessoas passem diariamente pela Avenida Atlântica, em Copacabana. Dessas, provavelmente, 99,9% dão uma olhadinha na fachada do hotel, que completou 95 anos e voltou a exibir as cores originais há alguns anos. Uma estatística informal, é verdade. Mas que ganha ares de comprovação matemática quando se dá uma paradinha.
O prédio, em estilo mediterrâneo, hoje tombado pelos governos federal, estadual e municipal, foi construído por Octávio Guinle, por sugestão do então presidente da República, Epitácio Pessoa. Ele queria que o Rio tivesse um hotel de nível internacional. Conseguiu. Não é nem um pouco exagero dizer que foi graças ao Copacabana Palace que Copacabana virou Copacabana. Aliás, fora os banhos de mar com fins terapêuticos, praticamente ninguém frequentava a praia. Dom Pedro II deixou São Cristóvão e foi a Copacabana apenas para ver um espetáculo de baleias.
O elegante traçado, projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire, foi inspirado nos hotéis Negresco, em Nice, e Carlton, em Cannes. Dez anos após a inauguração, o Copa foi cenário do filme "Flying down to Rio", no qual Fred Astaire e Ginger Rogers dançaram juntos pela primeira vez. Em 17 de abril de 1934, O GLOBO noticiou que o grande astro do cinema mudo em Hollywood, Ramón Novarro, em sua turnê pela América do Sul, ficaria hospedado na mesma suíte que o Príncipe de Galles ocupara tempos antes e que, desde então, permanecera fechada.
Quase 80 anos depois, em 21 de março de 2011, a fachada do elegante hotel serviria para a projeção das cenas de “Rio”, a animação de Carlos Saldanha que concorreu ao Oscar.
O hotel preferido das personalidades já reuniu em suas suítes decoradas com móveis e cortinas francesas, salões de mármore de Carrara e lustres de cristal tchecos, de Carmem Miranda a Ava Gardner; de Lady Di a Mick Jagger; de Hebe Camargo ao escritor alemão Thomas Mann, do barão de Rotschild ao rei George VI, pai da rainha Elizabeth II.
Em 8 de janeiro de 1949, o jornal noticiou o primeiro desfile das candidatas ao concurso de beleza que escolheria a representante do Brasil para o Miss Universo. As fotos de Ilka Soares, que se tornaria atriz, e Solange Paranhos de Albuquerque, desfilando no Golden Room do Copacabana Palace, ocuparam a manchete: "Aproxima-se a data culminante do grande prélio da beleza".
Difícil é escolher o mais saboroso dos casos ocorridos no hotel. Foi lá que aconteceu, em 1991, o mergulho noturno de Lady Di na piscina, às 2h da madrugada, seguido de um verdadeiro malabarismo para comer manga. Mas entre os mais divertidos está a estada da diva Marlene Dietrich, nos anos 40. Antes de uma apresentação no Golden Room, ela passou por uma situação constrangedora. Minutos antes do show, desesperada, pediu ao maître que lhe levasse um balde de champanhe cheio de areia.
— Este vestido colante me impede de descer 20 degraus para ir fazer o meu pipi burguês — disse ela ao funcionário, que saiu de seu camarim boquiaberto. Só podia ser no Copa.
Com 225 apartamentos no prédio principal e no anexo, os números impressionam. A fachada é pintada a cada dois anos. As 28 bandeiras em frente ao prédio são trocadas a cada três meses. Por ano, são 35 mil hóspedes, em média. Cuidam de tudo mais de 420 funcionários. As instalações impressionam: duas piscinas, sendo que uma é pouco conhecida e fica no quinto andar, o pavimento dos executivos, onde três mordomos estão à disposição dos hóspedes, assim como tradutoras bilíngues. O hotel tem também fitness center, quadra de tênis na cobertura, centro de convenções, bar, dois restaurantes, além de lojas e florista.
Crédito:Luiz Affonso
Autor:Redação
Fonte:O Globo