Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Glaucoma: a doença tem caráter hereditário, mas é possível prevenir o seu aparecimento

Dia 12 de março: Dia Mundial de Combate ao Glaucoma (veja o site oficial: http://www.wgday.net/). A iniciativa é da Associação Mundial do Glaucoma e da Associação Mundial de Pacientes de Glaucoma.

  

No mundo todo, aproximadamente 36 milhões de pessoas cegas poderiam estar enxergando neste momento. São pessoas que perderam a visão em decorrência de cataratas que poderiam ser operadas, retinopatias diabéticas que poderiam ser controladas, glaucomas que poderiam ter sido tratados, dentre outras doenças curáveis e preveníveis. Segundo a OMS, Organização Mundial de Saúde, 80% da cegueira do mundo é curável ou evitável. O problema tem relação direta com as condições sócio-econômicas: 90% das pessoas cegas vivem em países do Terceiro Mundo, onde faltam serviços básicos de prevenção e tratamento ligados à saúde ocular.

Para a oftalmologista Maria Beatriz Guerios, que integra o corpo clínico do IMO, Instituto de Moléstias Oculares, um dos grandes desafios da prevenção do glaucoma é convencer a população que é muito importante ir ao oftalmologista, pelo menos uma vez ao ano, para que a pressão ocular seja medida. “Além disso, os que possuem fatores de risco como hipertensão, diabetes e glaucoma na família devem fazer avaliações visuais, de seis em seis meses, para verificação da curva diária de pressão do campo visual e da gonoscopia”, destaca a oftalmologista. 

Apesar de a maioria das doenças que afetam a visão poder ser tratada ou controlada, como é o caso da catarata, do glaucoma e da degeneração macular, elas ainda cegam os brasileiros por falta de diagnóstico precoce. Na entrevista a seguir, a oftalmologista Maria Beatriz Guerios fala sobre a prevenção do glaucoma, doença que é a principal causa de cegueira definitiva no mundo. 

- Hoje, já sabemos que o glaucoma é uma designação genérica para muitas doenças, marcadas por um aumento da pressão intra-ocular  e causadas pelo desequilíbrio entre a produção e a drenagem do humor aquoso. Quais as causas mais prováveis para o aparecimento desta moléstia?

Maria Beatriz Guerios - A causa da doença está geralmente relacionada há uma drenagem diminuída do humor aquoso através da malha trabecular ou ainda do canal de Schlemm. A doença ocular, séria e progressiva, lesa o nervo óptico, que sem tratamento adequado pode levar à cegueira. O processo da perda da visão periférica é tão lento que, geralmente, o paciente não sente nenhuma alteração.  O melhor remédio que conhecemos até hoje é a prevenção da doença, medida que muitos deixam de adotar porque não acreditam na intervenção precoce ou ‘pensam que este problema não acontecerá com eles’.

- O glaucoma não tem cura, mas o diagnóstico precoce amplia as chances de controle da doença e pode evitar a cegueira. Como é feito o tratamento e controle da doença? 

Maria Beatriz Guerios - O tratamento inclui o uso freqüente de colírios e a cirurgia, em alguns casos. Fundamental é a relação médico-paciente, mais importante fonte de informações para o paciente portador de glaucoma, associada ao acesso a jornais, revistas ou livros. Os oftalmologistas desempenham um papel importante na detecção precoce do glaucoma e na sua desmistificação, pois o desconhecimento sobre a doença e a elaboração de idéias falsas tendem a gerar a falta de participação do paciente no tratamento, agravando o prognóstico visual.

- Como a informação sobre a doença pode contribuir para o tratamento?

Maria Beatriz Guerios - Como os estudos sobre o glaucoma avançaram ao longo dos anos, o acesso às informações atualizadas é fundamental para uma estratégia de prevenção eficaz. A pressão intra-ocular, por exemplo, já não é mais tida como fator indispensável para a ocorrência da doença. O aumento da pressão intra-ocular é considerado um dos fatores de risco. Portanto, no diagnóstico do glaucoma, outros fatores somam-se a ela, acarretando pior prognóstico da doença; dentre estes, o desconhecimento da população a respeito da doença e suas conseqüências visuais. 

- Qual seria a conduta adequada para prevenir o glaucoma?

Maria Beatriz Guerios - Visando a prevenção do glaucoma, é muito importante ir ao oftalmologista, pelo menos uma vez ao ano, para que um exame oftalmológico completo seja realizado.  Além disso, os que possuem fatores de risco como hipertensão, diabetes e glaucoma na família devem fazer avaliações visuais, de seis em seis meses, para verificação da pressão do campo visual e do fundo do olho. Para ter um bom prognóstico, o glaucoma depende essencialmente do diagnóstico precoce e da prevenção. A única forma segura de evitar suas conseqüências é fazer consultas periódicas com o oftalmologista, ele está preparado para medir a pressão intra-ocular, bem como examinar o nervo óptico por meio do exame de fundo de olho. Havendo suspeita de glaucoma, ele poderá solicitar exames de campo visual para verificar sua possível diminuição.

- Quais os exames que auxiliam o oftalmologista no diagnóstico do glaucoma?

Maria Beatriz Guerios - Dependendo da suspeita, o oftalmologista pode solicitar exames de imagem para auxiliar no diagnóstico. O OCT conta, hoje, com tecnologia suficiente para fornecer uma análise transversal do nervo óptico, o que é muito importante para acompanhar pacientes com hipertensão ocular e a própria progressão do glaucoma. A tonometria é apontada como um exame essencial também, pois é capaz de rastrear o aparecimento do glaucoma. Ao medir a pressão ocular, por meio do tonômetro, o oftalmologista pode detectar a presença de hipertensão ocular, que pode ou não ser diagnosticada como glaucoma, de acordo com alterações no campo visual e na papila óptica. Feitos com cuidado e regularidade estes exames podem auxiliar a identificar os pacientes saudáveis e os que já apresentam os primeiros sinais de danos glaucomatososos.

- Como o fator genético interfere no aparecimento do glaucoma?

Maria Beatriz Guerios - A aquisição do conhecimento sobre a importância da hereditariedade é muito importante para alertar descendentes sobre o risco de desenvolver o glaucoma, doença de caráter hereditário. Por isso, em famílias de portadores de glaucoma há a necessidade que todos façam os exames preventivos. Crianças que nascem com os olhos embaçados ou muito grandes, que têm fotofobia intensa, que evitam abrir os olhos no sol ou não gostam de claridade e cujos olhos lacrimejam muito, precisam ser avaliadas por um oftalmologista. Estes sinais podem ser indício de glaucoma congênito. Esta é uma patologia rara, transmitida por herança genética e está relacionada às alterações no desenvolvimento ocular presentes no nascimento. O diagnóstico e o tratamento do glaucoma congênito precoces podem evitar que as crianças fiquem cegas ainda no primeiro ano de vida. 

- Qual o papel do paciente portador de glaucoma no tratamento da doença?

Maria Beatriz Guerios - Em todas as doenças, pacientes bem informados apresentam mais comprometimento com o próprio tratamento. No caso de glaucoma, especificamente, onde os tratamentos são prolongados, sem compreensão da sua finalidade e importância pelos pacientes, torna-se difícil a adesão ao tratamento. O glaucoma progride lentamente e afeta, de maneira irreversível, a visão de cerca de 900 mil brasileiros, segundo dados da Abrag, Associação Brasileira dos Amigos, Familiares e Portadores de Glaucoma. Para não ficarem cegos, os portadores de glaucoma precisam usar, por toda a vida, remédios que, muitas vezes, devem ser aplicados mais de uma vez por dia. 

- Então, a adesão do paciente é fundamental ao processo terapêutico?

Maria Beatriz Guerios -  O glaucoma é uma doença que, por suas características clínicas e por seu prognóstico visual requer comprometimento do paciente com o tratamento. Trata-se de uma doença crônica que deve receber acompanhamento e tratamento prolongados. A falta de adesão ao tratamento pelo paciente é uma causa importante de controle inadequado de pressão intra-ocular. São muitos os pacientes em tratamento que deixam de pingar os medicamentos antiglaucomatosos corretamente. É de extrema importância a manutenção e o reforço das orientações médicas durante todo o tratamento, pois assim como a diabetes e a hipertensão arterial, o glaucoma não tem cura, mas é passível de controle, garantindo a qualidade de vida do paciente.

- Como caminham as pesquisas em busca de novas drogas para tratar os pacientes glaucomatosos? 

Maria Beatriz Guerios - Novas drogas para o tratamento do glaucoma estão sendo pesquisadas em todo o mundo. O principal objetivo da Medicina é procurar por mecanismos diferentes para reduzir a pressão ocular e proteger o nervo óptico. Como promessas, podemos citar, a curto prazo, as associações de medicamentos que já são empregados no tratamento da doença. E a médio e longo prazos, respectivamente, as apostas da Oftlamologia estão em novas drogas que possam funcionar como neuroprotetoras e na utilização de células tronco no tratamento da doença.


SERVIÇO:

IMO – Instituto de Moléstias Oculares
Endereço: Avenida Ibirapuera, 624.
São Paulo-SP
Telefone: (11) 5573 6424
Site: www.imo.com.br
E-mail: imo@imo.com.br

Crédito:Cris Padilha

Autor:Márcia Wirth

Fonte:Universo da Mulher