A anorexia nervosa é uma doença psiquiátrica que se caracteriza pela falta de apetite na maior parte do tempo induzida pelo indivíduo (a pessoa se recusa a comer) que culmina em desnutrição severa e taxas de mortalidade acima de 21%.
Mais incidente a partir da puberdade, este distúrbio alimentar é mais comum em mulheres, mas o número de homens acometidos da doença vem aumentando a cada ano.
O surgimento da doença se dá após algumas tentativas de dieta, onde o indivíduo passa a considerar o alimento um inimigo, agressor, que só o destrói e estraga seu corpo engordando a imagem no espelho.
Negar a comida passa a ser uma solução viável para atingir a imagem desejada, que no espelho tem muitos quilos a mais. Essa deformação da imagem se dá pelo comprometimento que esta pessoa tem do esquema corporal, ou seja, o corpo que ela imagina é infinitamente diferente do que existe na realidade.
O corpo que este indivíduo passa a emagrecer é o que está na fantasia e, como este emagrece muito pouco e nunca está perfeito - pois o nível de exigência é muito alto - passa a definhar.
O que percebemos é que existe ao nível de estrutura emocional um déficit importante de auto-estima somado a um grande sentimento de desvalia, que faz com que muitas pessoas entendam que, para serem aceitas, precisam de uma imagem perfeita, passando a hipervalorizar este aspecto.
Este último século valorizou e firmou a imagem como um dos grandes pilares do sucesso.
Os meios de comunicação passaram a divulgar um padrão de beleza que servia muito mais para mostrar roupas e não vestir roupas.
Comparados aos manequins de plástico, os corpos de proporções perfeitas começaram a habitar a fantasia de adolescentes que queriam ser aceitos, amados e mais do que isso, valorizados.
Nada mais justo para este adolescente querer somar esforços para ficar igual à imagem da revista, mesmo que para isso tenha que abrir mão de sua saúde e de alguns prazeres, como comer.
A bulimia é um a doença coadjuvante, muita vezes, da anorexia. Depois de dias sem se alimentar ou se alimentando muito pouco, a pessoa pode ter um ataque compulsivo alimentar e depois se valer de algum comportamento compensatório como provocar o vômito ou tomar uma dose exagerada de laxante para se livrar da comida.
Com o tempo, o anorético passa a considerar um exagero a quantidade pequena de alimento a mais do que julga necessário para se manter e assume a atitude compensatória indiscriminadamente.
Prisioneiro de sua fantasia, a pessoa acaba também se valendo das drogas para dieta para suportar tanta privação e acaba viciada neste procedimento por ingerir quantidades maiores do que as recomendadas pelos médicos.
Na Anorexia Nervosa o indivíduo pode recorrer a uma variedade de técnicas para estimar seu peso, que vão desde pesagens excessivas, medições obsessivas de partes do corpo, até ficar repetidamente se olhando no espelho para checar sua gordura.
Para a família dos adolescentes, ou mesmo para os parceiros e amigos, é muito difícil abordar a pessoa com uma doença dessas. Normalmente o indivíduo nega todo e qualquer questionamento que lhe façam, adotando às vezes uma postura agressiva ou extremamente irritada.
O melhor caminho então é procurar uma ajuda especializada para ser orientado quanto a melhor maneira de ajudar ou abordar este indivíduo.
O tratamento adequado para esta doença envolve psicólogos, nutricionistas, psiquiatras e endocrinologistas.
É uma doença perigosa, difícil de ser tratada e quanto mais cedo o indivíduo procurar ajuda, mais rápido poderá se tornar uma pessoa tranqüila e feliz.
Toda doença é resultado de um processo, não acontece da noite para o dia, portanto, precisamos ficar atentos aos exageros de cuidados, preocupação e zelo com a imagem ou impressão que desejamos que os outros tenham de nós, pois estes fatores, aliados à solidão e tristeza, podem nos levar a doenças que sempre nos farão sofrer e muito.
Ser bonito e desejado pelos outros depende muito do que achamos de nós mesmos.
Silvana Martani é psicóloga da Clínica de Endocrinologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo - CRP06/16669
Crédito:Eleonora Chagas
Autor:Silvana Martani
Fonte:Materia Primma