As mulheres que acham que menstruar é coisa do passado já podem ficar mais tranqüilas. Acaba de ser publicado um estudo brasileiro na revista norte-americana Contraception que comprova que o uso contínuo da pílula anticoncepcional tem os mesmos efeitos na mulher que a pílula tomada com pausa mensal. Segundo o coordenador do estudo, Dr. Rogério Bonassi Machado, alguns médicos acreditavam que o uso contínuo poderia deteriorar o perfil metabólico das usuárias. O estudo mostrou que não, e confirmou que a pílula contínua se comporta da mesma maneira do que a usada com pausas, podendo ser uma boa alternativa de contracepção, afirma o médico ginecologista e chefe do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Além disso, a taxa de amenorréia (ausência de sangramento) foi crescente a partir do terceiro mês de tratamento, atingindo 81%.
Não é nova a discussão sobre a necessidade da pausa mensal durante o uso de contraceptivos orais combinados. Ela acompanha a pílula desde o início da sua utilização, na década de 60. Muitas mulheres, porém, ainda acreditam que o sangramento tem alguma função, como tentar aproximar ao ciclo menstrual natural, limpar o organismo dos hormônios, certificar que não engravidou e prevenir o sangramento inesperado. Segundo o organizador do estudo, porém, nenhuma dessas razões têm comprovação científica.
Para as mulheres que consideram o sangramento mensal indesejável, seja por sintomas apresentados nesse período ou até por questões pessoais, a contracepção contínua pode ser uma opção segura, segundo o estudo realizado na Faculdade de Medicina de Jundiaí. Durante a pesquisa, não foram observadas alterações no peso e na pressão arterial das pacientes; houve baixa incidência de efeitos adversos; a taxa de amenorréia (ausência de sangramento) foi crescente a partir do quarto ciclo de observação e atingiu 81% ao final. Houve redução nos níveis de LDL (colesterol ruim) e aumento do HDL (colesterol bom) e triglicerídeos; houve aumento não significativo nos níveis de insulina e manutenção da glicemia. Em conclusão, pôde-se demonstrar que o uso contínuo da associação etinilestradiol 30 mcg/gestodeno 75mcg, por 24 semanas, associou-se a efeitos clínicos satisfatórios, com manutenção dos níveis pressóricos e do peso corporal; a alterações metabólicas semelhantes às observadas em usuárias de pílulas com pausas mensais e a elevada taxa de amenorréia após o terceiro ciclo de tratamento, afirma o Dr. Rogério Bonassi.
A pílula de uso contínuo testada no estudo foi o Gestinol 28, produzido pela Libbs Farmacêutica há cerca de três anos. É indicada para mulheres que querem interromper a menstruação por um período determinado ou para tratamento dos sintomas da menstruação, como cólicas muito fortes, enxaqueca e tensão-pré-menstrual. O Dr. Rogério Bonassi explica que além de evitar a gravidez, a adoção da pílula anticoncepcional de uso contínuo minimiza os incômodos da menstruação e diminui os riscos de doenças como endometriose e câncer de ovário.
O estudo, denominado Aspectos clínicos e metabólicos da associação contraceptiva
etinilestradiol 30 mcg / gestodeno 75 mcg em uso contínuo, foi desenvolvido por existirem poucos relatos na literatura científica acerca de parâmetros clínicos e do impacto metabólico em usuárias de pílulas contínuas por longo período. A pesquisa envolveu 45 voluntárias, com idade entre 18 e 35 anos, durante 24 semanas (seis meses), o maior período de estudo realizado com esse método anticoncepcional.
Mais benefícios comprovados
Um outro estudo realizado com o Gestinol 28, apresentado no 8º Congresso da Sociedade Européia de Contracepção em Edimburgo, na Escócia, comprovou mais um benefício deste tipo de medicamento: ele é eficaz na prevenção da endometriose, uma doença que atinge uma em cada dez mulheres no mundo todo. O estudo, realizado no Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (CEPARH), em Salvador (BA), mostrou que 38% das mulheres operadas de endometriose que não utilizaram o contraceptivo voltaram a apresentar cistos endometrióticos, enquanto no grupo tratado com Gestinol 28 não houve nenhuma recorrência. O estudo prova que é possível tratar as dores e prevenir a recorrência da endometriose a partir de um método simples, barato e com poucos efeitos colaterais.
Para as mulheres que sofrem com as indesejáveis cólicas menstruais, a pílula anticoncepcional de uso contínuo também pode ser uma boa opção de tratamento. Sua eficácia foi comprovada em outro estudo clínico, também realizado no Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (CEPARH), em Salvador (BA). O coordenador do estudo, Dr. Hugo Maia Filho, professor do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e diretor de pesquisas do CEPARH, explica: O uso de anticoncepcionais orais bloqueiam o ciclo hormonal natural e a ovulação, o que impede a produção excessiva das prostaglandinas. Esta substancia, produzida pelo endométrio (parte interna do útero que se descama durante a menstruação), a partir do estímulo dos hormônios ovarianos, em excesso, está relacionada com o aparecimento das cólicas menstruais dolorosas. O estudo revelou que o uso contínuo da pílula Gestinol 28 (gestodeno associado ao etinilestradiol) reduz em mais de 80% os níveis de prostaglandinas no sangue menstrual, comprovando sua eficácia no tratamento das cólicas.
Crédito:Ana Carolina Prieto
Autor:Ana Carolina Prieto
Fonte:Segmento Comunicação Integrada