Recentemente tive oportunidade de conhecer criações de moda do jovem Dener Dalla Rosa, de Ijuí, no Rio Grande do Sul, onde nasceu, mora e estuda Artes Visuais na Unijuí. Seu nome traz na memória o Dener Pamplona de Abreu, mas, apesar da ligação com a moda, o nome não passa de uma coincidência. Sua moda causa impressão temática, mas, qual seria o tema? Na verdade, é uma mistura de elementos do passado com extravagâncias atuais – muita extravagância. Por isso mesmo, é uma arte. Roupas que visualmente causariam desconforto físico pelo tamanho, o peso, a exacerbação de cores e tecidos; mas, no conjunto, tudo combina: as cores combinam, os drapeados, até os espartilhos e plumas. Misturas, muitas misturas: "Adoro o clima de sonho, de fantasia", declara Dalla Rosa. O estilo de Dalla Rosa para suas coleções fantasiosas representa a máxima (máxima mesmo) capacidade da mulher em enfeitar-se, em ser notada – muito, muito notada. Assim, como uma obra de arte, que atrai o espectador e está sujeita a elogios e críticas, a criação de Dalla Rosa sempre atrair olhares. Através de sua criatividade, podemos deduzir que não são todas as mulheres que usariam uma criação dele. Mas a culpa não é de ninguém. É uma questão de personalidade, de temperamento. Para Dalla Rosa, a roupa tem de refletir o temperamento de quem usa e, antes, de quem a cria.
Dener Dalla Rosa apresenta quase uma moda de teatro, é uma espécie de moda surrealista baseando-se em mitologias, reinos e todas as fantasias possíveis de exuberância. Aparecem muitos bordados, plumas, rendas, combinações de cores em tecidos plissados, paetizados, perfurados, rendados. Sempre uma surpresa. Assim é o estilo Dalla Rosa de criar moda, e diverte-se com isso.
Numa atualidade onde os grandes "maestros" da moda internacional apresentam criações cada vez menos complicadas buscando facilitar, Dalla Rosa aposta na extravagância baseada na profusão de tecidos e cores e no exotismo. Porque, para Dener Dalla Rosa, a moda continua sendo essencial, mas jamais deixará de ser uma arte.
Neste bate-papo Dalla Rosa fala sobre sua criatividade e limitações, seus ídolos e sonhos. E também revela seu desejo e admiração pela alta costura.
Neste bate-papo Dalla Rosa fala sobre sua criatividade e limitações, seus ídolos e sonhos. E também revela seu desejo e admiração pela alta costura.
JAMILL – Quando e como você se interessou por moda?
DENER – Minha mãe é dona de um ateliê, então, sempre a vi criando, costurando.... sempre estive rodeado de roupas, máquinas de costura, linhas, tecidos, bordados e como sempre gostei de desenhar, ficava imaginando como vestir as clientes da minha mãe. Então, desenhava roupas para elas, até que minhas criações começaram chamar a atenção não só da minha mãe, mas delas [das clientes] também.
JAMILL – Sua família apoiou quando você decidiu criar moda?
DENER – Sempre! Principalmente minha mãe, meu pai, e até a minha irmã, que sempre me pede para desenhar roupas para ela. Interesseira! [diverte-se]
JAMILL – Sempre acontece, no Brasil, de novos estilistas, especialmente os autodidatas, serem vistos com desdém por grande parte dos profissionais da moda. Por quê?
DENER – Talvez pelo medo da concorrência! Afinal, é muito fácil copiar as tendências internacionais, adaptá-las ao nosso clima tropical e se dizer estilista! Infelizmente, isso acontece com a grande maioria dos que se dizem estilistas aqui no Brasil. Por esses motivos, e por gostar de ser diferente, decidi criar minha própria moda, com estilo próprio, livre de tendências momentâneas. Eu não sigo modismos, mas minha própria linha de evolução. Dener é eterno, é glamouroso, é magnífico! Já dizia Coco Chanel [Ícone da moda]: "A moda passa, o estilo fica".
JAMILL – Você acha que a maioria dos estilistas autodidatas têm mania por extravagâncias ou isso é um preconceito?
DENER – Acho que isso depende muito do estilo e do gosto de cada estilista. Adoro isso, estilistas que tem personalidade, que acreditam em si mesmos e na sua moda, que tem coragem de ousar! Sou assim.
JAMILL – Quem da moda internacional o influenciou ou influencia?
DENER – A extravagância de Paul Poiret e John Galliano, as cores de Christian Lacroix, o luxo do New Look de Dior e Conrado Segreto, a dramaticidade de Torrente, a irreverência de Vivienne Westwood, o erotismo glamouroso de Versace e a personalidade de Dener Pamplona de Abreu (mesmo ele sendo brasileiro, não poderia deixar de citá-lo).
JAMILL – Qual o diferencial na moda que você cria?
DENER – No Brasil, o simples fato de querer fazer alta costura, já seria um grande diferencial e o fato da minha alta costura ser extremamente luxuosa, também. No exterior, acho que o diferencial da minha moda seria o exotismo. Minhas criações tem influência do mundo inteiro: penas, plumas, estampas de onça pintada e as cores do Brasil. Turbantes, egretes, transparências e a riqueza do oriente, espartilhos, rendas, bordados, fitas e brocados da Europa, e assim por diante. Já percebi que, nas minhas coleções de verão, o meu estilo tende mais para Versace, sexy e glamouroso, mas nas coleções de inverno, sou mais John Galliano e Christian Lacroix, extravagante e luxuoso. Mas não gosto muito de me comparar a nenhum deles, pois sou Dener, sou único. Nos últimos meses, analisando minhas coleções, cheguei a uma síntese do meu estilo de criação: silhueta bem definida, saias e vestidos estilo sereia, espartilhos, bordados e drapeados, adornos e acabamentos em pele e plumas (no inverno), exotismo (inspiração no Egito, Grécia e outras civilizações antigas), nacionalismo, uso de jóias pesadas, e a reutilização de diversos itens da indumentária, como chapéus, luvas, regalos, etc.
JAMILL – E a vida na cidade pequena?
DENER – Insuportável. Tediosa. Opressora. Limitada. Por favor, alguém me salve daqui! [diverte-se]
JAMILL – Como você vê o incentivo aos novos estilistas no Brasil?
DENER – Incentivo? Isso existe?!
JAMILL – Fazer sucesso no mundo da moda é questão de ter boas idéias, dinheiro ou oportunidade?
DENER – Acho que em primeiro lugar, é ter boas idéias e oportunidade. O dinheiro vem depois, como resultado do sucesso. Idéias e talento eu tenho de sobra, bem como vontade de aprender. O que me falta é uma oportunidade. Porque, quando isso acontecer, a moda brasileira não será mais a mesma!
Contato com Jamill: jamillbarbosaferreira@yahoo.com.br
Ilustrações: Fotografia Dener Dalla Rosa (Arquivo Pessoal). Croqui e apresentação do extravagante vestido verde-esmeralda inspirado na cobiça.
Data: 15/01/2006
DENER – Minha mãe é dona de um ateliê, então, sempre a vi criando, costurando.... sempre estive rodeado de roupas, máquinas de costura, linhas, tecidos, bordados e como sempre gostei de desenhar, ficava imaginando como vestir as clientes da minha mãe. Então, desenhava roupas para elas, até que minhas criações começaram chamar a atenção não só da minha mãe, mas delas [das clientes] também.
JAMILL – Sua família apoiou quando você decidiu criar moda?
DENER – Sempre! Principalmente minha mãe, meu pai, e até a minha irmã, que sempre me pede para desenhar roupas para ela. Interesseira! [diverte-se]
JAMILL – Sempre acontece, no Brasil, de novos estilistas, especialmente os autodidatas, serem vistos com desdém por grande parte dos profissionais da moda. Por quê?
DENER – Talvez pelo medo da concorrência! Afinal, é muito fácil copiar as tendências internacionais, adaptá-las ao nosso clima tropical e se dizer estilista! Infelizmente, isso acontece com a grande maioria dos que se dizem estilistas aqui no Brasil. Por esses motivos, e por gostar de ser diferente, decidi criar minha própria moda, com estilo próprio, livre de tendências momentâneas. Eu não sigo modismos, mas minha própria linha de evolução. Dener é eterno, é glamouroso, é magnífico! Já dizia Coco Chanel [Ícone da moda]: "A moda passa, o estilo fica".
JAMILL – Você acha que a maioria dos estilistas autodidatas têm mania por extravagâncias ou isso é um preconceito?
DENER – Acho que isso depende muito do estilo e do gosto de cada estilista. Adoro isso, estilistas que tem personalidade, que acreditam em si mesmos e na sua moda, que tem coragem de ousar! Sou assim.
JAMILL – Quem da moda internacional o influenciou ou influencia?
DENER – A extravagância de Paul Poiret e John Galliano, as cores de Christian Lacroix, o luxo do New Look de Dior e Conrado Segreto, a dramaticidade de Torrente, a irreverência de Vivienne Westwood, o erotismo glamouroso de Versace e a personalidade de Dener Pamplona de Abreu (mesmo ele sendo brasileiro, não poderia deixar de citá-lo).
JAMILL – Qual o diferencial na moda que você cria?
DENER – No Brasil, o simples fato de querer fazer alta costura, já seria um grande diferencial e o fato da minha alta costura ser extremamente luxuosa, também. No exterior, acho que o diferencial da minha moda seria o exotismo. Minhas criações tem influência do mundo inteiro: penas, plumas, estampas de onça pintada e as cores do Brasil. Turbantes, egretes, transparências e a riqueza do oriente, espartilhos, rendas, bordados, fitas e brocados da Europa, e assim por diante. Já percebi que, nas minhas coleções de verão, o meu estilo tende mais para Versace, sexy e glamouroso, mas nas coleções de inverno, sou mais John Galliano e Christian Lacroix, extravagante e luxuoso. Mas não gosto muito de me comparar a nenhum deles, pois sou Dener, sou único. Nos últimos meses, analisando minhas coleções, cheguei a uma síntese do meu estilo de criação: silhueta bem definida, saias e vestidos estilo sereia, espartilhos, bordados e drapeados, adornos e acabamentos em pele e plumas (no inverno), exotismo (inspiração no Egito, Grécia e outras civilizações antigas), nacionalismo, uso de jóias pesadas, e a reutilização de diversos itens da indumentária, como chapéus, luvas, regalos, etc.
JAMILL – E a vida na cidade pequena?
DENER – Insuportável. Tediosa. Opressora. Limitada. Por favor, alguém me salve daqui! [diverte-se]
JAMILL – Como você vê o incentivo aos novos estilistas no Brasil?
DENER – Incentivo? Isso existe?!
JAMILL – Fazer sucesso no mundo da moda é questão de ter boas idéias, dinheiro ou oportunidade?
DENER – Acho que em primeiro lugar, é ter boas idéias e oportunidade. O dinheiro vem depois, como resultado do sucesso. Idéias e talento eu tenho de sobra, bem como vontade de aprender. O que me falta é uma oportunidade. Porque, quando isso acontecer, a moda brasileira não será mais a mesma!
Contato com Jamill: jamillbarbosaferreira@yahoo.com.br
Ilustrações: Fotografia Dener Dalla Rosa (Arquivo Pessoal). Croqui e apresentação do extravagante vestido verde-esmeralda inspirado na cobiça.
Data: 15/01/2006
Crédito:Jamill Barbosa Ferreira
Autor:Jamill Barbosa Ferreira
Fonte:Universo da Mulher