Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Dener Dalla Rosa

Dener Dalla Rosa
Recentemente tive oportunidade de conhecer criações de moda do jovem Dener Dalla Rosa, de Ijuí, no Rio Grande do Sul, onde nasceu, mora e estuda Artes Visuais na Unijuí. Seu nome traz na memória o Dener Pamplona de Abreu, mas, apesar da ligação com a moda, o nome não passa de uma coincidência. Sua moda causa impressão temática, mas, qual seria o tema? Na verdade, é uma mistura de elementos do passado com extravagâncias atuais – muita extravagância. Por isso mesmo, é uma arte. Roupas que visualmente causariam desconforto físico pelo tamanho, o peso, a exacerbação de cores e tecidos; mas, no conjunto, tudo combina: as cores combinam, os drapeados, até os espartilhos e plumas. Misturas, muitas misturas: "Adoro o clima de sonho, de fantasia", declara Dalla Rosa. O estilo de Dalla Rosa para suas coleções fantasiosas representa a máxima (máxima mesmo) capacidade da mulher em enfeitar-se, em ser notada – muito, muito notada. Assim, como uma obra de arte, que atrai o espectador e está sujeita a elogios e críticas, a criação de Dalla Rosa sempre atrair olhares. Através de sua criatividade, podemos deduzir que não são todas as mulheres que usariam uma criação dele. Mas a culpa não é de ninguém. É uma questão de personalidade, de temperamento. Para Dalla Rosa, a roupa tem de refletir o temperamento de quem usa e, antes, de quem a cria.
 
Dener Dalla Rosa apresenta quase uma moda de teatro, é uma espécie de moda surrealista baseando-se em mitologias, reinos e todas as fantasias possíveis de exuberância. Aparecem muitos bordados, plumas, rendas, combinações de cores em tecidos plissados, paetizados, perfurados, rendados. Sempre uma surpresa. Assim é o estilo Dalla Rosa de criar moda, e diverte-se com isso.
Numa atualidade onde os grandes "maestros" da moda internacional apresentam criações cada vez menos complicadas buscando facilitar, Dalla Rosa aposta na extravagância baseada na profusão de tecidos e cores e no exotismo. Porque, para Dener Dalla Rosa, a moda continua sendo essencial, mas jamais deixará de ser uma arte.
Neste bate-papo Dalla Rosa fala sobre sua criatividade e limitações, seus ídolos e sonhos. E também revela seu desejo e admiração pela alta costura.
                            
JAMILL – Quando e como você se interessou por moda?
DENER – Minha mãe é dona de um ateliê, então, sempre a vi criando, costurando.... sempre estive rodeado de roupas, máquinas de costura, linhas, tecidos, bordados e como sempre gostei de desenhar, ficava imaginando como vestir as clientes da minha mãe. Então, desenhava roupas para elas, até que minhas criações começaram chamar a atenção não só da minha mãe, mas delas [das clientes] também.
 
JAMILL – Sua família apoiou quando você decidiu criar moda?
DENER – Sempre! Principalmente minha mãe, meu pai, e até a minha irmã, que sempre me pede para desenhar roupas para ela. Interesseira! [diverte-se]
 
JAMILL – Sempre acontece, no Brasil, de novos estilistas, especialmente os autodidatas, serem vistos com desdém por grande parte dos profissionais da moda. Por quê?
DENER – Talvez pelo medo da concorrência! Afinal, é muito fácil copiar as tendências internacionais, adaptá-las ao nosso clima tropical e se dizer estilista! Infelizmente, isso acontece com a grande maioria dos que se dizem estilistas aqui no Brasil. Por esses motivos, e por gostar de ser diferente, decidi criar minha própria moda, com estilo próprio, livre de tendências momentâneas. Eu não sigo modismos, mas minha própria linha de evolução. Dener é eterno, é glamouroso, é magnífico! Já dizia Coco Chanel [Ícone da moda]: "A moda passa, o estilo fica".
 
JAMILL – Você acha que a maioria dos estilistas autodidatas têm mania por extravagâncias ou isso é um preconceito?
DENER – Acho que isso depende muito do estilo e do gosto de cada estilista. Adoro isso, estilistas que tem personalidade, que acreditam em si mesmos e na sua moda, que tem coragem de ousar! Sou assim.
 
JAMILL – Quem da moda internacional o influenciou ou influencia?
DENER – A extravagância de Paul Poiret e John Galliano, as cores de Christian Lacroix, o luxo do New Look de Dior e Conrado Segreto, a dramaticidade de Torrente, a irreverência de Vivienne Westwood, o erotismo glamouroso de Versace e a personalidade de Dener Pamplona de Abreu (mesmo ele sendo brasileiro, não poderia deixar de citá-lo).
 
JAMILL – Qual o diferencial na moda que você cria?
DENER – No Brasil, o simples fato de querer fazer alta costura, já seria um grande diferencial e o fato da minha alta costura ser extremamente luxuosa, também. No exterior, acho que o diferencial da minha moda seria o exotismo. Minhas criações tem influência do mundo inteiro: penas, plumas, estampas de onça pintada e as cores do Brasil. Turbantes, egretes, transparências e a riqueza do oriente, espartilhos, rendas, bordados, fitas e brocados da Europa, e assim por diante. Já percebi que, nas minhas coleções de verão, o meu estilo tende mais para Versace, sexy e glamouroso, mas nas coleções de inverno, sou mais John Galliano e Christian Lacroix, extravagante e luxuoso. Mas não gosto muito de me comparar a nenhum deles, pois sou Dener, sou único. Nos últimos meses, analisando minhas coleções, cheguei a uma síntese do meu estilo de criação: silhueta bem definida, saias e vestidos estilo sereia, espartilhos, bordados e drapeados, adornos e acabamentos em pele e plumas (no inverno), exotismo (inspiração no Egito, Grécia e outras civilizações antigas), nacionalismo, uso de jóias pesadas, e a reutilização de diversos itens da indumentária, como chapéus, luvas, regalos, etc.
 
JAMILL – E a vida na cidade pequena?
DENER – Insuportável. Tediosa. Opressora. Limitada. Por favor, alguém me salve daqui! [diverte-se]
 
JAMILL – Como você vê o incentivo aos novos estilistas no Brasil?
DENER – Incentivo? Isso existe?!
 
JAMILL – Fazer sucesso no mundo da moda é questão de ter boas idéias, dinheiro ou oportunidade?
DENER – Acho que em primeiro lugar, é ter boas idéias e oportunidade. O dinheiro vem depois, como resultado do sucesso. Idéias e talento eu tenho de sobra, bem como vontade de aprender. O que me falta é uma oportunidade. Porque, quando isso acontecer, a moda brasileira não será mais a mesma!
Contato com Jamill: jamillbarbosaferreira@yahoo.com.br
 
Ilustrações: Fotografia Dener Dalla Rosa (Arquivo Pessoal). Croqui e apresentação do extravagante vestido verde-esmeralda inspirado na cobiça.
Data: 15/01/2006

 

Crédito:Jamill Barbosa Ferreira

Autor:Jamill Barbosa Ferreira

Fonte:Universo da Mulher