Rio de Janeiro, 30 de Outubro de 2024

Trabalho e maternidade

Veja quais os principais desafios de conciliar a carreira e a maternidade

A maternidade por si só já é desafiadora para as mulheres, mas isso é ainda pior para as que decidem continuar no mercado de trabalho após a gravidez.

A grande maioria das empresas não recebe bem essas mulheres da forma que deveriam e elas enfrentam muitos obstáculos para se manterem trabalhando e maternando.

Em vez disso, são questionadas a todo tempo com perguntas do tipo: “Quem vai cuidar dos seus filhos?” ou “Como você teve coragem de deixar ele tão pequeno aos cuidados de outra pessoa?”.

Essas mulheres, além de não receberem o apoio que deveriam, ainda são julgadas por serem mães e mesmo assim continuarem trabalhando, sejam cargos como gestão de frotas, a funcionárias da limpeza.

De acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, quase metade das mulheres que tiram licença maternidade deixam o mercado de trabalho após 24 meses.

Ainda segundo essa pesquisa, cerca de 50% dessas mulheres são demitidas após dois anos do período de licença maternidade. As empresas descartam essas mulheres muitas vezes por achar que a maternidade vai atrapalhar na profissão.

Vale lembrar que a Lei 14.020 garante que as mulheres devem ter estabilidade de emprego desde a confirmação da gravidez até os 5 meses após o parto.

Mas muitas vezes após esse período são encaminhadas para a empresa de exame demissional sem nenhuma causa aparente, ou seja, demitidas sem justa causa.

Esse dado também traz uma reflexão de como mulheres que já têm filhos, quando estão atrás de uma oportunidade de emprego, muitas vezes são barradas em entrevistas após informarem que são mães.

É comum que nas entrevistas de emprego tenha um questionário em que se pergunta se a mulher tem filhos e muitas vezes isso não é questionado para os homens.

Isso deixa evidente como toda carga, responsabilidade e cobranças da sociedade e principalmente do mercado de trabalho recai sobre as mulheres.

Muitas mães acabam largando o mercado de trabalho devido a todos os obstáculos, ou em algumas vezes decidem empreender como autônoma para ter mais flexibilidade com o cuidado dos filhos.

Ou algumas vezes também optando pelo home office, onde pode trabalhar de casa e continuar com as tarefas da maternidade.

Sem contar que pode trabalhar de qualquer lugar, como em uma empresa de call center SP, e trabalhar no interior de Minas cuidando dos filhos e da casa.

Tanto para as que decidem continuar trabalhando ou para aquelas que largam suas profissões, a culpa é um sentimento que as ronda.

Seja a culpa por não conseguir dar a devida atenção para as crianças ou a culpa por ter largado a sua carreira para se dedicar à criação dos filhos.

Ambas decisões são muito difíceis para essas mulheres, mas é importante que elas entendam como as carreiras são importantes.

Isso não quer dizer que elas são péssimas mães por voltarem a trabalhar, tirarem uma habilitação para moto ou até mesmo começar uma nova graduação.

A pesquisadora Kathleen McGinn, da Harvard Business School, liderou um estudo publicado em 2018, onde mais de 100 mil homens e mulheres de 29 países foram entrevistados.

Ela constatou que mães que trabalham criam filhos igualmente felizes como aquelas que não trabalham, ou seja, decidir entre trabalhar ou não é uma escolha muito pessoal de cada pessoa, que tem que levar em consideração o seu desejo.

Muitas vezes abandonar a carreira pode gerar algumas frustrações futuras, por exemplo uma mulher que estudou e sempre quis trabalhar em uma assessoria financeira, e ao conseguir o seu objetivo, largar essa profissão pode ser uma escolha difícil e dolorosa.

Pense que a maternidade é um trabalho cansativo e muitas vezes solitário. Ter uma carreira, um emprego faz você sair de casa, conversar com outras pessoas que não falem só de fraldas ou papinha.

É importante que a sociedade e o mercado de trabalho não subestimem essas profissionais, pois a maternidade não tira a capacidade dessas mulheres. Não é porque ela se tornou mãe que sua capacidade profissional diminuiu.

Impactos da maternidade no mercado de trabalho

Existem alguns impactos quando mencionado o papel da mulher no mercado de trabalho e principalmente na sua recolocação como profissional após a maternidade.

Licença Maternidade

Apesar de a lei permitir que as mulheres fiquem até 6 meses afastadas, muitas delas voltam em cerca de 3 meses para suas atividades. O receio de perder seus cargos é um grande fator nessa decisão.

Perdas de oportunidades

Com a maternidade e as barreiras impostas pelas empresas, muitas dessas mulheres abrem mão de oportunidades de promoções, tanto em suas empresas como em outras.

Muitas vezes por acharem que não vão conseguir dar conta das responsabilidades da casa com a rotina do trabalho.

Um exemplo é uma mulher com filho pequeno que, ao ver uma vaga de gestão em uma empresa de armazenagem e distribuição logística, mesmo tendo em vista seus pré-requisitos, acaba desistindo por medo de não dar conta ou ser aceita.

Medo e ansiedade

As mulheres sentem medo ao precisarem fazer alguma solicitação na empresa que envolva seus filhos, seja ir ao médico ou a necessidade de oferecer uma atenção e um apoio maior a essas crianças.

Isso envolve o medo de serem julgadas ou de acharem que é uma desculpa qualquer e com isso podem ficar mal vistas ou serem demitidas, como se os filhos não tivessem importância.

Maternidade solo

Se para mulheres que têm uma rede de apoio, com seu parceiro e familiares, já é difícil conciliar o trabalho e a maternidade, para mães solos isso fica ainda pior.

Fora todo o preconceito e a falta de oportunidades no crescimento profissional, sejam elas secretarias em classificação de arquivos ou guia em museus, as dificuldades enfrentadas são as mesmas.

Essas mulheres têm os desafios diários no cuidado com os filhos, e isso acaba sobrecarregando elas, que têm uma dupla jornada, pois precisam trabalhar fora e em casa, sem contar as dificuldades financeiras que passam para conciliar essas responsabilidades.

De acordo com IBGE, cerca de 61% das mães solos no país são negras e enfrentam a falta de acesso a direitos básicos e muitas vezes estão abaixo da linha da pobreza.

As empresas têm um papel determinante nesse cenário, pois são elas que impulsionam o mercado de trabalho, gerando as oportunidades de carreiras e empregos. Com algumas mudanças elas conseguem tornar esse universo mais aberto com maiores oportunidades.

Pensar em soluções para acolher essas mães é fundamental, como:

  • Recrutamento e seleção sem discriminar as mães;

  • Política que atenda às mães;

  • Inclusão;

  • Expandir os benefícios para as mães.

Receba essas mulheres nos recrutamentos sem o olhar que elas vão largar o trabalho ou serem menos profissionais por causa dos filhos. Crie políticas que permitam uma flexibilidade nos horários, entendendo as suas necessidades.

Inclua essas mães em promoções e planos de carreiras das empresas. Quando essas mulheres retornarem da licença, veja ela como profissional apta, como qualquer um dos funcionários ali presentes.

Existem algumas empresas que já aplicam esse conceito com os seus funcionários. Isso é importantíssimo, pois servem de exemplo para outras organizações façam o mesmo, além de garantir um bem-estar para os seus funcionários e com isso a produtividade ser maior.

Veja a seguir algumas dessas empresas que seguem essa política com os seus colaboradores.

Takeda

Conta com comitês de diversidade, onde os próprios funcionários participam, sendo dois desses comitês com o tema da primeira infância. Toda sua comunicação interna conta com informações e reivindicações de mudanças nos cenários da parental e no apoio à família.

Também organiza diversos eventos para discutir temas relacionados à maternidade e paternidade dos funcionários da empresa.

Cisco

Ela oferece suporte para os pais, mães e para as crianças com licença maternidade e paternidade, considerando quem cuida dessa criança independentemente do gênero.

Conta com salas de amamentação e ferramentas que permitem que seus funcionários possam trabalhar de qualquer lugar, de acordo com as necessidades da vida familiar. As licenças são estendidas até para os avós, que ganham 3 dias para conhecerem os netos.

Santander Brasil

Oferece auxílio-creche e auxílio babá em seus centros administrativos, possuem lactários e bolsas de estudos para crianças que possuem deficiência intelectual, mas esses são apenas alguns dos suportes oferecidos pela empresa.

Sem contar que o apoio à primeira infância é um tema muito discutido e visto com prioridade pelos gestores da empresa.

Apoiar essas mulheres e entender que ser mãe não as deixa menos profissionais, e acima de tudo compreender toda essa responsabilidade que elas carregam é fundamental para as empresas, sejam elas centro de medicina do trabalho ou uma multinacional.

A compreensão desse tema é acima de tudo fundamental para a sociedade como um todo.

Esse texto foi originalmente desenvolvido pela equipe do blog Guia de Investimento, onde você pode encontrar centenas de conteúdos informativos sobre diversos segmentos.

 

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Jennifer Khauffman

Fonte:Universo da Mulher