MULHERES EM TRATAMENTO DE INFERTILIDADE DEVEM SE VACINAR PARA EVITAR DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NA GRAVIDEZ
A recomendação da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva levou em consideração estudo demonstrando que 60% dos ginecologistas e obstetras não pedem o histórico de vacinação das mulheres em idade fértil e apenas 10% recomendam as vacinas do calendário de imunização de adultos. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Imunizações sempre se preocupou com a vacinação das mulheres e gestantes.
Por entender que boa parte das mulheres norte-americanas em idade fértil não está atenta à necessidade de tomar vacinas para manter a saúde e evitar riscos à gravidez, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva publicou em novembro relatório no seu jornal oficial, o “Fertility and Sterility”, recomendando um esquema de vacinação às mulheres em tratamento de infertilidade.
A entidade frisou que a imunização deve ser feita preferencialmente antes da concepção, porque as grávidas não podem tomar vacinas que contêm vírus vivos, como a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e contra varicela e febre amarela.
Recomendou ainda aos médicos investigarem o histórico das pacientes e, quando necessário, prescreverem as vacinas preconizadas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças: a tríplice viral, a tríplice bacteriana acelular (tétano, difteria e coqueluche) e as vacinas contra gripe, varicela, pneumococos, hepatites A e B e meningococo.
A pediatra Isabella Balllalai, vice-presidente da SBIm – Sociedade Brasileira de Imunizações, afirmou que a entidade sempre se preocupou com a vacinação das mulheres e gestantes. “Entendemos que, vacinando a mulher antes da gestação, protegemos também o feto de doenças graves,como a rubéola congênita, que pode ter sérias conseqüências, causar malformações e até a morte fetal”, explica.
A médica lembra ainda que, após o parto, a mãe continua sendo fonte de transmissão para o bebê. “Situações, como a que ocorreu recentemente quando foi ao óbito um bebê de dois meses por coqueluche transmitida pela própria mãe, podem ser evitadas com a vacinação dos pais e de quem mais participar dos cuidados ao bebê“, revela.
O relatório norte-americano ressalta que a imunização antes e durante a gravidez protege a mulher contra doenças potencialmente graves, conferindo ainda resistência a infecções intra-uterinas e imunização passiva ao recém-nascido. A transferência de anticorpos maternos para o feto ocorre ao longo de toda a gestação, atingindo seu ápice nas quatro e seis semanas finais.
A pediatra Lucia Bricks, Doutora em Medicina pela USP e gerente médica da Sanofi Pasteur, divisão vacinas da Sanofi-Aventis, ressalta que os anticorpos da mãe vacinada, antes ou durante a gestação, também são transmitidos pelo leite materno. “O ideal é que a mulher se vacine, amamente o bebê e mantenha em dia o calendário vacinal da criança, conforme a orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria”, diz a médica. Benéfica para todas as crianças, a amamentação é essencial aos prematuros. Como nascem antes do tempo, esses bebês têm menores chances de receber os anticorpos da mãe, durante a gestação, que podem ser recebidos pela amamentação.
A ginecologista Rosa Neme, Doutora em Ginecologia pela USP e especialista em endometriose (a principal doença causadora de infertilidade feminina) explica que "antes de submeter as mulheres a tratamentos para aumentar a fertilidade, é muito importante avaliar seu histórico clinico e de vacinação". Ela afirma que costuma incluir solicitar testes sorológicos para hepatite B e para rubéola, recomendando as vacinas para as mulheres que não têm imunidade contra essas doenças. A dra Rosa afirma que "Normalmente, os ginecologistas não indicam vacinas e só solicitam testes sorológicos quando a mulher já está grávida e existe contra-indicação para algumas vacinas, como a de rubéola, por exemplo".
O médico Afonso Henriques Alves dos Santos, membro da Associação Médica de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, reconhece não ser praxe o ginecologista solicitar o histórico de vacinação de suas pacientes. “O ginecologista não é um vacinador. Eu me considero uma exceção”, pondera. Ele acredita que o advento da vacina contra o HPV está mudando esta situação, mas os médicos ainda carecem de informação sobre imunização. “Se houver um movimento forte de informação, este panorama poderá se reverter”, observa.
A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva argumenta que muitos médicos relutam em vacinar as grávidas porque abortos espontâneos e anomalias congênitas podem ser erroneamente atribuídos à imunização. Para não suscitar essa suspeita, a SBIm recomenda a vacinação das futuras mamães no segundo trimestre gestação, quando o risco de aborto espontâneo é menor.
Os autores norte-americanos afirmam ainda que “a imunização na gravidez deve ser indicada quando os benefícios claramente superarem os riscos”. Eles ponderam que certas circunstâncias podem influenciar a indicação da vacinação da paciente como o serviço militar, viagem a áreas de alta prevalência de doenças, profissões perigosas e a existência de comprometimento do sistema imunológico e doenças crônicas.
A mulher deve ser imunizada prioritariamente antes da gestação, porque são poucas as vacinas recomendadas durante a gravidez – contra difteria, tétano e gripe. “Se houver necessidade, existem vacinas que podem ser administradas por não conterem vírus vivos”, ensina Lucia Bricks. Essas vacinas são contra a hepatite A, hepatite B, poliomielite inativada, raiva, IPV, pneumocócica 23-valente, meningocócica conjugada ou polissacarídica e coqueluche acelular.
CALENDÁRIO VACINAL
Confira as vacinas recomendadas para mulheres em idade fértil e as mulheres que fazem tratamento contra infertilidade, que nunca tiveram essas doenças ou foram vacinadas. É preciso esperar um mês entre a administração das vacinas com vírus vivos e a concepção.
· Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) – A rubéola em mulheres grávidas pode causar malformações fetais como surdez, catarata, glaucoma, problemas cardíacos e neurológicos.
· Varicela - Quando atinge a gestante, pode provocar de 500 a mil lesões pelo corpo. Se o contágio for no primeiro trimestre da gravidez, pode causar desde a malformação do feto (atingindo membros, órgãos e o cérebro) até a morte dele. Se a mãe contrair varicela dias antes do parto, o bebê corre o risco de nascer com varicela neonatal.
· Gripe – As gestantes têm cinco vezes mais chances do que o restante da população de ter pneumonia derivada da gripe. A vacina injetável, feita com vírus inativados (mortos). Mulheres que estarão grávidas, na época de maior circulação dos vírus, devem ser vacinadas, sempre que possível, a partir do segundo trimestre da gravidez.
· Tríplice bacteriana acelular para adultos – (dTap - difteria, tétano e acelular coqueluche) – A futura mamãe e os adultos que vão ter contatos com o bebê (avós, tios e babás) precisam se vacinar contra a coqueluche para protegerem a si próprios e não transmitirem a doença à criança. A coqueluche é mais grave em crianças menores de seis meses, porque ainda não receberam o esquema básico de três doses da vacina. Em lactentes jovens, a doença é capaz de causar pneumonia, insuficiência respiratória aguda e convulsões, que podem levar à internação e provocar paradas respiratórias, com risco de deixar seqüelas mentais e motoras por falta de oxigenação do cérebro. Hoje se recomenda a aplicação da dTpa em lugar da dose de reforço da vacina contra difteria e tétano (dT) em adolescentes. Mulheres que receberam a dT há mais de dois anos podem tomar a dTap, antes da gestação ou após o parto, para evitar a doença e a transmissão ao bebê.
· Hepatite A – Com a melhoria das condições sanitárias no Brasil, boa parte dos jovens cresceu sem ter contato com o vírus da hepatite A, transmitido ao ser humano pela ingestão de água e alimentos contaminados. Dada a essa situação, recomenda-se aos ginecologistas solicitarem os testes sorológicos para verificar se a paciente é ou não imune à hepatite A. As mulheres suscetíveis devem ser vacinadas antes da gestação.
· Hepatite B – É recomendada para homens e mulheres porque a doença é endêmica em boa parte do Brasil. A portadora de hepatite B pode transmitir o vírus ao bebê durante o parto. Até 90% dos filhos dessas mães correm o risco de se tornarem portadores crônicos e ter seqüelas como cirrose e câncer hepático. Embora esteja no calendário oficial de imunização, a cobertura ainda é baixa. Por isso, é importante verificar a situação vacinal da gestante e imunizar todos os recém-nascidos de mães, que não sabem se são imunes à doença, 24 horas após o nascimento.
· Pneumocócica 23 valente - É indicada apenas a mulheres predispostas a doenças pneumocócicas invasivas - com doenças crônicas cardíacas, pulmonares, renais, diabetes, imunodeficiências e desprovidas de baço (por problemas congênitos, pós-cirúrgicos e doenças hemolíticas, como anemia falciforme). Desde outubro de 2008, o Comitê Assessor em Práticas de Imunização dos Estados Unidos passou a recomendar a vacina aos asmáticos e fumantes, entre 19 e 64 anos, porque o tabagismo aumenta o risco de doenças pneumocócicas invasivas.
· Meningócica – No Brasil, a vacina meningocócica conjugada contra meningococo C tem sido recomendada em diversas regiões. Nos Estados Unidos, prefere-se a vacina conjugada contra meningococo A, C, W135 e Y, por seu maior espectro de proteção. Em breve, a Sanofi Pasteur vai introduzir no Brasil essa vacina, indicada a viajantes a áreas endêmicas (Arábia Saudita e região sub-saárica da África). A vacina polissacarídica A, C é indicada a grupos de risco (falta de baço, imunodeficientes) ou, durante surtos e epidemias, para esses sorogrupos, maiores de dois anos de idade.
Crédito:Cris Padilha
Autor:Nora Ferreira
Fonte:Universo da Mulher