Rio de Janeiro, 23 de Novembro de 2024

Síndrome de ciúmes entre os irmãos

Síndrome de ciúmes entre os irmãos

Síndrome de ciúmes entre os irmãos:

uma doença que vai além das brigas e pirraças 

 


Pode parecer medo normal e infantil das crianças pensarem e agirem com receio diante de uma nova criança que chega. Mas, se os pais não tiverem uma atenção especial, o ciúme normal entre irmãos pode transformar drasticamente a vida de dois seres ligados pela mesma carga genética, acarretando em traumas e arrependimento na vida adulta. “Na família, a rivalidade entre os irmãos para conseguir o carinho e a atenção dos pais é a causa mais freqüente dos ciúmes”, explica a médica e psicanalista, Soraya Hissa de Carvalho.

 

Segundo a médica, as crianças começam a apresentar sinais de ciúmes por volta dos quatro anos, pois é nessa fase que elas começam a perceber outras pessoas como rivais. “É possível que o ciúme apareça antes na vida da criança, mas é especialmente nesta idade quando toma forma em ações regressivas e até violentas. Todas as atitudes são para chamar a atenção dos pais e familiares, pois a criança julga estar perdendo o carinho”, explica a médica.

Tanto o irmão mais velho pode sentir ciúmes quanto o mais novo. Isso ocorre com certa freqüência quando o menor vê o mais velho como um rival que sempre faz tudo melhor que ele. De acordo com a médica, o ciúme pode aparecer quando o menor observa que seu irmão mais velho possui certos privilégios que são negados a ele.

Soraya explica que os pais, freqüentemente, manifestam inconscientemente o favoritismo e suas preferências por um dos filhos, o que pode gerar o sentimento de ciúme, rivalidade e competição entre os irmãos.

Manifestação dos ciúmes

A criança que sente ciúme pode manifestar esse sentimento de diferentes maneiras. Sendo agressivo, fazendo tudo que o bebê faz ou, por exemplo, desarrumando a casa para atingir a mãe. “Os sentimentos de uma criança que tem a síndrome de ciúmes para com o irmão são, freqüentemente, contraditórios, indo do ódio ao amor, do querer bem, mas agindo de forma violenta com ele”, explica à psicanalista.

De acordo com Soraya, a criança pode começar a agir de forma regressiva, voltando muitas vezes a fazer xixi na cama, chupar o dedo, não querer comer sozinho, utilizar uma linguagem ou tom de voz infantil. Outras vezes, pode mostrar-se irritado, nervoso e agressivo, opondo-se sistematicamente a tudo relacionado ao irmão. Tem crianças que manifestam seus ciúmes de forma mais ou menos dissimulada, ignorando o irmão ou negando sua presença. Em outros momentos, pode mostrar-se hostil e agressivo ou muito carinhoso, a ponto de abraçar o irmão até machucá-lo.

“O ciúme infantil é um perigo que não pode ser evitado completamente na família, pois é um estado relativamente normal para o desenvolvimento. Quando superado, a criança volta a sentir-se tranqüila é há um avanço no processo pessoal e de maturidade”, conta a psicanalista.  

Soraya chama a atenção para os casos nos quais as crises de ciúmes permanecem e ficam mais intensas, o que pode acarretar em problemas emocionais mais complexos e requerer um tratamento especial. Segundo a psicanalista é muito comum a criança que possui a síndrome de ciúmes do irmão ir além de um beliscão ou um puxão de cabelo. Ela conta que em seu consultório já houve caso extremo de um irmão jogar água quente no outro.

Tratamento

Nesses casos, a melhor forma é o acompanhamento de um profissional. E os pais têm uma ação determinante, tanto para prevenção da síndrome quanto para o tratamento. A médica aconselha que eles tratem as crianças com carinho e cuidado. “Freqüentemente pais e familiares enchem de cuidados o bebê recém chegado e se esquecem dos mais velhos. Outras vezes fazem brincadeiras instigando o sentimento de abandono da criança”, ressalta a psicanalista.

É importante e saudável propor atividades nas quais os irmãos trabalhem em equipe. Desta forma, vão entender que são amigos, que um pode ajudar o outro, que não são rivais como nas histórias de super-heróis, onde um tem que vencer o outro.

Os pais devem elogiar os filhos e valorizar ambos da forma como são. As comparações só prejudicam o relacionamento familiar e gera ciúmes e ressentimentos. “Em geral, quanto mais afetuosos se mostram os pais com seus filhos, menos perigo há de se tornarem crianças ciumentas. Se elas estão satisfeitas pelo afeto que seus pais lhe dão, não terão a inclinação a sentir ciúmes de seus irmãos” finaliza a médica.

Crédito:Cris Padilha

Autor:Liège Camargos

Fonte:Universo da Mulher