Eles já gritaram com você e te colocaram de castigo. E lhe proibiram telefonemas, som e computador.
Também já brigaram com você para tomar banho, arrumar o quarto e fazer as tarefas escolares. Já lhe fizeram comer ervilhas, quiabo e jiló, quando você preferia batatas fritas, refrigerante e bolo de chocolate.
Já desligaram a televisão no último capítulo do filme, o videogame quando o recorde estava para ser batido e fizeram você voltar da festa mais cedo, bem quando aquele beijo estava por acontecer...
Eles também já opinaram sobre seu presente e seu futuro, questionando algumas de suas amizades, desdenhando de seus namoros e sugerindo opções de carreira para sua vida profissional.
E por conta de tudo isso você já lhes respondeu em alto e bom tom de voz. Talvez até já os tenha ferido com xingamentos e gestos obscenos.
Você já bateu com a porta na cara deles, já fez greve de fome e de silêncio, já prometeu fugir de casa, depois sair de casa e depois sair da vida deles.
Já lhes disse não querer e não precisar de opinião, pois você sabe o que deseja e faz. Já os chamou de caretas, ultrapassados, antiquados, atrasados, fracos.
E por inúmeras vezes proferiu a frase: “Vocês não me entendem mesmo!”.
Daí um dia você desperta e percebe que bom sono e boa alimentação fizeram de você uma pessoa mais saudável. Que disciplina e estudo contribuíram com seu desenvolvimento. E que alguns de seus amigos não eram tão amigos assim...
Descobre que idealismo demanda muito esforço e ação para se tornar realidade. E que a experiência é como uma lanterna que desfere um facho de luz que, vindo de trás, ilumina o caminho que se tem adiante.
Neste dia, você descobre que amadureceu. E começa a entender que eles não eram caretas, mas comedidos; antiquados, mas experientes; fracos, mas precavidos.
E começa a enxergar que eles já pegaram você no colo quando chorou. E que já lhe estenderam a mão para atravessar a rua para ir à escola – ou para subir as escadas após o porre de uma noite infeliz.
Percebe que não lhe faltaram roupas para acalentar o frio, ervilhas e também batatas fritas para lhe saciar a fome, medicamentos para lhe proporcionar a cura, livros e cadernos para lhe promover o conhecimento. E carinho, afeto e afago para lhe nutrir de virtudes, moldar-lhe o caráter, ungir-lhe de compaixão.
Talvez você se dê por conta disso tudo no dia em que for deixar de conviver sob o mesmo teto, seja em função de estudos, de uma oportunidade profissional ou simplesmente porque vai casar-se.
Talvez você nunca se dê por conta disso tudo...
Mas espero apenas que você possa refletir a este respeito. E que possa fazê-lo enquanto ainda houver tempo para ao menos agradecer a eles, pessoalmente. A eles, seus pais.
* Tom Coelho, com formação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP, é empresário, consultor, professor universitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br.
Crédito:Tom Coelho
Autor:Tom Coelho
Fonte:Universo da Mulher