Nesta época do ano, quando as famílias estão às voltas com a compra de novos livros e materiais escolares, algumas passam por um problema aflitivo: o filho começa a dizer e repetir que não quer voltar às aulas.
A princípio as mães ouvem e pensam que essa reclamação é passageira, e na maioria das vezes, é mesmo. Porém, em alguns casos,a queixa começa a ganhar proporções inesperadas, quando a criança passa a demonstrar sofrimento e intransigência sobre esse assunto.
A família toda se envolve e cria-se uma situação desgastante, onde não faltam ressentimentos, pois começam as acusações e apesar de todos os esforços, não se resolve nada.
O que acontece com essas crianças, que até o final do ano iam docilmente à escola, demonstrando alegria e bem estar?E com aquelas que queriam mudar de colégio e agora falam em voltar para a escola antiga?E aquela outra que passou brilhantemente para a 5ªsérie e agora, no início das aulas não pode nem ouvir falar do assunto que logo chora?E aquela que de repente diz que não quer ou não sabe mais ler, apesar das constatações do contrário?
Existem muitos fatores em jogo e a primeira coisa que aconselho aos pais, para começar a solucionar o problema é: observem e conversem com seus filhos, na busca das causas reais. Peço ainda, que se lembrem que férias trazem maior liberdade com horários, maior convivência com os irmãos e primos, um relaxamento das exigências com horários e obrigações diárias, maior atenção familiar à criança, já que normalmente os pais (ou ao menos a mãe) estão mais presentes.E como todos gostam disso e como é custoso perder tais privilégios!
È importante recordar também,que mesmo que a escola seja a mesma,a professora ou os professores não o são e é de se esperar que apareça um certo receio pelo desconhecido, ainda mais quando a criança se lembra das frases ameaçadoras do tipo:você vai ver só na 6ª série! No ano que vem a professora vai ser muito mais exigente, etc. E pior é, se forem novos os futuros coleguinhas!
Uma boa parte dos casos se resolve assim, conversando, buscando as razões da criança, que não as consegue expressar e colocando para ela, com afeto e calma, a realidade da situação: a professora desconhecida vai se tornar tão amiga quanto a já conhecida, as dificuldades escolares são graduadas de acordo com a idade e série e todas as outras crianças mais velhas já passaram por isso;os finais de semana vão propiciar de novo esses maravilhosos momentos de encontro familiar,mais amigos vão chegar e se juntar aos antigos,etc.
Entretanto, existe sempre uma parcela de crianças queixosas que continua resistente a mudar esta sua posição.Quando as crianças demonstram medo ou sofrimento na volta às aulas e todos os esforços familiares mostram-se inúteis, é indicado procurar o olhar profissional de quem entende de desenvolvimento infantil, aprendizagem e suas dificuldades:um psicopedagogo.
Na minha prática de consultório psicopedagógico de muitos anos, venho constatado algumas causas mais frequentes para esse problema. Analisando o perfil de estudante da criança queixosa, no material do ano escolar anterior, costumo obter muitas pistas. Por exemplo,há casos, principalmente nos primeiros anos do ensino fundamental, em que a criança recebeu até notas altas, mas por algum motivo o conhecimento adquirido é frágil ou mais empobrecido do que aparentam as avaliações finais. Acontece que um dia, por uma razão qualquer, ela se dá conta que não é tão capaz quanto os pais julgam que ela é ou como ela pensava que bastaria ser para vencer os novos desafios. E aí então, se torna insegura, menos capaz que seus coleguinhas e temerosa do enfrentamento com as questões da escolaridade! E naturalmente procura fugir ou negar a situação que a angustia, o que não leva à solução, mas sim ao agravamento do problema!
Há casos também em que os próprios pais nos procuram pois percebem ou desconfiam que o rendimento do filho é, por comparação, muito inferior ao do priminho da mesma idade e série, que veio passar as férias na casa dos tios. E há situações sérias, em que não cabe dizer que as crianças e a exigência das escolas são totalmente diferentes, pois há fatos inegáveis envolvidos:não ler aos oito de idade ou não conseguir dividir aos dez, não são dados a desprezar realmente!As crianças acabam por perceber essa insegurança, real ou imaginária, dos pais em relação à sua competência em aprender e por receio de fracassarem novamente, acham que resolvem a questão, negando-se a voltar à escola.
Um período de análise do histórico de vida da criança e de sua família , além de algumas oportunidades de observação e intervenção com a criança, permitem ao psicopedagogo encontrar a razão desse problema e o caminho para a sua melhor e mais rápida solução.
* Maria Irene Maluf é Presidente da ABPP- Associação Brasileira de Psicopedagogia Nacional
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Crédito:Luiz Affonso
Autor:Maria Irene Maluf
Fonte:www.abpp.com.br