Em média, 90% das mães de desnutridos não têm a mesma característica. Pesquisa que durou 14 anos aponta importância de se trabalhar o vínculo mãe/filho para tratamento de desnutrição infantil
Mães obesas e filhos desnutridos. Essa incoerência foi uma das constatações da pesquisa que analisou mais de mil casos de desnutrição atendidos por serviços públicos de saúde. Segundo o levantamento, verificou-se que, em média, 35% das mães de desnutridos são obesas ou têm sobrepeso, 53% são bem nutridas e apenas 12% são desnutridas. O estudo atesta que a ausência de vínculo consistente entre mãe e filho é a principal explicação para essa contradição e, portanto, deve ser trabalhada para o sucesso do tratamento da desnutrição.
Percebíamos, ao longo da pesquisa, que algumas mães simplesmente esqueciam de dar suplementos alimentares a seus filhos, mesmo tendo recebido gratuitamente o material, explica o pediatra Fernando José de Nóbrega, responsável pelo estudo e coordenador do Programa Einstein de Nutrição na Comunidade de Paraisópolis (PENC), mantido pela Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein. Portanto, é fundamental envolver as mães para que as intervenções junto às crianças funcionem, completa o médico. O estudo, que se iniciou há 14 anos, envolveu também o Ambulatório de Triagem Pediátrica do Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e o serviço de atenção à saúde da mulher da Secretaria do Estado de São Paulo. O resultado do trabalho está reunido no livro Vínculo Mãe/Filho, da Editora Revinter, lançado nesse mês.
De acordo com o especialista, o vínculo mãe/filho, considerado nato, pode sofrer alterações em função de diferentes influências biopsicossociais, ou seja, fatores psíquicos, sociais e culturais têm importante contribuição nesse processo, principalmente durante a gestação. Quando essas influências são positivas, o vínculo é reforçado. Uma gravidez planejada; a aceitação de familiares; contatos físico, visual e auditivo com o bebê nos primeiros minutos de vida e amamentação são algumas situações que contribuem para um vínculo forte e positivo. Outra atitude que também reforça a relação, ainda durante a gravidez, é fazer massagem na barriga, conversando com o feto e ouvindo músicas adequadas.
Por outro lado, um vínculo torna-se fraco ou ruim quando há influências negativas como gravidez indesejada, depressão materna, condição financeira instável da família, rejeição de familiares e apatia materna.
No PENC, já implantamos ações educativas que têm como objetivo fortalecer o vínculo afetivo entre mãe e filho. Além de workshops de reeducação alimentar e preparo do alimento, também verificamos ser muito eficazes os grupos de música com a participação dos dois e aulas para que as mães aprendam a fazer massagens nos seus bebês, aponta Nóbrega.
Crédito:Anna Beth
Autor:Mônica Lourenci
Fonte:Andreoli / Manning, Selvage & Lee