Rio de Janeiro, 30 de Outubro de 2024

A chegada do segundo filho

Dicas para que pais e mães acolham as emoções dos primogênitos e, juntos, amenizem os impactos na rotina da família

Muito se fala sobre a chegada de um segundo filho. A teoria é sempre linda e, como psicóloga infantil, já orientei diversos pais sobre o tema, mas reconheço que, na prática, inexiste um “passo a passo” que possa ser seguido por todas as famílias. Eu tenho dois filhos, um com quase 4 anos e outro de 5 meses, então, além da minha experiência profissional, encaro esse desafio no papel de mãe.  

Em geral, as orientações falam sobre a atenção que deve ser dada ao filho mais velho, esclarecem como o tempo dos pais deve ser dividido - embora obviamente o recém nascido demande mais atenção - e assim por diante. Porém, não podemos esquecer que cada criança reage de uma maneira. Algumas crianças regridem, retomam o uso de chupeta e voltam a fazer xixi na cama. Outras ficam tão felizes com a novidade e mal sentem ciúmes. Há também pequenos que, assim como o meu filho mais velho, têm vontade de bater no recém-chegado e, embora não batam, certamente é a maneira que encontram para expressar suas emoções. 

A única certeza que se tem é que a chegada de um novo membro na família mexe com os primogênitos, que antes tinham tudo apenas para eles e, agora, precisam dividir atenção, colo e disposição. Mas e se rolar o ciúmes? Por aqui, o ciúmes chegou em forma de birra. O mais velho quer impor suas vontades em tudo e, quando contrariado, faz um dramalhão. Está sendo necessário muito diálogo e paciência para não ceder. Por exemplo, se ele insiste que quer alguma coisa, explico os motivos da negativa e dou outras opções para que ele aprenda sobre escolhas. 

Dicas práticas

Quer saber o que pode ser feito antes para preparar um filho ou uma filha para a chegada do “novo no ninho”? Faça ele ser parte do processo! Veja como:

1 - Trabalhe a inclusão

O mais importante é fazer com quem o primogênito se sinta incluído. Mostre à criança que ser o irmão mais velho é motivo de orgulho. Deixe que dê opiniões e considere o que ela está dizendo. 

2 - Antecipe mudanças

Tenha paciência com os sentimentos do filho mais velho, não julgue e esteja pronto para ouvir. Se possível, realize todas as mudanças e ajustes necessários na dinâmica da família antes do nascimento do bebê. Dessa forma, você evitará que a criança relacione a chegada do segundo filho com essas alterações.

3 - Observe mais

Esteja atento a qualquer alteração de comportamento da criança e observe suas falas e reações. Lembre-se que os pequenos mal sabem expressar suas emoções, então, as desmonstram por meio de atitudes. Caso a criança comece a reagir mal ao bebê, demonstre agressividade ou desgosto, se isole em momentos com a família, tenha falas que demonstram incômodo em relação ao novo irmão ou irmã, se posicione sempre na defensiva ou reage com ciúmes, isso pode atrapalhar o convívio e o bem-estar de toda a família. Pode ser a hora de buscar ajuda profissional de um psicólogo(a). 

4 - Converse sempre

É necessário também avaliar como anda o desenvolvimento da criança em todos os aspectos, ou seja, como está seu rendimento na escola, se tem conflitos frequentes com os colegas de sala, familiares ou outras crianças. As crianças podem apresentar mudanças comportamentais e socioemocionais em outras situações. Nesses casos, o melhor caminho é conversar, tentar entender o que aconteceu, como se sentiu, etc. 

Apesar das sugestões acima, vale lembrar que não há uma “receita” universal que seja sucesso em todos os lares. O que existe é entender o que seu filho está sentindo e precisando, o que pode ser colo, pode ser mais tempo com a mãe, com o pai ou até mesmo com os avós. Pode ser também ficar mais perto do irmão que, às vezes, pode estar cercado de cuidados e, sem querer, afastado do convívio com o irmão. 

É óbvio que o cansaço da mãe é gigantesco nos primeiros meses, mas um olhar acolhedor para que a recepção do novo membro seja harmoniosa e sem “tumulto” pode fazer toda a diferença nessa fase inicial. “Ah, mas isso é muito cansativo!”. Sim, tenho certeza que é, mas se você deseja criar um adulto saudável, dedique-se a ressaltar na sua fala e comportamento que a chegada do irmão ou irmã não muda o relacionamento com os pais e  que cada filho será amado da mesma forma. 

 

* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Helen Mavichian

Fonte:Hercog Comunicação