Rio de Janeiro, 19 de Abril de 2024

Entre o ideal e o objetivo na vida social

Entre o ideal e o objetivo na vida social
A sociedade só é transformada a partir de idéias (e ações), via de regra, isoladas, que ganham vulto pela aderência de simples simpatizantes até ferrenhos seguidores.
 
Tal fato parte da lógica de que as pessoas pensam de forma diferente, e mais do que isso crêem de maneira divergente umas das outras e, portanto, possuem perspectivas variadas sobre a vida.
 
Com efeito, os pensamentos são desenvolvidos em uma pessoa e podem crescer na dimensão social caso ele seja aceito pelo seguinte, por imposição em alguns casos e por consenso em outros.
 
Do singular é possível se estender ao plural. Mas é preciso estar atento, visto que um único preceito, muitas vezes, não consegue atender a tamanha diversidade, limitando a satisfação geral.

Cabe analisar este fenômeno na esfera do trabalho, pois tal situação é aplicável em algumas fases do desenvolvimento profissional.
 
Vejamos, quando a pessoa se encontra na juventude lhe é pertinente possuir altos ideais acerca de seu papel colaborador para com a sociedade, como dedicar tempo e elaboração de projetos aos demais, compartilhar atenção e amor, etc.
 
Com o passar do tempo, no entanto, vê-se comumente isto se modificar, levando grossa parte da população a desistir deste tipo de missão que a inspirou outrora em detrimento da praticidade causada pelo estreito caminho de sobrevivência existente: a objetivação.
 
De condições particulares baseadas em diferentes pontos de vista, o que resulta nesta mudança é a massificação de impressões.
 
Em outras palavras, os ideais perdem terreno para a aceitação (passiva na maioria das vezes) da objetividade material.
 
É claro que as necessidades básicas como fome e segurança carecem de atendimento prioritário e ninguém deve brincar de faz-de-conta com a implacável realidade. Todavia, nem por isso deve-se abandonar o ideal.
 
A transformação de oito para oitenta impede a grata chance de convívio com os benefícios gerados neste tipo de empreendimento.

No início da carreira profissional a pessoa carrega uma chama viva relacionada ao seu crescimento, e nele encontra-se agregado o propósito de colaboração altruísta.
 
É uma revolução diante dos fatos egoístas (tem a sua importância também pela reação que provoca) presenciados no dia-a-dia.
 
Contudo, o peso desencadeado pela impressão mais comum leva à desistência da causa particular. Por exemplo, muitos médicos que sonharam com a relevância de seu papel na saúde e se imbuíram do juramento hipocrático (é um guia maravilhoso se bem observado), abandonaram os ideais e em seu lugar exaltaram outros fatores de ordem puramente objetiva.

Percebe-se, inclusive, que qualquer oposição que tente resgatar o velho brilho idealístico é motivo de piada. Entretanto, pouco se reflete sobre se mesmo em condições bem satisfatórias de conforto conquistado, cuja imposição de se atender às necessidades foi mais do que alcançada, é possível retomar antigas aspirações. Parece que não na prática, pois a objetividade demonstra nunca findar em suas demandas.
 
Ao citar a classe médica quis sublinhar esta categoria por sua extraordinária importância na sociedade, e, devemos ampliar tal ponderação aos demais profissionais, que, se carregados de vontade e conhecimento, podem multiplicar a cooperação através de idéias e realizações além de sua conhecida rotina.

As questões centrais são: Por que se intimidar e se limitar por razões sociais que apenas impressionam?
 
O que impede verdadeiramente de se atender a objetividade e também ao ideal?
 
Neste caso, creio que o gasto energético em direcionar os esforços numa direção se assemelha ao gasto da sua contenção ao não utilizar a energia em outro foco de igual prestígio. Embora enxerguemos o cotidiano na sua dimensão real, não significa que o aceitemos assim.
 
Quanto mal-estar pode machucar a nossa intimidade em relação à discordância sobre as questões sociais e a nossa visão sobre o assunto, baseados em antigos e renunciados ideais (ou quem sabe, ainda vivazes)?

Não obstante, o fenômeno aqui descrito depende diretamente de cada um e nele repousa a possibilidade de maiores e melhores mudanças sociais.
 
Cada pessoa já encontra ou descobrirá em si o desejo ardente que a motive a contribuir e a se sentir mais humana e feliz no projeto de participação individual e comunitária.
 
Se a crença assentada na impressão geral é a de que nada se pode fazer, então o jogo está determinado à lentidão e aos minguados resultados.
 
Do contrário, se a luz da sabedoria e a chama do desejo estiverem presentes, até a mais difícil partida poderá ser subjugada e tornar-se exemplo para novas e cruciais transformações de intenção tanto objetiva quanto de ideal.
 
 
 
Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo e diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas. É professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. E-mail: selfcursos@uol.com.br

 

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Autor:Armando Correa de Siqueira Neto

Fonte:Universo da Mulher