Rio de Janeiro, 23 de Abril de 2024

Eu bebo sim

Eu bebo sim

Branca, envelhecida, com infusão de ervas, gelada ou ao natural. As mulheres estão aprendendo cada vez mais a apreciar o sabor da cachaça.

À frente da produção, comercialização ou apenas como simples consumidoras, elas têm chamado atenção como apreciadoras da bebida.

E, embora volta e meia sintam o preconceito rondar, assumem com orgulho a admiração pela mais brasileira das bebidas.

As amigas Luana, Rita, Rafaela, Fernanda e Rafaela são admiradoras da cachaça com aditivos

Criada em Lorena, interior de São Paulo, Marion Brasil, 26 anos, cresceu vendo o pai, médico, beber as cachaças que recebia de presente.

“Sempre foi uma coisa normal para mim. Não gosto de cerveja e bebo cachaça pura. Mas não é só o sabor que conta, cada marca é cheia de histórias”, diz ela, conhecedora de uns 70 tipos diferentes.

Trabalhando há nove meses como cachacier – o equivalente a sommelier, especialista em vinhos – do Giuseppe Grill, Marion conta que ainda percebe alguns olhares estranhos quando diz sua profissão. “Tem o machismo e o fato de as pessoas associarem cachaça ao bêbado do boteco”, lamenta ela.

Cachaceira assumida – mas do bem, que fique claro –, Marion conta que quase sempre é a bebida que embala as reuniões em casa com as amigas e até na sua bolsa há resquícios de seu gosto: o gloss é sabor caipirinha.

Renata Quinderé trabalha há 18 anos com cachaça: “A mulher perdeu o medo de provar”

Também cachacier – aliás, ela e Marion são as únicas no Brasil –, Fernanda Nepomuceno, 41 anos, quando pequena fazia a travessura de lamber a biquinha do alambique escondida.

Designer, ela abandonou a profissão há menos de um mês para se dedicar ao ofício de indicar cachaça para os freqüentadores do bar Mangue Seco, onde trabalha.

“Quando viajo, sempre vou em busca da cachaça do lugar e nunca sofri preconceito. E olha que vou a muito pé-sujo”, admite ela, que já provou umas cem marcas. No trabalho, tem colocado muita gente para beber. “No outro dia uma senhora finérrima disse que essa história de cachacier é ‘très chic’”, diverte-se.

Dona da Academia da Cachaça há 18 anos – ao lado de Edméia Falcão e um sócio – Renata Quinderé, 42 anos, passou por situações engraçadas quando seus filhos eram pequenos.

“Quando perguntavam o que a mãe dele fazia, diziam que eu era cachaceira”, lembra, sem se incomodar com o rótulo.

“Eu curto, gosto, bebo e vejo que a mulher perdeu o medo de provar cachaça”, diz, sem perder o pé na realidade.

“Ainda hoje se saio com meu marido e pedimos uma cachaça e um refrigerante, o garçom sempre serve a cachaça para ele.”

 

Crédito:Flávia Motta

Autor:Flávia Motta

Fonte:O Dia