De acordo com o médico psiquiatra e nutrólogo Frederico Porto, a adoção de novos padrões de comportamento resulta da repetição de ações até que sejam assimiladas pelo cérebro e ocorram de modo automatizado
Hábitos são padrões de comportamento humano que se tornam naturalizados por via da repetição.
Escovar os dentes pela manhã é um hábito comum à maioria das pessoas, assim como tomar banho diariamente, almoçar por volta do meio-dia e jantar no período noturno.
Tomando a neurociência como base teórica, o médico psiquiatra e nutrólogo, Frederico Porto, explica que a repetição de determinadas ações estabelecem no cérebro vias sinápticas mais rápidas que acionam a seguinte sinapse e daí por diante, o que transforma o comportamento do indivíduo em algo irrefletido, automatizado.
Obviamente nem todos os hábitos são benéficos à saúde.
Há aqueles que sabemos que são prejudiciais, como fumar, comer comidas cheia de açúcar, o sedentarismo, e muitos outros que podem levar a problemas de saúde em um período curto ou a médio e longo prazo. De acordo com Porto, para modificar hábitos que considera nocivos, o indivíduo precisa aprender a dominá-los.
Esta transformação passa pela reprogramação cerebral, impulsionada pela adoção de novos comportamentos. “Conforme os preceitos da neurociência, o seu cérebro se reorganizará e transformará esses novos comportamentos em hábitos”, explica.
O processo para domínio e modificação dos hábitos deve se iniciar, segundo o médico psiquiatra, pelo reconhecimento dos padrões comportamentais que levam a determinados hábitos. Dessa forma, a pessoa precisa refletir e ter ciência de quais ações está levando a cabo durante o dia que a fazem agir sempre da mesma maneira automaticamente.
Conforme Porto, outro ponto muito importante na tentativa de fazer o cérebro adquirir novos hábitos é compreender um conceito da psicologia e da medicina chamado ganho secundário. Grosso modo, ele pode ser definido como os benefícios que mesmo um hábito nocivo oferece a uma pessoa, fazendo com que ela tenha um desejo inconsciente de continuar na situação em que se encontra.
“Por pior que seja o comportamento, ganhamos algo com ele, que, na maioria das vezes, não percebemos”, diz.
Então, conforme o nutrólogo, é essencial no processo de mudança de hábito que a pessoa busque se conscientizar deste ganho secundário, para posteriormente inserir novos padrões que acredita serem mais benéficos a si mesmo, em sua rotina. Segundo Porto, esse movimento deve ser feito de forma gradativa, em um ritmo lento, para que a mente consiga se adaptar da melhor maneira possível à nova situação, assimilando inclusive a perda do ganho secundário.
Porto sugere algumas dicas para que a assimilação de novos padrões e consequentemente novos hábitos ocorra de maneira mais fluida e eficaz.
Primeiramente, o psiquiatra recomenda que a pessoa mapeie a rotina diária; tenha uma boa ideia das ações que realiza durante o dia. O segundo passo é inserir nesta rotina a atividade que deseja virar hábito de uma maneira fácil, sem que sejam necessários grandes esforços para realizá-la. “Se você quer começar a praticar atividade física com regularidade, não adianta se matricular em uma academia distante de sua casa ou do seu trabalho, porque a dificuldade de locomoção tornará a tarefa muito mais complicada”, explica.
A terceira dica é bem simples: é preciso começar. Ou seja, não adianta ficar planejando e postergando as mudanças, sempre em busca do momento ideal. Porto orienta as pessoas a começarem, mesmo que com pequenas atividades, de poucos minutos. “O que interessa é fazer continuamente – todos os dias de preferência – de maneira consistente”, destaca. O psiquiatra explica que são a ação e a repetição que irão fazer o cérebro entender e aceitar os novos padrões comportamentais”, diz.
Porto ressalta que romper com um hábito ruim e substituí-lo por padrões comportamentais mais positivos à saúde física e mental é, em última análise, uma questão de reconectar seu cérebro com estas novas práticas, naturalizando-as à medida em que o comportamento é repetido diversas vezes.
“Quanto mais realizamos uma ação ou nos comportamos de determinada maneira, mais elas ficam fisicamente conectadas ao cérebro, formando hábitos. Ação, comprometimento, consistência e paciência são as habilidades necessárias para construir hábitos melhores e deixar os nocivos para trás”, conclui.
Sobre Frederico Porto
Formado em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com especialização em psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da mesma universidade, apresenta ainda a formação de nutrólogo pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Atua como professor convidado da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, e consultor sênior associado a consultorias internacionais. É palestrante in company e autor de dois livros.
Crédito:Luiz Affonso
Autor:Patrícia Jimenes
Fonte:Jimenes Comunicação