Rio de Janeiro, 19 de Abril de 2024

Emoções eu também vivi ...

 

EMOÇÕES, EU TAMBÉM VIVI...

Houve um tempo em que se namorava realmente

 e  muito mais intensa e apaixonadamente.

E se pensava

 que se sofria muito, 

só por amor e só de amor, é claro.

E, as paixões nasciam se acendiam,

embaladas pelas músicas do momento,

que faziam parte integrante,

do dia a dia , de nossas vidas.

 

E nas festas, que todos nós, íamos nessa época ,

os olhares procuravam e se cruzavam,

enquanto os homens perguntavam

 ou diziam para as jovens,

durante os bailes:

"se você quer ser minha namorada,

 ai que linda namorada você

poderia ser"...

 Aí,  o nosso coração se derretia

 e era hora de ir ao banheiro

com um amigo, só para contar

o que estava acontecendo...

Uma bebidinha daqui, muitos sorrisos dali,

 e na décima vez que tocava o disco

de "Metais em Brasa", de Ray Conniff",

de "Romanticos de Cuba" o ambiente

 ficava, cada vez mais, leve e romantico.

E quando se colocava os discos de

Vinicius, de Carlinhos Lyra, de Tom, de Ivan Lins,

 e se chegava no trecho "mas se em vez

de minha namorada você quer ser minha amada,

minha amada, mais amada pra valer",

e ela nos olhava de longe,

desta vez dando a entender,

 que estava interessada, o nosso coração

só faltava sair pela boca.

 

E, alguns anos e muitos amores depois,

foi a vez de Roberto e Erasmo Carlos

participar de todos os nossos romances:

 "Você foi o maior

dos meus casos, de todos os abraços,

o que eu nunca esqueci"

 Ah, e aí surgia uma boa dor-de-cotovelo

 ouvindo Roberto e Erasmo.

E quem nunca passou por isso

não sabe o que é viver...nem amar...

E num início de caso , em altíssima voltagem, 

 entrava Chico com "quero ficar no teu corpo

 como tatuagem"  e quem não queria?

E, no fim do caso, dava para agüentar

"as marcas de amor dos nossos lençóis"?

  Sim, de dia ouviamos muita música e, à noite, 

 íamos sempre ao mesmo bar,

uma "Fossa" da vida

ou íamos ao Beco das Garrafas,

onde um pianista, como Sergio Mendes, tocava

e, as vêzes,Elis Regina, Dolores Duran,

Maysa, Nara Leão, e tantas outras rainhas

e princesas da noite, cantavam,

com amor, o que tínhamos

 ouvido a tarde inteira...

E, como todos se conheciam e sabiam das vidas

uns dos outros, pianistas como Vinhas

 e outros  nos deliciavam, quase sempre ,

tocando  e atacando as "nossas" músicas...

Sim,  ouviámos todas elas e, sempre, era tocada

aquela que fazia o nosso coração

 bater mais rápido!

E a noite prosseguia com os nossos olhos grudados

na porta da boite, para ver se ela,

a nossa deusa, entrava.

E se ela entrasse sozinha, era hora de disfarçar

 e puxar conversa com uma amiga,

só para fazer ciúme.

 Sim,  éramos ingênuos e infantis...

mas, também, éramos amantes,

romanticos e cavalheiros...

Respirávamos fundo e jurávamos,  de pés juntos,

 que não íamos nem olhar para o lado dela.

Mas a madrugada se encarregava

de mudar os nossos planos.

 

Depois, surgiu o "Deixa em paz meu coração,

 que ele é um pote até aqui de mágoa".

Sim, as músicas diziam tudo

o que nem sempre tínhamos

coragem de dizer.

 Era como se falassem por nós.

E que jovem mulher, ainda adolescente,

nessa época, não cantou baixinho,

 depois que seu namorado foi embora,

"quando você me deixou, meu bem,

me disse pra ser feliz e passar bem",

e não fantasiou que quando ele ouvisse

"e tantas águas rolaram,

tantos homens me amaram,

 bem mais e melhor que você"

ele não iria, imediatamente, pensar nela...

E quem sabe ele sofreria...

E quem sabe teria uma crise de ciúmes

 e pegaria o telefone de madrugada,

para ligar para ela,

declarando o seu grande amor?

Quem sabe... quem sabe?

 

E quando um de nós se "enrolou" todo com a chegada

 de um namorada que não esperava e ficou

repetindo o disco, no trecho que dizia

"se na bagunça do teu coração",

para ver se ela entendia que o coração dele,

às vezes, virava mesmo uma verdadeira bagunça...

Ah, Chico, ah, Roberto, ah, Marcos e Paulo Sergio Valle

 e tantos outros, que nos brindaram com músicas

que surgiram do céu, será que vocês algum dia

souberam que tinham sido tão importantes

na nossa vida?

Pois fiquem sabendo: foram.

E nesse tempo as moças não levavam os namorados

 para dormir em casa, ou porque tinham pais

ou porque tinham filhos.

 Para isso havia os motéis  na Barra,

 o Dunas , o PlayBoy, o Mayfloyer,

 o Hawai , o Kings

e tantos outros que foram palco

de lindas histórias de prazer e de amor.

E da primeira mulher e do primeiro motel

a gente nunca esquece...

A cama redonda com cabeceira de curvin, a piscina,

 uma banheira de 2 X 2 , o som embutido na cabeceira

e, sobretudo, o clima, um clima de pecado

e de proibido que as moças da zona sul

 e da Turma do Pier, em Ipanema, adoravam. 

E, quando Roberto cantava

"Amanhã de manhã vou pedir um café pra nós dois,

 te fazer um carinho e depois te envolver

nos meus braços" e ela deixava

"o café esfriando na mesa,

esquecemos de tudo" e vinha o "pensando bem,

 amanhã eu não vou trabalhar, e além do mais,

temos tantas razões pra ficar",

não era preciso dizer mais nada...

Era a hora do telefonema da nossa namorada

para a empregada, às 6 da manhã para que ela

desmanchasse a cama e dissesse que ela saiu

 cedo para buscar uma amiga no aeroporto, lembra?

Sim, grandes e saudosos tempos que,

infelizmente, acabaram e não voltam mais...

Hoje a gente olha para trás e pensa:

mas esses amores e essas paixões

aconteceram e existiram mesmo?

Sem Chico e sem Roberto/Erasmo

teriam havido tantas,

tão intensas e tão arrebatadoras?

Delas a gente até esqueceu,

 mas não do que se sentia

 ao ouvir "mas eu estou aqui vivendo

 este momento lindo".

E dá para viver momentos lindos hoje,

ouvindo os Racionais MC,  os falsos Roqueiros

ou o barulho de metais, de gritos

e de vozes desafinadas

 que inundam as rádios e as tvs

sem que exista neles e nelas ,

mais nenhuma poesia e nem romantismo?

Pensando bem, o grande combustível

de nossos corações foram as canções romanticas

 da década de 60/70 de Chico, de Tom, de Vinicius,

  de Roberto/Erasmo e de tantos outros

 que escreviam letras e cantavam as músicas 

com suas almas e o coração.

E, olhando para trás, é bem possível que tenhamos

a  certeza de que "se chorei ou se sofri,

o importante é que emoções eu vivi"

não existiria sem a música/letra

 de Roberto e de Erasmo.

Sim, foi bom demais ter vivido esse tempo.

Pena que não exista uma Ilha da Fantasia

onde pudessémos voltar no passado 

para reviver cada um desses momentos,

 únicos e mágicos, de nossas vidas...

Pena, mesmo...

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Jorge Garcia

Fonte:Universo da Mulher