Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 2024

Amante Argentina

“Os líderes de amanhã sabem compartilhar o poder,

a informação e o compromisso.”

(Flávio Kosminsky)

 


 

Uma das maiores dificuldades atuais das empresas está na chamada retenção de talentos. Após investirem em recrutamento, seleção e treinamento de seus profissionais, assistem a muitos deles se desligarem seduzidos que são ora por um salário maior, ora por benefícios, ora pelo status conferido pelo nome da organização ou pelo título do cargo oferecido.  

Acrescente-se a este aspecto a crença propalada, em especial ao longo das últimas duas décadas, de que uma carreira de sucesso constrói-se através de múltiplas experiências profissionais em diferentes companhias.

 

Pesquisa realizada entre julho de 2006 e julho de 2007 pela Korum Consultoria, especializada em transição de carreira, indicou que o tempo médio de permanência em uma mesma empresa é de quatro anos, para executivos de alta e média gerência, e 2,7 anos, para supervisores e especialistas.

 

Lembro-me de um tempo em que o profissional confiável e competente era aquele que não passava por mais do que uma ou duas empresas até sua aposentadoria. Hoje isso é visto como sintoma de acomodação, apontando para obsolescência, aversão ao risco, falta de dinamismo e ambição.

 

Abomino rótulos, generalizações e paradigmas. Verdades absolutas, tidas inquestionáveis, que obscurecem o pensamento, turvam a razão. Onde está escrito que esta rotatividade de empregos é necessária ou mesmo saudável? Por que não podemos edificar uma carreira auspiciosa atuando numa mesma organização, onde conhecemos as pessoas e o ambiente, assimilamos e nos alinhamos à sua cultura, alcançamos prestígio, além de estabilidade e acúmulos salariais?

 

Estamos equivocadamente ensinando aos nossos jovens que uma carreira sólida demanda promiscuidade corporativa, quando o que entorpece e definha o profissional é sua estagnação. É parar no tempo, realizar as mesmas tarefas, deixar de estudar e de aprender. E isso pode acontecer mesmo pululando de uma empresa para outra.

 

Para alcançar o topo da hierarquia, o que vale a pena perseguir é a mobilidade horizontal, conhecendo a companhia integralmente, militando em diversas áreas, compreendendo a sinergia entre os departamentos. No caso de empresas de grande porte, há ainda a possibilidade de migrar para filiais ou outras empresas do grupo, inclusive no exterior. O fato é que enquanto houver desafios e satisfação pessoal, não há motivos para se mudar de emprego.

 

Todavia, se a mudança for fruto de decisão madura decorrente de falta de reconhecimento, clima organizacional desgastado, cabeça batendo no teto ou por força de proposta irrecusável, assegure-se de que, quando o entusiasmo arrefecer e a rotina se instalar, a nova empresa não se mostre uma autêntica “amante argentina”, cerceando sua autonomia, eliminando privilégios e exigindo o comprometimento que um dia você não pôde ou não soube honrar.

 

 


 

* Tom Coelho, com formação em Publicidade pela ESPM, Economia pela USP, especialização em Marketing pela Madia Marketing School e Qualidade de Vida no Trabalho pela USP, e mestrando em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Senac, é consultor, professor universitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting, Diretor Estadual do NJE/Ciesp e VP de Negócios da AAPSA. Contatos pelo e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br. 

 


 

Crédito:Cris Padilha

Autor:Tom Coelho

Fonte:UniversodaMulher