“Duvidar de tudo ou acreditar em tudo
são duas soluções igualmente convenientes;
ambas dispensam a necessidade de reflexão.
(Henri Poincaré)
É muito provável que você tenha ouvido falar de Susan Boyle.
Trata-se de uma senhora escocesa que virou celebridade mundial após apresentar-se num programa de calouros na Inglaterra.
De aparência descuidada, foi inicialmente menosprezada e ridicularizada pelo júri e a plateia até entoar de forma admirável, por alguns minutos, trecho de um musical, com direito a lágrimas e aplausos.
Em tempos de internet, o vídeo de sua apresentação correu o mundo, sendo acessado mais de 100 milhões de vezes ao longo de duas semanas.
Ganhou verbete na Wikipédia, entrevistas em talk shows, contrato para gravação de um CD e cerca de 30 milhões de links no Google.
O sucesso ofuscou caso idêntico ocorrido dois anos antes, no mesmo programa, com o galês Paul Potts, que em circunstâncias similares cantou uma ária de ópera, sagrando-se posteriormente vencedor daquela edição da competição.
Ambos os episódios nos legam alguns ensinamentos e reflexões.
Em princípio, sobre a necessidade singular de críticos em aplicar rótulos.
Assim, houve quem se emocionasse a ponto de eleger os cantores como exemplos de superação, por demonstrarem elevada resiliência ao suportar a animosidade inicial da plateia, encantando-os em seguida.
Mas houve também quem qualificasse tudo como uma farsa, haja vista que os produtores já deveriam conhecer previamente a capacidade dos candidatos.
Do ponto de vista motivacional, os eventos são, sim, louváveis, pois o inconsciente coletivo ganha refúgio em cada um destes personagens por representarem uma aspiração social comum à maioria das pessoas diante da iniciativa de se expor, do enfrentamento do medo de falar em público, do receio de ser hostilizado, da confrontação da baixa auto-estima e, por fim, da conquista do reconhecimento.
Se formos tomar os eventos como produções forjadas para enaltecer os espectadores, mérito de seus organizadores por identificarem os talentos, dar-lhes a oportunidade, construírem um cenário favorável, agradarem os presentes e conseguirem uma exposição na mídia digna de inveja aos maiores comunicadores.
Todavia, que não se obscureça uma verdade irresoluta.
Vivemos uma ditadura da imagem que age como um filtro na vida em sociedade.
Continuamos a ser julgados pela embalagem antes mesmo de ser possível apresentar seu conteúdo.
Esta é a regra, não a exceção, tanto que a própria Susan Boyle apareceu dias depois com visual repaginado, ostentando novo corte de cabelo e trajes bem alinhados.
Que fique uma última lição para o mundo empresarial.
Não cabe a recomendação do “seja você mesmo, ainda que tenha um estilo excêntrico, sem se importar com o que pensam os demais”.
Nos dias atuais, isso seria suicídio corporativo.
Deve-se evitar, é claro, a perda da autenticidade, mas em termos de marketing pessoal, vale lembrar as palavras do publicitário Ckuck Lieppe que dizia: “Aparentar ter competência é tão importante quanto a própria competência”.
* Tom Coelho é autor de “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”, pela Editora Saraiva, além de consultor, professor universitário e palestrante.
Com formação em Publicidade pela ESPM, Economia pela FEA/USP, especialização em Marketing pela Madia Marketing School e em Qualidade de Vida no Trabalho pela USP, é mestrando em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Senac.
Diretor da Lyrix Desenvolvimento Humano, Diretor Estadual do NJE/Ciesp e VP de Negócios da AAPSA. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br.
Crédito:Luiz Affonso
Autor:Tom Coelho
Fonte:www.tomcoelho.com.br