E cá estamos na nossa primeira sexta-feira do mês! Os gatos pretos cruzam as ruas e as bruxas gargalham, preparando suas poções... Mas será que é isso mesmo, ou vivemos apenas mais um produto do imaginário popular?
Misticamente falando, temos um dia mágico a cada dia, variando de culturas e épocas. Todo dia 13 é considerado para os bruxos o coração do mês, um dia em que tudo o que se fizer voltará multiplicado para você. Assim, é um dia indicado a praticar o bem, a fazer o seu melhor e a doar-se mais, como um sábio investimento. Mas, e quando este dia mágico cai no dia mais místico da semana, a sexta-feira?
Dia de Vênus, a sexta-feira prestigia os relacionamentos, o amor, a paixão, o conforto e os prazeres. Ficou conhecido como o dia em que as bruxas voam em suas vassouras embora as bruxas voem quando quer que lhes dê na telha. A sexta-feira ficou conhecida como o dia em que os seres mágicos estão à solta. É o dia do lobisomem, dos vampiros, dos fantasmas e assombrações e, é claro, das bruxas. Não sabemos o que levou as bruxas a escolherem sexta-feira como seu dia favorito da semana (será porque é véspera de sábado e elas podem dormir até mais tarde? Afinal, bruxas tem emprego, filhos e famílias como todo mundo). O que nos chama a atenção aqui é o dia 13, em si.
Na Antigüidade, o número 13 era considerado aziago. Filipe da Macedônia acrescentou sua própria estátua às dos Doze Deuses Superiores. Ninguém sabe ao certo se ele ofendeu os deuses ou se foi uma coincidência, mas o fato é que ele morreu assassinado no teatro logo em seguida. Não podemos deixar de lembrar da Santa Ceia, onde haviam 13 pessoas presentes, sendo um o traidor. No Apocalipse da Bíblia, o 13 º capítulo é o do Anticristo e da Besta, onde as coisas ficam muito loucas enquanto o mundo acaba. A Cabala, por sua vez, enumera 13 espíritos do mal.
Mas há quem veja um simbolismo positivo no número treze. Também na Antigüidade, o décimo terceiro de um grupo era considerado o mais forte, como Zeus, que se assenta ou caminha no cortejo dos doze deuses como um décimo terceiro (segundo Platão e Ovídio). Ulisses também era o décimo terceiro de seu grupo e foi o único que escapou de ser devorado pelo Ciclope. O número 13 também é sagrado para os antigos mexicanos, que o incluíam com destaque na astronomia, no calendário e na teologia. Entre os astecas, era o número do tempo, representando o término de uma série temporal. A semana asteca durava 13 dias (quantos dias será que eles tinham de fim de semana?).
Num sentido cósmico, o 13 é um número desequilibrador, pois simboliza a ação da criatura sobre o ritmo natural das coisas. É considerado excêntrico, marginal, rebelde, pois foge à ordem natural das coisas. É a vontade de um que, do ponto de vista cósmico, só pode provir de uma visão limitada, sobre a ordem estabelecida. Logo, essa vontade individual não estaria harmonizada com a lei universal, uma vez que serve à evolução do indivíduo, mas agita a ordem do macrocosmo. Mas, se a evolução do universo depende intimamente da evolução individual de cada um, não seria o 13 um número evolutivo? Talvez por isso ele seja considerado o número das bruxas e magos, pois a magia interfere diretamente no que já estava estabelecido, numa demonstração clara do uso do livre arbítrio.
Por fim, o treze é também a Morte no tarot, remetendo à mudança, à transformação, um recomeço após a conclusão de um ciclo. A sexta-feira treze une o número das bruxas com seu dia favorito da semana, marcando um momento mágico em que tudo é possível, de acordo com as intenções, e nos lembra que há mais entre o céu e a vassoura do que sonha nossa vã filosofia.
Crédito:Renata Rebesco
Autor:Eddie Van Feu
Fonte:Materia Prima