Rio de Janeiro, 02 de Maio de 2024

Pé chato protege de lesões

Agora é possível indicar exercícios específicos para atletas com esse tipo de pé, para tentarem neutralizar essa
maior tendência a lesões
 
 
 
Durante muitos anos, a maior preocupação dos ortopedistas foi com o tratamento das lesões ligamentares dos joelhos dos desportistas. Ao longo desse tempo, passou-se das cirurgias abertas para as cirurgias videoartroscópicas, o que representou uma fantástica diminuição na morbidade desse tipo de procedimento terapêutico. Além disso, progressos nas técnicas de fixação desses ligamentos permitiram aos pacientes operados uma recuperação confortável a ponto de abandonarem as muletas em torno de uma semana após a cirurgia.

Um maior conhecimento da articulação e das respostas neuromusculares impulsionou a reabilitação fisioterápica destas cirurgias a um retorno às atividades desportivas em torno de 6 meses, algo totalmente impensável há uma década atrás. Em busca de uma recuperação ainda mais rápida, estudos que avaliam o efeito das células tronco nestas reconstruções estão sendo feitos em vários centros espalhados pelo mundo. Entretanto, por mais que aperfeiçoemos tanto as técnicas cirúrgicas como a reabilitação pós-operatória das lesões do ligamento cruzado anterior, nada será comparável, com os benefícios da profilaxia da lesão, pois ela evitará não só os altos custos econômicos do tratamento da lesão, como também as seqüelas psíquicas e suas repercussões no desempenho dos atletas afetados.
 
 
 
Muitos estudos mostraram a influência do tipo de calçado, tênis ou chuteira, na incidência da lesão ligamentar. Outros se dedicaram a investigar a participação do tipo de revestimento nestas lesões, sendo a grama sintética um dos mais propensos a enteorses nos membros inferiores. Foi uma tese apresentada na pós-graduação pelo Dr. Paulo César de César que começou a procurar por correlações entre essas lesões ligamentares do joelho e eventuais alterações antropomórficas nos pés dos atletas que pudessem agir como elementos facilitadores desse tipo de trauma sem contato direto.
 
Segundo o Dr. João Ellera Gomes, orientador da tese, embora houvesse uma tendência de domínio público de atribuir certa culpabilidade ao pé plano, vulgarmente chamado de "pé chato", o que o trabalho constatou foi que este tipo de pé comportou-se como um fator de proteção e não de facilitação dessas lesões. Na verdade, o tipo de pé que apresentou maior correlação com a lesão do ligamento cruzado anterior, foi o pé cavo, aquele tipo de pé que tem uma curvatura exagerada, o oposto do pé chato.

Segundo o Dr. Ellera Gomes, estes achados, por enquanto, nos permitem identificar atletas potencialmente propensos a lesões de não contato do ligamento cruzado anterior, mas não explicam o porquê dessa correlação nem sugerem o que deve ser feito. A partir de agora, temos que sair atrás dessas respostas, diz o Dr. Ellera Gomes. Segundo ele, o próximo foco dessa pesquisa conduzida pelo Dr. Paulo César de César, sob sua orientação, é tentar encontrar as bases anatomofisiológicas que induzem o pé cavo a ser um facilitador de lesões do ligamento cruzado anterior.

Além disso, diz o Dr. Ellera Gomes, é preciso que se busquem alternativas de treinamento físico que não permitam que essas características estruturais se tornem fatores excludentes da prática desportiva de esportes rotacionais.
Assim sendo, através de um intercâmbio entre a UFRGS e o Sport Club Internacional, buscando aproveitar o grande número de atletas em constante treinamento, o Dr. Ellera Gomes, junto com o fisioterapeuta César de Agosto e com o Dr.Guilherme Caputo, do Sport club Internacional, com o apoio do chefe do Departamento Médico, o Dr. Luiz César de Moura, pretendem estabelecer um protocolo de exercícios específicos para atletas com esse tipo de pé, para tentarem assim neutralizar essa maior tendência a esse tipo de lesão.

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Sabrina Ortácio

Fonte:Eliana Camejo Comunicação Empresarial