Rio de Janeiro, 03 de Maio de 2024

Menopausa pode aumentar risco cardiovascular na Mulher

Menopausa pode aumentar risco cardiovascular na mulher
 
As mudanças que ocorrem no organismo da mulher durante a maturidade ainda levantam dúvidas sobre problemas de saúde, corpo, alimentação e sexualidade
 
A menopausa é marcada pelo último ciclo menstrual e o final do período reprodutivo da mulher.
 
As alterações biológicas, psicológicas e sociais são comuns nessa época da vida feminina e podem ser encaradas como o nascimento de uma nova mulher.
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 2030, mais de 1 bilhão de mulheres estarão na menopausa.
 
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) avalia que mais de 13,5 milhões passam pelo climatério atualmente.
 
No Dia Mundial da Menopausa, a Dra. Carolina Ambrogini, médica ginecologista, obstetra e sexóloga, Coordenadora do Projeto Afrodite, do Centro de Sexualidade Feminina da UNIFESP, esclarece as principais dúvidas com relação à prevenção de doenças cardiovasculares e as principais mudanças que ocorrem no organismo feminino na fase mais madura.
 
Quais são as principais mudanças no organismo da mulher quando ela chega à menopausa?

Dra. Carolina Ambrogini - A menopausa começa um ano da data da última menstruação. É um marco do que chamamos hoje de “transição menopausa”, período da vida da mulher caracterizado pela perda progressiva da fertilidade e que acarreta a queda dos níveis de estrogênio, principal hormônio feminino. Podemos classificar as mudanças em genitais e extragenitais. Na genitália observa-se diminuição de pêlos, a mucosa da vagina torna-se mais fina, podendo levar à dor na relação sexual e à diminuição da lubrificação, além de aumento do risco para corrimentos e infecções urinárias por causa da alteração do ph vaginal. Além disso, o útero, as tubas e os ovários diminuem de tamanho. No corpo da mulher há um desequilíbrio do centro de controle da temperatura corporal, o que ocasiona as famosas ondas de calor ou fogachos. Registra-se ainda uma maior ocorrência de doenças do coração, osteoporose, depressão e alterações do sono.
 
A mulher corre mais risco de desenvolver doenças cardiovasculares durante a menopausa?
Dra. Carolina Ambrogini - Quando a mulher entra na menopausa ela perde a proteção cardiovascular oferecida pelo estrogênio. Esse hormônio age nas paredes das artérias promovendo a sua dilatação e também aumenta o colesterol bom, o HDL, que protege contra a formação da placa de aterosclerose. Outras doenças como a hipertensão, o diabetes, o tabagismo e altos índices de colesterol e triglicérides também contribuem para o aumento do risco nessa fase.
 
É verdade que as mulheres apresentam problemas cardiovasculares em idade mais avançada que os homens?

Dra. Carolina Ambrogini - Sim, as mulheres têm a proteção estrogênica até chegar à menopausa, que ocorre em torno dos 50 anos. Após a queda dos níveis de estrogênio no organismo, elas tendem a ter os mesmos riscos cardiovasculares que os homens.
 
Por que ao controlar a hipertensão arterial, diminuí-se o risco cardiovascular?

Dra. Carolina Ambrogini - A hipertensão é um importante fator de risco para as doenças cardiovasculares. Quando descontrolada, aumenta as chances para o infarto agudo do miocárdio e também para o acidente vascular cerebral (AVC). Os níveis normais de pressão arterial variam de pessoa para pessoa, ficando entre 120 e 130 de pressão máxima e 80 de mínima. Quando os níveis ultrapassam 140 de pressão máxima e 90 de mínima, a pessoa pode ser considerada hipertensa e isso também é válido para as mulheres em menopausa.
 
A terapia de reposição hormonal (TRH) é uma opção de tratamento para reduzir o risco cardiovascular?

Dra. Carolina Ambrogini - Para aquela mulher que não tem doença cardiovascular prévia, a terapia hormonal pode ajudar na prevenção, junto com práticas saudáveis de vida. Nesta hora, toda mulher deve ser avaliada de forma individual com relação às suas queixas, fatores de risco e antecedentes pessoais e familiares para que se possa chegar à melhor opção terapêutica. A terapia hormonal, em baixas doses, como é hoje preconizada, pode sim melhorar a qualidade de vida da mulher que sofre com a menopausa.
 
Com a chegada da menopausa, a rotina da mulher deve sofrer alguma alteração?

Dra. Carolina Ambrogini - Quando a palavra menopausa vem à cabeça sempre a associamos com o envelhecimento e com as alterações corporais. A palavra vem com uma conotação muito negativa, que pode diminuir a autoestima das mulheres.  No entanto, é bom lembrar que apesar do corpo estar envelhecendo, a alma está mais madura, mais sábia. A família, na maioria das vezes, já está constituída, os filhos encaminhados e o trabalho consolidado. Percebo que as mulheres que não alteram sua rotina por conta da menopausa, ou que dão pouca importância a ela, têm menos sintomas. O que deve mudar são apenas os cuidados com a saúde e as práticas que promovem o bem-estar. Estes sim merecem ser intensificados, mas a vida deve correr seu fluxo normal.
 
A alimentação deve sofrer alguma modificação nessa fase da vida da mulher?

Dra. Carolina Ambrogini - Sim, como a mulher nessa fase tem uma maior propensão às doenças cardiovasculares, a alimentação deve ser mais saudável. Ela deve se preocupar em ter uma dieta pobre em gorduras de origem animal que elevam o colesterol ruim (que se acumula nas artérias), e rica em gorduras poliinsaturadas, como as presentes nas castanhas, no azeite, na linhaça e nos peixes de águas frias, que aumentam o colesterol bom. Os alimentos ricos em cálcio, como leite e seus derivados, e os vegetais de folhas escuras também não devem ser esquecidos por conta do risco de osteoporose.
 
Praticar esporte pode melhorar a qualidade de vida da mulher na menopausa?

Dra. Carolina Ambrogini - A prática de atividade física é importante em qualquer etapa da vida. Após a menopausa, a mulher tende a ganhar mais peso, pelo metabolismo que se torna mais lento. Além disto, há uma maior tendência à osteoporose e doenças do coração, patologias que podem ser prevenidas com o exercício físico. A prática deve ser orientada por um profissional de educação física para evitar lesões e deve conter uma parte aeróbica e outra de fortalecimento muscular. A atividade física gera bem-estar, melhora a qualidade do sono e mantém a autoestima da mulher em alta, porque ela se sente mais bonita.  
      
Mais sobre risco cardiovascular na menopausa
 
A mulher costuma entrar na menopausa por volta dos 50 anos e é nesta fase que aumenta o risco de acidente vascular cerebral (AVC). Entre as principais causas de AVC está a fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca comum, que afeta principalmente as pessoas na maturidade. De acordo com o Dr. Mauricio Scanavacca, cardiologista do Grupo de Arritmias Cardíacas do Instituto do Coração (Incor, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), cerca de 60% dos pacientes acima dos 75 anos com fibrilação atrial são mulheres. “É uma doença que praticamente não acomete pessoas jovens e está relacionada a fatores como hipertensão arterial, diabetes e doenças cardiovasculares pré-existentes”, afirma Scanavacca.
 
Atualmente, anticoagulantes modernos como a rivaroxabana (Xarelto®, da Bayer HealthCare Pharmaceuticals) estão sendo estudados para a prevenção do AVC nos pacientes com fibrilação atrial. Esse princípio ativo tem um rápido início de ação com uma dose-resposta previsível e alta biodisponibilidade, não exige o monitoramento da coagulação e também possui pouco potencial de interação com  alimentos e outros medicamentos.
 
Recomendações sobre uso da TRH
 
Dos vários tratamentos disponíveis para os sintomas da menopausa, a terapia de reposição hormonal é a mais indicada, pois é a única que demonstra eficácia no alívio dos sintomas (fogachos, insônia, irritabilidade, depressão, atrofia genital, entre outros), protege contra a perda de colágeno e atrofia da pele, conserva a massa óssea e reduz o risco de fraturas por osteoporose com benefícios consideráveis sobre a qualidade de vida das pacientes.
 
O que difere as terapias são os progestagênios, pois cada um traz um tipo de benefício.
 
Entre as terapias disponíveis no mercado, a drospirenona (Angeliq®, da Bayer HealthCare Pharmaceuticals) demonstrou em diversos estudos efeitos significativos na redução da pressão arterial das mulheres, além do alívio dos sintomas da menopausa. Devido à sua propriedade antimineralocorticóide e antiandrogênica, a drospirenona evita a retenção de líquido e o aumento de peso, produzindo efeitos diretos sobre o sistema cardiocirculatório.
 
 
 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Renata Faila

Fonte:Universo da Mulher