Rio de Janeiro, 19 de Abril de 2024

Reciclagem de vida

            
Não sei se a vida se recicla. Não, talvez não.
 
Mesmo se após um tempo de reflexão decidimos mudar nossa vida, seremos sempre nós mesmos no fim.
Mudados, mas nós.
 
Com todas as marcas e cicatrizes  para que não nos esqueçamos do que fomos.
 
Sabemos que jamais poderemos recolar os pedaços das coisas vividas e construir novas.
 
Colchas de retalhos são muito bonitas, mas não passam de colchas de retalhos.
 
Remenda-se panos, recola-se papel ou vidro, mas não se remenda vidas, não se recola momentos passados, coisas que deixamos pra trás.
 
Recomeçar?
Sim.
 
Recomeçar é possível, mesmo (e felizmente!) se já não somos os mesmos.
 
Aprendemos, à custa de dor, mas aprendemos. Não cometeremos duas vezes os mesmos erros, não beberemos a mesma água.
 
Durante anos vivemos como se não tivéssemos outras alternativas.
 
A vida é assim, é o destino.
 
Mas nosso destino, nós fazemos.
 
Nossas prioridades, escolhemos e aprendemos a viver com elas. E só depois, mais tarde, é que nos questionamos sobre o fundamento das nossas escolhas.
 
Há pessoas que acham que é tarde demais para mudar e continuam na mesma linha, mesmo se conscientes de que talvez esse não tenha sido o melhor caminho. Homens e mulheres que se mataram a vida toda para ganhar dinheiro terminam muitas vezes a vida sozinhos, cheios de dinheiro, vazios de amor.
 
E felizes há aqueles que descobrem que ainda é tempo para fazer alguma coisa.
 
E que podem redefinir as próprias prioridades e assumi-las.
 
Vai doer, mas vai valer a pena, porque no fim das contas vamos ter a consciência tranqüila de que tentamos.
 
Um dos piores sentimentos que existem é o de não poder recapturar um momento que gostaríamos que tivesse sido diferente.
 
O eu de hoje não teria feito isso ou aquilo, mas o que eu era ontem não sabia o que sei agora. Se soubesse, teria cometido menos erros.
 
Mas temos um Deus tão bom e tão grande que Ele está sempre nos oferecendo a oportunidade de nos redimir e fazer novas escolhas.
 
E agora?
Agora sabemos.
 
Não vamos pegar atalhos, neles há mentiras. Eles podem ser atraentes, mas nos impedirão talvez de aproveitar as belezas da jornada.
 
O caminho da vida é bonito, é o caminho da Verdade, apesar de ser mais difícil para uns que para outros.
 
Mas é bonito se sabemos tirar o máximo do que é bom.
 
Noites escuras podem nos fazer ver mais claramente as estrelas. Só veremos o nascer do sol se acordarmos cedo.  Coisas simples que a natureza nos ensina.
 
Reciclagem de vida?
Talvez sim.
 
Talvez sejamos, no fim das contas, uma colcha de retalhos da vida.
 
Mas que sejamos então, com dignidade e carácter, uma bela colcha nova enfeitando um quarto, um coração, talvez mesmo muitos corações e muitas vidas, a começar por nós mesmos.
 

Crédito:

Autor:Letícia Thompson

Fonte:Universo da Mulher