Rio de Janeiro, 20 de Abril de 2024

Vício

Ejaculam-se hipóteses, vasculham-se porões, percorrem-se labirintos, tonteia-se em meandros, afoga-se nas ondas, despenca-se de abismos, nada-se contra a correnteza, o rodamoinho te aguarda, a roda da fortuna se distancia, e o vício?
 
O vício, meus caros irmãos, deve ser tratado a pão e água para evitar que reincidas na senda das drogas que tão mal fazem aos traficantes, que só são notados que estão entre nós quando adquirem o poder de Saturno ao decidir sobre o céu e o inferno que nos avizinha. 
 
O vício da bebida, minhas caras brasileiras e brasileiros, escancara a cara inchada de goró que rouqueja a voz, pedindo um cigarro no canto da boca, a empanturrar o ar outrora saudável de nicotina, que já foi pura sem filtro, e empurra com a barriga sua notória infelicidade de não ter realizado um pingo do que sonhou. Não lhe sobrando um pingo de vergonha na cara, apenas o câncer que redime e a cirrose que afaga um tempo inesquecível que não volta mais.
 
Que mal há em jogar uns trocados na corrida de cavalinhos?
 
Que mal há em renovar a esperança em cada páreo?
 
Se o jóquei freou o tempo todo aquela beleza de égua malhada, se o treinador apostou no azarão e jogou contra seu patrimônio, o que há de se fazer se o pôquer dá sopa para o azar, é uma questão de sorte você se dar bem nesse cassino, cuja roleta te deixa tonto, vai tomar dentro do bacará, seu otário, seu fim, que está próximo, é jogar buraco em casa geriátrica e nem assim conseguir o “morto”, pois “bateram” na sua cara com a canastra nas mãos.
 
O vício do sexo é falar do que fez, como faz e tira prazer, medindo na freqüência o que abocanha e suga, para cair de quatro e se ver às voltas com quem exige que dê tudo de si. E você dá, dá tudo o que seu parceiro pedir, pois sexo é isso, é troca, é ter direito a tirar um naco de sua carne para devolver em prazer o que irá aguçar seus olhos, sua ilusão, sua consciência. Daí viciando, viciado resta, e só se fala nisso.
 
O mais sério dos vícios, segundo Marx, é o de pedir dinheiro emprestado, para girar com o suporte dos amigos sua vida tacanha, a responsabilidade pelos seus atos que não assume, por Deus tê-lo feito nascer do jeito que não queria. Quem tem que pagar o pato, pensa, são os que não padecem dessa chaga, transferindo a riqueza material para o pobre de espírito.
 
No mundo paranormal, existe um fenômeno freqüentemente descrito como experiências sobrenaturais, a sensação de flutuar acima do próprio corpo e vê-lo estendido numa cama. Na maioria das vezes, essa viagem astral é associada ao desligamento da alma e elevação do espírito.
 
A ciência acredita que estimulando uma área chamada giro angular, ligada à percepção mental que uma pessoa tem de seu corpo, pode se reproduzir essa sensação extracorpórea, distorcendo imagens como Alice no País das Maravilhas. Um curto-circuito em que também se pode projetar uma cena antes mesmo de ela acontecer, processada como se fosse uma lembrança antiga.
 
O vício busca alcançar essa paranormalidade, mas por ser desmancha-prazeres, apenas o remete ao dia seguinte em que tudo irá começar de novo, nos seus devidos lugares, conforme Deus criou o mundo. Incapaz de captar sinais. Evidências ao alcance de suas mãos, se acreditasse que valia a pena apostar em si, no seu percurso, na capacidade de construir um mundo melhor, sem o quê a vida perde o sentido. E a razão de estarmos aqui só ser descoberta quando for tarde demais para reconstruir tudo fora de seus devidos lugares, conforme Deus criou o mundo.
 

Antonio Carlos Gaio

       

 

Crédito:Antonio Gaio

Autor:Antonio Gaio

Fonte:Universo da Mulher