Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

Os embalos de segunda à noite

Hoje à noite, quando muita gente estiver começando a semana diante da TV, uma (seleta) legião de cariocas vai cair na gandaia. Essa turma sequer se parece com o público que lota bares, boates e restaurantes às sextas e aos sábados: as noites de segunda são para profissionais. A programação circula no boca-a-boca e começa cedo — o que não significa que tenha hora para acabar.

Sair à noite em plena segunda-feira é só para gente que está (realmente) interessada em música de vanguarda, não suporta bar lotado e busca o som de DJs alternativos, que não têm o compromisso de manter a pista cheia. O mito da noite morna na segunda-feira é só isso: mito.

Amigos ligam antes para saber a programação do dia

Dono do bar Seu Martin, no Leblon, Marcelo Azeredo já se acostumou às filas quilométricas, com gente em pé durante toda a madrugada. Tudo graças à festa “Dry Martin”, que ocupa as segundas-feiras do bar há um mês. Apesar da aglomeração, o clima é de ação entre amigos. A maioria dos freqüentadores se conhece.

— É uma noite intimista. Os amigos se encontram sem tumulto. As pessoas me ligam cedo para saber o que vai rolar — conta Azeredo.

Na semana passada, no Seu Martin, o guitarrista Max Vianna tentava explicar o sucesso de uma noite que há pouco tempo se resumia às “segundas sem lei” do Baixo Gávea. Ele faz parte do exclusivo grupo de artistas e produtores culturais que rala nos fins de semana e procura se divertir no início da semana, quando está de folga.

— É quando estou no Rio e aproveito para sair. Venho aqui e sei que vou encontrar amigos — conta.

A cantora Fernanda Abreu elegeu as segundas do Zero Zero, na Gávea, para ouvir boa música e encontrar pessoas interessantes (entenda-se gente como Caetano Veloso, Regina Casé e Marisa Monte). Na semana passada, prestigiou os DJs Kassin e Berna Ceppas, cantou e se divertiu com uma penca de amigos:

— É lá que rolam as novidades musicais no Rio. Que bom que existe um lugar onde se pode experimentar e fazer música sem compromisso.

Disputando espaço entre as mesas do Zero Zero, o DJ Nado Leal, a coreógrafa Débora Colker e a atriz Thalma de Freitas eram pura animação.

— Meus amigos trabalham nos fins de semana. Segunda passou a ser um dia bom para encontrá-los, comer bem, beber e improvisar música. Aqui recebo um santo e um convidado — brinca Ceppas.

É na noite de segunda que os donos de bares sentem-se à vontade para inventar moda e lançar DJs sem correr riscos. É quando Daniel Koslinski, um dos sócios da Casa da Matriz, em Botafogo, recebe desconhecidos para tocar. Em média, 200 pessoas lotam a pista, seguindo o lema da festa: “Comece a semana se acabando.”

— Sexta e sábado são para turistas da noite. Quem gosta mesmo de sair, sai na segunda, que é luxo para antenados. Aqui a segunda traz atrações alternativas. Tenho dois amigos que começaram tocando aqui na Matriz, sem grandes obrigações, e hoje dão festas na cidade inteira — conta Koslinski.

Mas nem só de DJs vive a segunda-feira. Batizada pelo baterista do Barão Vermelho Guto Goffi de “Maracatu jam”, a noite do primeiro dia útil da semana no Severina de Laranjeiras atrai músicos de todas as vertentes. Papito, do Nó em Pingo D’Água, o guitarrista belga Eric Daniel, o baterista Dom Romão e o percussionista Robertinho Silva tocam ali por diletantismo.

— A segunda é o domingo do músico. É quando ele toca por prazer e encontra amigos fora do aeroporto. É tudo na base do improviso — revela Goffi.

No Melt, animação até as 3h de terça-feira

O improviso, aliás, comanda as noites do projeto Ambiente, que acontece duas segundas por mês no Melt, em Ipanema (só para se ter uma idéia do movimento, na última segunda havia reservas de 150 pessoas). Amigo do empresário Marcelo do Rio, sócio do Caroline Café, o ator Rodrigo Pena transformou o segundo andar do Melt num palco de música eletrônica e poesia, sempre com convidados. Quando o projeto Ambiente está fora do ar, DJs como Markinhos Mesquita, Dudu Dub e Gustavo MM se encarregam de animar o povo até as 3h de terça-feira.

— É incrível, mas é a noite em que se consome mais, mesmo sendo mais alternativa. Eu mesmo viro DJ no balcão do Caroline às segundas e recebo convidados como o Jorge Espírito Santo (diretor do programa “Caldeirão do Huck”). Segunda é dia dos amigos — define Do Rio, que inaugura hoje a festa “Segunda sem limite”, com direito a pista de dança, no Caroline do Centro.

Apareça se puder.
 
O mapa da ferveção da segunda

CASA DA MATRIZ Rua Henrique de Novais, 107 - Botafogo. Tel.: 2266-1014 / 2539-9295

CAROLINE CAFÉ Estréia da festa "Segunda sem limite". Rua da Assembléia, 13. Tel.: 2533-4725

MARACATU JAM Guto Goffi (bateria), Mila Schiavo (percussão), Papito (baixo) e Erik Daniel (guitarra) comemoram um ano da jam session.

Severyna: Rua Ipiranga 54, Laranjeiras — 2556-9398. Toda seg, a partir das 22h. Couvert: R$ 6.

MELT Rua Rita Ludolf, 47 - Leblon. Tel: 3686-6465

SEU MARTIN Av. General San Martin 1.196, Leblon. Tel.: 2274-0800

ZERO ZERO Planetário da Gávea - Rua Padre Leonel Franca, 240 - Gávea. Tel.: 2540-8041


Crédito:Anna Beth

Autor:Adriana Castelo Branco

Fonte:O Globo