Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

A melhor herança do verão

A melhor herança do verão
O verão terminou deixando ao menos uma boa herança para a noite carioca. A boate Six abriu as portas em dezembro e não pára de acumular noites memoráveis. Ela fica num endereço improvável. A Rua das Marrecas, entre o Centro e a Lapa, é sombria durante a noite e não tem sequer um botequim bem sucedido. Pois é ali que fica a Six, num velho casarão no número 38. Nas noites mais agitadas, cerca de 1.000 desavisados não conseguem entrar na casa. Do lado de dentro, uma multidão de 1.200 pessoas espalha-se por sete ambientes, três pistas e consome mais de 1.000 latinhas de cerveja a por noite. A Six é uma mistura de castelo medieval e loft novaiorquino que recebe uma fauna diversificada que vai dos moderninhos e descolados, típicos dos bares da Lapa, até as patricinhas, mauricinhos e pitboys da Barra da Tijuca. Um dos pontos altos é o show da banda residente Delírio, que fazia a festa das sextas e que, de três semanas para cá, comanda as noites de quinta. O hit eletrônico Rio de Janeiro leva à loucura a moçada na pista principal.

Entre os proprietários da boate estão a neta do ex-governador Brizola e seu marido, um motoqueiro da gangue dos Hells Angel. Layla Brizola (filha de Neusinha) e Benoni de Oliveira decidiram montar a Six, em parceria com mais dois sócios, no local onde funcionava uma velha adega (ver quadro à página 31). De cara, tomaram a sábia decisão de instalar um super ar-condicionado de R$ 200 mil e 1,2 milhão de BTUs (o suficiente para resfriar cerca de 100 apartamentos quarto-e-sala). Uma dádiva em noites de calor opressivo. Os sete ambientes foram dispostos tortuosamente entre escadarias e três pistas de dança. Em pouco tempo, a casa conseguiu reunir fãs de festas rave, amantes do hip-hop e os onipresentes playboys.

A decoração tem metais oxidados, azulejos, tijolos aparentes, pátinas texturizadas, pedras e monitores de TV com imagens psicodélicas. Os caixas ficam atrás de grades, como numa masmorra. As go-go girls, que volta e meia dão o ar da graça, costumam dançar em jaulas no segundo andar. Acima, no terceiro andar, desenhos feitos pelo grupo Flashback Grafite estampam as poucas paredes brancas e fazem referência ao universo hip-hop. O acesso é feito por uma escadaria coroada com um enorme toldo bem iluminado que dá a sensação de que o dia está amanhecendo, mesmo que o relógio ainda não tenha passado de meia-noite.

Em apenas três meses de vida, a fama do lugar se espalhou tanto que os donos decidiram abrir também às quartas e às quintas. Foi assim que Diana Bouth, apresentadora do Sportv, em parceria com Primo Preto (ou Paulo Brandão), VJ do programa Yo!, da MTV, desembarcaram para produzir a festa Black Six, dedicada à música negra. A quinta-feira foi tomada pela música eletrônica. A festa Delírio na Six reúne o grupo Delírio, formado pelos forrozeiros Duani (do Forróçacana) e Dênis (do Paratodos), e o DJ Renato Bastos. Juntos, eles improvisam com percussão e guitarras em cima das batidas que saem das picapes. Sexta é dia de hip-hop com os DJs Ricardinho NS, Ruan, Saci e Paxson tocando vários hits do movimento. O dia mais cheio é sábado, quando normalmente as três pistas ficam entupidas. A boate cobra caro. Aos sábados, a consumação mínima para homens é de R$ 40. Um valor que paga apenas quatro garrafinhas de Smirnoff Ice, que custam abusivos R$ 9. Em compensação, não é cobrada entrada e se gasta somente o que se consome, por mais caro que seja. Tudo isso atrai uma multidão que vem, em grande parte, da Zona Sul, Barra e Niterói. Gostem ou não, a Lapa já não é mais a mesma.

SIX - Rua das Marrecas, 38, Lapa. Capacidade: 1.200 pessoas. A casa não cobra entrada, apenas consumação.

Black Six, toda 4ª, às 22h. R$ 25 (homem) e R$ 20 (mulher). Com filipeta R$ 15 (homem) e R$ 10 (mulher).

Delírio na Six, toda 5ª, às 22h. R$ 30 (homem) e R$ 20 (mulher). Com filipeta R$ 25 (homem) e R$ 20 (mulher).

Sexta Six, toda 6ª, às 23h. R$ 30 (homem) e R$ 20 (mulher). Com filipeta R$ 25 (homem) e R$ 20 (mulher).

Beats, todo sábado, às 23h. R$ 40 (homem) e R$ 25 (mulher). Com filipeta R$ 35 (homem) e R$ 25 (mulher).

Crédito:Fátima Nazareth

Autor:Bruno Agostini e Luiza Pinho

Fonte:Programa - Jornal do Brasil