Felizes na lama
Bernardo Araujo
Não adianta: qualquer evento ligado à família Medina, para fazer sucesso, tem que ser realizado em um charco. Foi assim com o Coca-Cola Vibezone, que levou cerca de 25 mil pessoas (dez mil pagantes por dia) ao Clube da Aeronáutica, na Avenida das Américas, na Barra, nas noites de sexta e sábado. Motivados por shows do Charlie Brown Jr., O Rappa, Detonautas e outros, os moleques (a idade-alvo era entre 16 e 20, mas muita gente mais nova ainda compareceu) ignoraram a chuva, o difícil acesso (uma ruazinha de terra entre a avenida e o clube, que se estendia por cerca de um quilômetro) e se esbaldaram em atividades como a queda livre, a tirolesa (espécie de teleférico humano, em que a pessoa voava), o grafite e uma oficina de percussão com o AfroReggae.
Fiquei um pouquinho insegura com a chuva, mas logo vi que todo mundo ia se divertir do mesmo jeito dizia Roberta Medina, produtora do festival, feliz da vida na área VIP na madrugada de domingo.
De fato. No sábado, a área que, segundo dizem, originalmente era um gramado estava um lodaçal de fazer gosto, e, não fosse a temperatura (por volta dos 18 graus), o clima de Rock in Rio estaria perfeito, até porque as tendas eram incrivelmente parecidas com as da edição do festival de janeiro de 2001. Uma mini-Cidade do Rock, com pouco mais de dez mil pessoas em vez de cem ou 200 mil. Assim, o público podia circular eventualmente patinando na lama, que ninguém é de ferro à vontade entre o Beijódromo (tenda recheada de sofás onde a garotada namorava, num clima de disputa quem-beijar-mais-gente-ganha), os computadores com jogos de última geração, as lanchonetes, as medusas (máquinas com longos tubos que davam refrigerante de graça em minúsculos copinhos, distribuídos lá mesmo), as oficinas e outros.
Não adianta: qualquer evento ligado à família Medina, para fazer sucesso, tem que ser realizado em um charco. Foi assim com o Coca-Cola Vibezone, que levou cerca de 25 mil pessoas (dez mil pagantes por dia) ao Clube da Aeronáutica, na Avenida das Américas, na Barra, nas noites de sexta e sábado. Motivados por shows do Charlie Brown Jr., O Rappa, Detonautas e outros, os moleques (a idade-alvo era entre 16 e 20, mas muita gente mais nova ainda compareceu) ignoraram a chuva, o difícil acesso (uma ruazinha de terra entre a avenida e o clube, que se estendia por cerca de um quilômetro) e se esbaldaram em atividades como a queda livre, a tirolesa (espécie de teleférico humano, em que a pessoa voava), o grafite e uma oficina de percussão com o AfroReggae.
Fiquei um pouquinho insegura com a chuva, mas logo vi que todo mundo ia se divertir do mesmo jeito dizia Roberta Medina, produtora do festival, feliz da vida na área VIP na madrugada de domingo.
De fato. No sábado, a área que, segundo dizem, originalmente era um gramado estava um lodaçal de fazer gosto, e, não fosse a temperatura (por volta dos 18 graus), o clima de Rock in Rio estaria perfeito, até porque as tendas eram incrivelmente parecidas com as da edição do festival de janeiro de 2001. Uma mini-Cidade do Rock, com pouco mais de dez mil pessoas em vez de cem ou 200 mil. Assim, o público podia circular eventualmente patinando na lama, que ninguém é de ferro à vontade entre o Beijódromo (tenda recheada de sofás onde a garotada namorava, num clima de disputa quem-beijar-mais-gente-ganha), os computadores com jogos de última geração, as lanchonetes, as medusas (máquinas com longos tubos que davam refrigerante de graça em minúsculos copinhos, distribuídos lá mesmo), as oficinas e outros.
A maior fila era a da queda livre, singelo brinquedo de parque de diversões em que o freguês, pendurado a um gancho, é solto a 30 metros de altura no espaço, sobre uma rede de proteção.
- Ficamos três horas esperando, mas valeu a pena exultava Kristini Louna, de 19 anos, trêmula, com a amiga Débora Aguiar, de 18, ambas moradoras de Vila Isabel.
- Tive muito medo, por um instante pensei que estava cometendo suicídio, mas foi muito maneiro resumiu Débora.
Douglas Alves, de 21 anos, teve um probleminha: o técnico André esqueceu-se de desengatá-lo de um dos ganchos. Ao soltar o rapaz, ele continuou pendurado. André tentou puxá-lo de volta mas acabou tendo que baixar o guindaste para recuperá-lo. O povo da fila, crente que ele tinha amarelado, o brindou com um corinho nada lisonjeiro.
- Imagina se a minha mãe está ouvindo o rádio agora dizia ele, bem-humorado. Deixa pra lá, é o preço da fama.
Quando finalmente caiu, ele já se dizia pronto para enfrentar a fila, a falha e até o corinho de novo.
A sensação é demais!
Apesar de clima de violência da cidade, a maioria dos meninos e meninas estava desacompanhada. Eram raros os pais acompanhando seus pimpolhos, como fez o ator Marcos Frota com a filha Tainã, de 13 anos.
Trouxemos cinco de Maricá, dois filhos, de 13 e 15 anos, e três amigos -– dizia o músico Daniel Prado, ao lado da mulher, Vera, enquanto tomava coragem para pular em queda livre. Estamos curtindo também, gostei muito dos Detonautas.
O sexteto carioca foi de fato um sucesso, o que confirma que o público da cidade vai a festivais motivado, antes de mais nada, pelos shows mesmo que sejam de bandas assíduas nos palcos da cidade. Quando o cantor Tico e seus amigos começaram a tocar sucessos como Outro lugar e Quando o sol se for além de músicas emprestadas dos Raimundos e da Legião Urbana - as filas nas outras atrações diminuíram consideravelmente, o que aconteceria ainda com maior intensidade no show do Charlie Brown Jr.
A fila foi grande para fazer o curso de DJ
Uma das esperas mais fiéis era a do curso de DJ, ministrado pelo pessoal do B.U.M., o badalado Baixada Undergound Movement.
Já recebemos umas 400 pessoas, acho que chegaremos a 500 até o fim do evento dizia a DJ Ana Kazz. Em 15 minutos damos a eles uma noção dos ritmos e de mixagem e efeitos. Depois eles vêm para o computador e produzem uma música, que depois recebem em casa, num CD.
O estudante de fisioterapia Pedro Gouvêa, de 22 anos, saiu de lá pensando em fazer um curso mais extenso com o instrutor Halley Seidel, que o recebeu.
Não entendia quase nada do assunto e achei muito interessante dizia Pedro ao lado da namorada, Caroline Mourão.
As filas novamente encolheram quando o Charlie Brown entrou no palco, ao som de Rubão, pouco depois de 1h. Apesar dos apelos do cantor Chorão, alguns focos de confusão surgiram o que incrementou o repertório de palavrões do cantor mas nada sério.
- Ficamos três horas esperando, mas valeu a pena exultava Kristini Louna, de 19 anos, trêmula, com a amiga Débora Aguiar, de 18, ambas moradoras de Vila Isabel.
- Tive muito medo, por um instante pensei que estava cometendo suicídio, mas foi muito maneiro resumiu Débora.
Douglas Alves, de 21 anos, teve um probleminha: o técnico André esqueceu-se de desengatá-lo de um dos ganchos. Ao soltar o rapaz, ele continuou pendurado. André tentou puxá-lo de volta mas acabou tendo que baixar o guindaste para recuperá-lo. O povo da fila, crente que ele tinha amarelado, o brindou com um corinho nada lisonjeiro.
- Imagina se a minha mãe está ouvindo o rádio agora dizia ele, bem-humorado. Deixa pra lá, é o preço da fama.
Quando finalmente caiu, ele já se dizia pronto para enfrentar a fila, a falha e até o corinho de novo.
A sensação é demais!
Apesar de clima de violência da cidade, a maioria dos meninos e meninas estava desacompanhada. Eram raros os pais acompanhando seus pimpolhos, como fez o ator Marcos Frota com a filha Tainã, de 13 anos.
Trouxemos cinco de Maricá, dois filhos, de 13 e 15 anos, e três amigos -– dizia o músico Daniel Prado, ao lado da mulher, Vera, enquanto tomava coragem para pular em queda livre. Estamos curtindo também, gostei muito dos Detonautas.
O sexteto carioca foi de fato um sucesso, o que confirma que o público da cidade vai a festivais motivado, antes de mais nada, pelos shows mesmo que sejam de bandas assíduas nos palcos da cidade. Quando o cantor Tico e seus amigos começaram a tocar sucessos como Outro lugar e Quando o sol se for além de músicas emprestadas dos Raimundos e da Legião Urbana - as filas nas outras atrações diminuíram consideravelmente, o que aconteceria ainda com maior intensidade no show do Charlie Brown Jr.
A fila foi grande para fazer o curso de DJ
Uma das esperas mais fiéis era a do curso de DJ, ministrado pelo pessoal do B.U.M., o badalado Baixada Undergound Movement.
Já recebemos umas 400 pessoas, acho que chegaremos a 500 até o fim do evento dizia a DJ Ana Kazz. Em 15 minutos damos a eles uma noção dos ritmos e de mixagem e efeitos. Depois eles vêm para o computador e produzem uma música, que depois recebem em casa, num CD.
O estudante de fisioterapia Pedro Gouvêa, de 22 anos, saiu de lá pensando em fazer um curso mais extenso com o instrutor Halley Seidel, que o recebeu.
Não entendia quase nada do assunto e achei muito interessante dizia Pedro ao lado da namorada, Caroline Mourão.
As filas novamente encolheram quando o Charlie Brown entrou no palco, ao som de Rubão, pouco depois de 1h. Apesar dos apelos do cantor Chorão, alguns focos de confusão surgiram o que incrementou o repertório de palavrões do cantor mas nada sério.
Vocês têm muita sorte de morar no Rio de Janeiro, a cidade é linda e as mulheres também dizia ele.
O público respondeu cantando sílaba por sílaba sucessos como Zóio de lula, Te levar, Não é sério e outras. Enlameados, os garotos não se cansavam de pular mesmo àquela hora. Nada como ter 17 anos.
O público respondeu cantando sílaba por sílaba sucessos como Zóio de lula, Te levar, Não é sério e outras. Enlameados, os garotos não se cansavam de pular mesmo àquela hora. Nada como ter 17 anos.
Crédito:Fatima Nazareth
Autor:Bernardo Araujo
Fonte:O Globo