Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

Comida na pista

Há algum tempo, a turma "jovem pero no mucho" andava órfã de boas opções para sair à noite. Ou enfiavam-se em discotecas entupidas de adolescentes ou acabavam dormindo cedo após um jantarzinho careta, sentindo-se anciões. Com a reabertura de duas casas que fizeram história na década de 80 como templos da diversão de abastados, que combinavam pista de dança com boa cozinha, isso está mudando. Nos novos People Lounge e Baronneti (como foi rebatizado o lendário Hippotamus), ambos abertos no fim do ano passado, pode-se dançar, beber champanhe ou comer lasanha de inhame com lascas de foie gras sem sentir-se num jardim de infância.

O mérito desses clubes é servir de espaço para que adultos possam conversar, comer e beber bem e até dançar. O que mantem as hordas de adolescentes afastados são a decoração clean, a música de qualidade, os pratos exóticos e o preço alto. A consumação mínima nos fins de semana chega perto dos R$ 50 para homens. Até o início da madrugada, quando a pista começa a ferver, os DJs dessas casas são coadjuvantes. "No início da noite faço um som de garfo e faca", conforma-se o DJ Lounger, do Baronneti. Quem chega mais cedo quer mesmo é bater papo com amigos e comer bem ouvindo música boa. Nada do bate-estaca que faz sucesso nos templos adolescentes. O som do DJ Lounger mistura a bossa-nova japonesa do Pizzicato Five com o chill-out de bandas como Thievery Corporation e Smoke City.

Ao contrário da pista ainda morna por volta das 23h, a cozinha da chef Adriana Mattar, discípula de Claude Troigros, José Hugo Celidônio e François Payard, ferve. De lá saem, por exemplo, sticks de tempura de lagostim com molho de crustáceos e rolinhos crocantes de cogumelos com mel e tomilho. O risoto de alcachofra fresca e queijo parma crocante não deixa nada a dever aos pratos dos melhores restaurante da cidade. As receitas moderninhas combinam com o som e a fachada despojadada, projetada por André Piva, revelação da arquitetura carioca. "Quis fazer um lugar com cara de sala para conversar", conta Piva, que se inspirou no Supper Club de Amsterdã.

Ao contrário do rígido ritual dos restaurantes, com garçons sempre alertas e mesas bem organizadas, nos clubes o serviço é mais informal. É comum colocar o prato principal no centro da mesa para que todos possam comer aos pouquinhos. O Camarão People Lounge (com chutney de tomate e risoto de champanhe com palmito) foi feito sob medida para esse clima "festa na casa de amigo". Desde que foi reinaugurado há dois meses, o People ficou mais claro e arejado graças à reforma do arquiteto Edgar Otávio, responsável pelas lojas Artefato. O menu, assinado pelo chef Otávio Camacho (ex-Garcia & Rodrigues), segue o mesmo caminho. Há diversos pratos com toques orientai. O sashimi de hadock com tomate confit é imperdível.

Até a reabertura do People e do Baronneti, a única opção dos maiores de 25 anos era a Nuth, que há dois anos ocupa a casa onde funcionava o estúdio do arquiteto Cláudio Bernardes na Barra. O jardim com lago e grandes bancos e mesas de madeira fica cheio nas noites de quarta e quinta. O ator Selton Melo é habitué. A área externa é o melhor lugar para saborear belisquetes como foie gras com geléia de framboesa ou brie com damasco. Se a fome apertar, basta ir até o segundo andar, onde funciona o restaurante, e escolher entre os dois carros-chefes da casa: risoto de codorna ou o atum dos deuses, com espaguete integral, maionese de raiz forte, nirá e gengibre. Depois é só descer as escadas e se esbaldar na pista.

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Juliana Mota

Fonte:Domingo