Rio de Janeiro, 03 de Maio de 2024

Victeen

Victeen

Elas usam piercing, mas não são punks. Fazem tatuagem sem radicalizar. Podem sair de preto total mas não são dark. Odeiam combinar sapato e bolsa e misturam tudo o que garimpam em lojas diferentes, de grifes famosas ou não. Sai a fashion victim, entra a “fashion victeen”.

A teen moderninha sem preconceitos cuja filosofia é o mix de tudo, governado pela própria cabecinha. Garotas como as desta reportagem: Allegra, Manuela e Cristal, cheias de atitude e personalidade.

Detalhe: está todo mundo de olho no look que elas criam, de Jean-Paul Gaultier, passando pela revista americana “Vogue”, que criou sua edição “Teen”, aos escritórios de tendência e pesquisa mercadológica.

Quem já está faturando com o filão é a dupla Dolce & Gabbana, com a espertíssima D&G.
 
 
A ferveção ‘young couture’

Segundo o estilista Domenico Dolce, o novo visual da garotada tem de tudo, menos o ar daquela roupa arrumada de festa.

Domenico costuma freqüentar festas e discotecas para se inspirar nessa soma de elementos que vêm do esporte (principalmente surfe), das roupas de brechó, dos personagens de desenho animado ou de qualquer peça que tenha um design forte, seja grifado ou não. Já batizaram essa ferveção de estilo de “young couture”, um sangue novo que corre fora e dentro das passarelas.

O termo “victeen” é da empresa Observatório de Sinais, de São Paulo, especialista em pesquisa mercadológica e prospecção de tendências:

— Elas são “victeens” e não “fashion victims”. Herdeiras em assumir um estilo e ser fiel a ele, típico modismo dos anos 80 ou do nascimento das tribos urbanas da década de 90. O uso da palavra mix chega nos anos 2000 para montar um look único com elementos das tribos urbanas, como o clubber, os skatistas e os surfistas. A teen moderninha é menos preconceituosa. O mix de tribos, de acordo com o gosto e o interesse, é superatual, faz parte da pós-modernidade — explica Dario Caldas, sociólogo e diretor da Observatório de Sinais.

 
O fim da Patricinha


Criando moda especialmente para atender a esse novo público, O Estúdio, casa de criação, trabalha com uma linha alternativa que sugere temas em camisetas e saias que podem provocar protestos e até humor.

— O termo “patricinha” já caiu e o consumo imediato da roupa fast food já saiu de moda — diz Cristine Castro, produtora de O Estúdio.

Mas será que essa nova atitude não está formando uma nova tribo? Segundo Dario Caldas, não.

— O conceito de tribo é fechado, primitivo e não evolui. O novo look é livre e evolutivo. É uma tribo que peneira o que quer, na hora que bem entende — conclui.

A nova teen ignora as vitrines das grandes marcas e sai à caça de novidades e relíquias para montar seu próprio look. Pura atitude, como é o caso de Manuela Fantinato, 20 anos, que estuda história na PUC, ama mitologia e faz coleção de bolsas com estilos bem diferentes, compradas em feiras livres, brechós e até nas lojas de grifes.

Sua marca: coleciona sandálias havaianas, 12 pares no total, combinando com a roupa do dia. Filha do embaixador João Marcos Castelo Branco Fantinato e da consultora de moda Fabíola Fantinato, ela detesta padronização.

— Como combinar o sapatinho caramelo com a bolsa. A roupa tem que estar conectada com a personalidade da pessoa e não com o que o mundo quer que você use.

 
Principal filosofia: a bricolagem sem preconceito


Aluna da escola Suiço-Brasileira, Cristal Lomba, 15 anos, transborda de atitude. Pudera, é filha de Fátima Lomba, dona da loja multimarca Novamente, e do consultor gastronômico Osmar Fontana. Ela faz balé clássico, sapateado, jazz, usa spikes pelo braço e é baixista da banda Lemon Green Sheep.

— Eu me visto como quero estar no momento. Posso sair toda de preto num dia e, com babadinhos noutro.

Peças de brechós, sandálias customizadas, camisetas com dizeres irreverentes, coletes bordados e crochês.

— O mundo da “victeen” é uma verdadeira bricolagem. É um universo repleto de referências, um mix, em que a roupa é uma conseqüência social — explica o designer têxtil Ceci Kreme, do Instituto Zuzu Angel de Moda.

Para Ceci, o novo mix é formado por peças de outras décadas mas sem o significado do passado. Como assim?

— Quem se veste com uma calça rasgada não quer necessariamente expressar agressividade no comportamento.

Para quem faz canto lírico e tem uma coleção de gatos em sua casa, como Allegra Ceccarelli, 18 anos, a moda é uma mistura de estilos chiques, bonitos e até engraçados. O blush rosado nas bochechas já é sua marca registrada. Não sai de casa sem se maquiar.

— Formar um guarda-roupa eclético é uma opção para garimpeiros da moda como eu.

Filha da designer de jóias Bia Vasconcelos e do arquiteto Fabrizio Ceccarelli, Allegra têm faro fashion para o garimpo. Procura em ateliês, brechós e feiras complementos para compor seu visual como chapéus, broches, bolsas e bijoux.

— Já escutei de minhas amigas várias vezes coisas do tipo “superlegal a sua roupa, mas eu não usaria”.

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Maria Paula de Araújo

Fonte:Universo da Mulher