Rio de Janeiro, 03 de Maio de 2024

Qual é o telefone da vespa?

Qual é o telefone da vespa?
Já se foi o tempo em que os homens, de olho na garota de shortinho, perguntavam o telefone do cachorrinho.
 
Hoje eles querem mesmo saber o telefone da vespa que anda exibindo, pelas ruas, corpinhos sarados, seios empinados e pernas malhadas nas academias. Vespa. Lambreta. Motoneta. Scooter.
 
As definições são várias para o veículo que anda roubando a cena (e os corações) e que continua ostentando o mesmo glamour imortalizado por Audrey Hepburn e Gregory Peck no filme “A princesa e o plebeu” (1952).
A arquiteta Leila e a estudante de direito Naktasha, adeptas do veículo, garantem: a vespa aumenta a auto-estima e ajuda a arrumar namorado.

— Com vespa — garante Leila Bittencourt, de 35 anos — a mulher é superpaquerada. Quem estiver a fim de arrumar namorado é tiro e queda.

Leila comprou sua Peugeot vermelha de 50 cilindradas há dois anos por R$ 5 mil. Cabelos e olhos castanhos-escuros, 1,68m, ela diz que a vespa é o veículo ideal para transitar na Zona Sul sem enfrentar problemas de trânsito e estacionamento:

— Moro no Leblon e a maioria das minhas obras é na Zona Sul. Com ela paro em qualquer lugar. O Rio tem tudo a ver com vespa.

O marido de Leila ficou preocupado. Tinha medo que ela se atrapalhasse no trânsito. Que nada. Apesar de não ser obrigatório, a moça não dispensa o capacete e não passa dos 60km.

— O legal da vespa é que dá para andar de saia porque você pode dirigir com a perna fechada. Não é como moto que tem de abrir a perna para se sentar.

Sucesso absoluto. Como atesta Franklin de Mello Neto, diretor da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas e Bicicletas):

— Para este ano, está prevista a fabricação de mais de 120 mil motonetas.

A vespa também foi uma solução na vida da estudante de direito Naktasha Ituassu, de 26 anos, que mora no Leblon, malha na Estação do Corpo e estuda na Candido Mendes, em Ipanema.

— Com carro, a minha vida era um inferno para estacionar — conta Naktasha, uma loura de olhos verdes que não se cansa de exaltar a sua Aprilia, que custou R$ 6.500 — Vespa combina com praia e é a cara do Rio — diz ela, que acha que uma mulher de vespa é muito paquerada. — Sempre tem um engraçadinho pedindo carona.

 
As ‘vespeiras’ só temem as vans e o cabelo ressecado pelo vento


Nem Umberto Eco escapou ao fascínio. Num texto do escritor em site dedicado às vespas, o autor de “O nome da rosa” defende uma teoria, usando um v maiúsculo porque se refere à motoneta italiana de nome Vespa. “A Vespa, aos meus olhos, é ligada à idéia de transgressão e pecado, e até à tentação — não a tentação de possuir o objeto, mas a sutil sedução do lugar distante a que só a Vespa poderia levar. Ela penetrou na minha imaginação não como objeto de desejo mas como símbolo de desejo não realizado.”

Foi essa mesma sensação, aliada ao fator prático, que levou Alessandra Horta, de 25 anos, professora de spinning da Estação do Corpo, a trocar seu carro por uma Aprilia azul.

— De carro, nunca conseguia chegar aos lugares a tempo. Agora meus aborrecimentos acabaram. Estacionar é fácil, você não é multado porque não tem placa, pode avançar sinal, enfim, pode fazer tudo porque a vespa é transgressora por natureza.

Paquera? Alessandra diz que com vespa ela é inevitável.

— Quando tem outra garota na garupa é uma festa. O que não falta é oportunidade para amar. Outro dia pensei em levar uma amiga solitária na garupa para ver se ela arruma um namorado.

Dona de uma corretora de seguros, Marina Vianna, de 37 anos, ainda não arrumou namorado. O que não impede que ela também seja apaixonada pela praticidade de sua Aprilia azul. Lembra, porém, que o motorista fica muito exposto.

— É um veículo charmoso mas você fica de cara para o mundo. Tods querem conversar, saber quanto custa. O problema é o cabelo, que fica ressecado com o vento. Por isso eu uso capacete, mesmo não sendo obrigatório.

A designer de jóias Patrícia Goodman, de 36 anos, tem uma da marca Peugeot. Teresa Ourivio, dona da loja de velas e essências Originallis, também. A estilista Carla Wöllner, idem. Patrícia, que está grávida, resolveu seus problemas com a vespa:

— Ela é tão bonitinha e facilita tanto a vida da gente... — diz a designer, reconhecendo que é assediada. — Coisa nova aqui no Rio sempre é pretexto para puxar uma conversa.

Já Teresa ganhou a sua Kawasaki Kymco vermelha do marido. Agora, ela pode freqüentar o cinema Leblon, o que não fazia por falta de onde parar o carro. E Carla Wöllner define a vespa como a bicicleta contemporânea.

Desde menina, a professora de ginástica Stella Torreão gosta de motocicleta. Já teve várias. Agora, ela pode ser vista, de capacete e óculos, em sua reluzente Aprilia verde-limão. Não quer outra vida.

— Estou encantada com a vespa. Tudo bem, ela só tem 50 cilindradas, não tem muito arranque, mas não quero mudar. Só almoço em casa porque ela permite, o deslocamento é rápido.

Quem não simpatiza com a vespa é a atriz e amiga Cláudia Gimenez:

— A Cláudia é grande e a vespa é micro. Ela disse que nunca mais quer andar na garupa.
 
 
As motonetas de todos os tempos
Jason Vogel

Vespa hoje está no Aurélio como um nome genérico para motonetas de todas as marcas. Tudo por conta da fama conquistada pelo modelo original, criado pela fábrica italiana Piaggio, logo depois da Segunda Guerra. Em tempos de penúria neorealista na Europa, a Piaggio (que antes fazia aviões) lançou-se na produção de um meio de transporte simples, acessível à empobrecida população.

Criada pelo engenheiro aeronáutico Corradino D’Ascanio, a Vespa tinha toques geniais que até hoje são copiados. Sua estrutura, por exemplo, era sólida e tinha uma carenagem para afastar o frio e a sujeira. O desenho também permitia que o piloto viajasse confortavelmente sentado, com os pés apoiados numa plataforma. O sucesso na Itália foi imediato e, em meados dos anos 50, as motonetas chegaram ao Brasil.

Primeiro, desembarcaram por aqui os modelos feitos pela Lambretta e pela Iso — arqui-rivais da Vespa na Itália. Adotadas pela juventude transviada carioca (mais para Carlos Imperial que para James Dean), essas motonetas viraram coqueluche e podiam ser vistas às centenas em frente ao bar Mau Cheiro, no Arpoador. Com o sucesso dos modelos importados, a Lambretta e a Vespa logo começaram a ser feitas também no Brasil (em 1957 e 1960, respectivamente).

Na Inglaterra, as fumacentas maquininhas de duas rodas também fizeram história, como símbolo maior do movimento mod : jovens endinheirados que, com estilo de vida frenético e ternos moderninhos, ditaram a moda pop na década de 60.

No meio da década, porém, a mania passou. Os playboys e muitos pais de família deixaram de lado suas motonetas.

Houve um revival no Brasil por volta de 1985, quando a Vespa da Piaggio voltou a ser feita no país e, novamente, virou moda. Em plena explosão do rock nacional, era possível ver Marina desfilando com sua vespinha por Ipanema.

O problema é que desentendimentos entre os sócios afundaram a filial brasileira e as Vespa da Piaggio praticamente sumiram do país. Mas a onda das motonetas ficou: hoje, há scooters de 13 marcas diferentes à venda por aqui — com destaque para os Aprilia, Peugeot e Sundown.
 
 
Todos têm linhas angulosas e alta tecnologia. Da Vespa original, ficou o charme.
 

Veja a página da Lambretta no site da Organização Superbrands:

 

http://www.superbrands.org/coolbrandleaders/pages/brands/lambretta.html

 

Vamos estimular as mulheres vespeiras na criação de um grupo feminino de simpatizantes de Scooters, como nos links abaixo:

 

http://baltimorebombshells.actiongirlart.com

http://www.belladonnas.org

 

 

Crédito:Anna Beth

Autor:Elisabeth Orsini e Jason Vogel

Fonte:O Globo