Hoje, são as mulheres que usam e abusam dessa arte. Elas perderam a timidez e vão além das discretas borboletas ou estrelinhas do passado, ostentando grandes tatuagens tribais, com flores, símbolos ou o que mais inventarem. E não só o tamanho aumentou, mas também a quantidade de desenhos.
Isso é o que diz o tatuador Leds (Sérgio Maciel), um dos mais requisitados de São Paulo, que chega a receber 150 clientes aos sábados. Quando abri meu estúdio, há 20 anos, pouquíssimas mulheres vinham fazer tatuagem. Agora, mais da metade da minha clientela é do sexo feminino. São 55% de mulheres para 45% de homens.
O caso da decoradora Silvia Regina Lemos Belforti Bevilácqua, uma de suas clientes, é um bom exemplo da perda do preconceito. Ela está com 45 anos e tem nada menos que dez tatuagens ou tatoos, como são chamadas.
Entre a primeira e a décima, passou-se apenas um ano da vida de Regina. Antes, tatuagem para mim era sinônimo de algo sujo, fazia parte da marginalidade. Mas depois que meu marido fez a primeira, comecei a me interessar.
Ela foi a uma feira sobre o assunto, visitou o estúdio do tatuador Leds e descobriu que as pessoas que faziam tatuagens eram normais. Empolgada, fez um sol nas costas e sentiu o gosto do sucesso: Começaram a me parar na rua para perguntar onde eu tinha feito. Todo mundo achou sensual.
Com a aceitação geral, Sílvia fez mais nove, que ornamentam seu braço, pé, tornozelo, pescoço, punhos, mão e seio, todas pretas Só a do pé doeu um pouco. Sua idéia , agora, é fazer a 11ª no pescoço, colorida. Ela acredita na superstição de que não se pode ter tatuagens em número par.
De seus três filhos, dois usam piercings e o mais novo, de 17 anos, quer também se tatuar. Mas a mãe quer que ele espere a maioridade. O marido, pivô de tudo, só agora está partindo para a segunda: vai cobrir as costas. Ele é engenheiro, dá palestras, só pode fazer tatuagens em locais discretos.
TATOO X EMPREGABILIDADE
Os especialistas em Recursos Humanos aconselham cautela. A presidente do Grupo Foco, que seleciona profissionais para multinacionais, Eline Kullock, diz que ainda há preconceito no mercado de trabalho: Quem quer seguir carreira, deve analisar o perfil da empresa antes de fazer uma tatuagem. Os bancos, por exemplo, são mais conservadores. As empresas de comunicação têm uma postura mais aberta.
Vale salientar, no entanto, que o conceito de tradição e modernidade varia de região para região. O Grupo Foco tem filiais em todo País e Eline conta que em Joinvile (SC) já cancelaram a contratação de um soldador, porque viram na última hora que o candidato tinha uma tatoo. Lá, as empresas são familiares e de origem alemã. Para eles, a pessoa tatuada não é séria, não pensa no futuro.
Na capital carioca, a postura é diferente: A tatuagem é vista como sinal de modernidade e sensualidade. São Paulo fica no meio-termo, apesar do interior mais conservador.
A modelo Barbara Koboldt, de 27 anos, já viveu o preconceito na pele. Gaúcha, ela perdeu alguns trabalhos em Porto Alegre por causa de suas nove tatuagens. Eu era vista como maconheira, lembra.
Depois que mudou para a capital paulista, e registre-se que as tatoos entraram para o mundo da moda, seus desenhos espalhados pelo corpo se transformaram em chamariz e marca registrada. Hoje tenho trabalho por causa delas. E quando não querem que elas apareçam, cobrem todas com maquiagem ou limpam no photoshop, vangloria-se.
APELO SENSUAL
Para os homens, em geral, a tatuagem estampada no corpo feminino é considerada sexy. Para algumas mulheres, funciona tal e qual um fetiche.
A estudante de geografia e surfista Bibiana Kumpera, 26 anos, diz que homens com várias tatuagens a atraem mais. Ela própria fez sua primeira tatoo aos 15 anos, um discreto tubarãozinho do lado de dentro da canela. Para realizar seu desejo, precisou e conseguiu a autorização, por escrito, dos pais.
Depois de três anos, veio a segunda, nas costas: um hibisco colorido, cujo desenho ela guardou durante muito tempo. Mas seu tamanho ainda era reduzido. Mas Bibiana queria algo maior e, aos 20 anos, marcou a pele com um grande pássaro tribal, na parte inferior das costas.
A metragem avantajada da tatoo, entretanto, não agradou seus pais. Minha mãe se sentiu ofendida, achou que era grande demais, lembra. Em compensação, seu namorado daquela época gostou tanto que começou a pensar em tatuar-se também.
A TATOO E SEUS CUIDADOS
Primeiro ponto: quer fazer tatoos? Vá a um estúdio recomendado e, de preferência, conheça o trabalho do tatuador antes de passar pela ação de sua agulha. Lembre-se: a assepsia é essencial, portanto, devem ser usadas agulhas descartáveis e equipamentos esterelizados.
A dermatologista Maria Adélia de Freitas Dias adiciona à lista do tatuador Leds outro cuidado: observar se as tintas usadas são atóxicas existem pigmentos mais agressivos, que provocam reações alérgicas e podem causar inflamação e até deformação do desenho em casos mais graves.
Por quinze dias, tempo para cicatrização, o recém-tatuado não deve entrar em piscina ou mar. Depois, o único cuidado permanente é evitar o sol (que desbota a tatoo) e, se possível, hidratar o local diariamente. Leds aconselha o uso permanente de bloqueador solar número 45.
Quem tem tendência à quelóide também deve evitar tatoos: pode-se formar uma crosta e ficar até cicatriz. Em casos extremos, a única solução é tirar o pigmento causador da alergia, através de raspagem, a chamada dermatoabrasão.
Esse mesmo método pode ser usado por quem se arrepende do desenho tatuado, mas geralmente deixa marcas. O processo mais moderno de remoção é o laser rubi. Contudo, segundo a dermatologista, ele também não consegue tirar tonalidades como o vermelho e o amarelo, embora seja eficiente com tatuagens pretas.
Apesar dos métodos de remoção, o mais prudente é pensar que uma tatuagem á para toda vida. Assim, o legal é testar o desenho primeiro com hena, que sai rapidinho.
Quanto à dor, Leds explica que tatuar locais com mais ramificações nervosas, como costelas, pés e seios, pode doer mais. Só que não tem jeito, a anestesia é proibida por causa do inchaço da pele, que pode prejudicar o trabalho.
E quando passar a moda ou a velhice chegar?
Responde o tatuador: Tem conserto. É só refazer o desenho. Retocar, aliás, sempre é legal quando o sol causa algum estrago.
Crédito:Anna Beth
Autor:Fabiana Caso
Fonte:O Estadão