A moda decidiu resgatar a silhueta feminina. A palavra de ordem no momento é realçar a cintura e o busto, numa estética mais provocante e com um toque de fetiche. Não é à toa que o corset - mais conhecido aqui como corselete ou espartilho - foi alçado à condição de vedete dessa tendência. Não há cintura ou busto que não fiquem em evidência quando comprimidos por ilhoses, colchetes, cordões ou zíperes usados para fechar a vestimenta. Símbolo de sensualidade, a peça integra as mais recentes coleções de grifes internacionais badaladas, como Roberto Cavalli, Dolce & Gabbana, Victoria"s Secret e Tommy Hilfilger. "O corset está presente nas coleções internacionais de quem faz alta-costura, mesmo que não esteja à mostra", diz o estilista Bruno Octaviano. "É uma tendência que reflete a vontade das mulheres de mostrar o corpo de uma maneira mais sensual", afirma a consultora de moda Costanza Pascolato. "A bem da verdade, no Brasil esse desejo já existe há um certo tempo." De fato, do lado de baixo do Equador o corset pode ser visto emoldurando as formas de beldades como as apresentadoras de televisão Luciana Gimenez e Eliana e a cantora Kelly Key.
Todo corset é bem estruturado para dar a sensação de busto cheio e cintura fininha. Exatamente por definir os contornos, a peça pode realçar qualquer tipo de corpo. Mas, como tudo em termos de moda, cai melhor em quem está em dia com a forma. Versátil, pode ser moldado em uma infinidade de tecidos - couro, seda, crepe, renda, jeans - e usado em qualquer horário do dia ou da noite, dependendo do conjunto da produção. A origem do corset remete ao Renascimento. Envoltas em longos e volumosos vestidos, as mulheres do século XVI elegeram a indumentária para adicionar certo grau de sensualidade ao visual. "O recurso afunilava a silhueta e formava uma seta que direcionava o olhar para o órgão sexual feminino", diz o historiador de moda João Braga. "Lógico que se tratava de uma linguagem subliminar, mas sem dúvida era, e ainda é, uma arma de sedução do guarda-roupa feminino."
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No Brasil, a peça foi rebatizada de espartilho. O nome surgiu por conta do esparto, uma fibra vegetal semelhante ao linho usada na confecção. Estruturado com hastes feitas de madeira, marfim, madrepérola, prata ou osso, o corset conferia status às mulheres, por inviabilizar a realização de qualquer tipo de trabalho, já que limitava os movimentos. De tão apertado, motivou inúmeros desmaios em damas que não conseguiam respirar direito e chegou ao extremo de causar mortes quando costelas quebradas perfuravam os pulmões. Apesar de ser tão desconfortável, só caiu em completo desuso em três momentos da História: no Império Napoleônico e durante as duas grandes guerras mundiais.
Em 1947, Christian Dior resgatou o uso do corset ao lançar a coleção chamada de Linha 8, inspirada nas formas de uma ampulheta. Mas foi nos anos 80 que a peça deixou de ser usada por baixo para virar roupa propriamente dita, quando a criadora francesa Chantal Thomaz lançou uma coleção com espartilhos à mostra. A ousadia de Chantal foi seguida por vários mestres da alta-costura, como Vivianne Westwood, Christian Lacroix, Alexander McQueen, Christian Dior, Versace. E está nas ruas até hoje.
Fotos: Maurilo Clareto/ÉPOCA | |
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Crédito:Anna Beth
Autor:Ana Cristina Rosa
Fonte:Época