Rio de Janeiro, 17 de Maio de 2024

A corrida do amor

Se você está só e quer encontrar o amor da sua vida, o Censo 2000 pode dar uma ajuda substancial para este projeto. Os dados revelam que Palmas, capital do Tocantins, é a cidade que concentra o maior número de homens solitários no país (lá eles têm 7,1% dos domicílios unipessoais) e Porto Alegre é o lugar preferido das mulheres que moram sós (elas têm 10,7% deste tipo de domicílio na capital gaúcha). No ranking masculino, o segundo lugar está com Boa Vista, o terceiro com Porto Alegre, vindo em seguida Porto Velho, Florianópolis, Salvador e Rio de Janeiro. A cidade mais rica, São Paulo, aparece em décimo-sétimo lugar. No ranking feminino, o Rio está em segundo (7,9%), seguido de Florianópolis, Curitiba, Vitória e São Paulo.

— Talvez a mulher gaúcha tenha se soltado mais do que as de outros estados. Ela se tornou mais livre, mais liberal. O Rio Grande do Sul sempre foi muito conservador e o povo muito fechado, principalmente os originários das zonas rurais. Com a decadência da burguesia rural, autoritária e tradicional, as mulheres talvez estejam procurando maior independência dos pais e dos maridos. Vivem sem os homens provedores, a figura típica do conservadorismo gaúcho — explica o psicanalista Glay Costa, pesquisador da Fundação Mário Martins, de Porto Alegre.

Santa Catarina lidera casamentos civis e Roraima as uniões consensuais

Mas se a geografia pode aumentar as oportunidades de um encontro amoroso, é preciso prestar atenção a outro detalhe fundamental: a disposição para mudar de estado civil. Se você quer alguém para casar no papel, talvez seu destino seja Santa Catarina, o estado com maior percentual de casamentos no civil e no religioso (86,1%). Já se você detesta burocracia, Roraima é a melhor opção (lá, 41,8% das uniões são consensuais). Na região sudeste, o campeão da informalidade é o Rio de Janeiro (26,5% dos casais moram juntos sem papel).

— É natural que o Rio seja mais informal no casamento. O carioca é solto, alegre, espontâneo. Não tem aquele peso da tradição quatrocentona de São Paulo — diz a psicanalista carioca Alice Bittencourt.

Paulista gosta mesmo é de papel passado. Segundo o Censo, 83,9% das uniões em São Paulo são formais. A socióloga da Unicamp e pesquisadora do Núcleo de Estudos de População, Elisabete Dória Bilac, tem uma explicação:

— Os paulistas são tradicionalmente mais conservadores e esse comportamento se reflete também na hora de casar. A industrialização marcou a cultura da população paulista, mais disciplinada e organizada — comenta.

Cada cidade tem seu estilo diferente de paquera

Na hora de paquerar, porém, os números do Censo não levam em conta diferenças geográficas, como o hábito de ir à praia no Rio ou à danceteria em São Paulo. Para a técnica em cobrança, Leandra Correa Godoy, de 23 anos, o dia-a-dia dos paulistanos é tão agitado que os encontros casuais são cada vez mais difíceis. Por isso, bares e danceterias são as melhores opções para a paquera.

— Quando você vai a um bar ou danceteria, as chances de conhecer alguém aumentam. Hoje, viemos ao aniversário de um amigo para conhecer o bar Piranha. O lugar é bonito e a paquera rola solta — diz Leandra.

As amigas Valéria Milano, de 33 anos, e Luciana Masuda, de 21, dizem que fundamental na paquera paulista é a abordagem elegante.

— Tudo começa no olhar. O homem tem que ter um ar safado, sem perder o respeito — diz Valéria.

Fernando Castro, de 22 anos, designer gráfico e Felipe Grigaiter, desenhista, de 27, acham que paulista não se arrisca:

— Homem aqui só fala com a mulher com a certeza de que ela vai ser receptiva.

No Rio, é diferente. Barbara Cordeiro, de 20 anos, lista boates como Nuth, na Barra, e Baronetti, na Zona Sul, entre os pontos de paquera, mas avisa que as mulheres cariocas estão mais seletivas:

— O Rio é uma cidade ótima para quem quer ficar livre e aproveitar a vida de solteira. Mistura praia e vida noturna intensa.

Os rapazes cariocas são mais românticos. Rafael Gasparian, de 22 anos, e Fábio Carneiro, de 33, buscam o amor na noite:

— Não acho que a noite seja dos “galinhas”. Já conheci garotas interessantes em danceterias, festas e shows e não eram amigas dos amigos da praia, da faculdade ou da academia. Namorei por seis anos uma menina que conheci na noite. Ganhei muitas namoradas na noite carioca — diz Fábio.

Carioca é mais exigente na escolha afetiva

Dados do Censo mostraram que o Rio tem mais homens e mulheres solitários do que São Paulo. Uma explicação? Bem, para muitos cariocas, encontrar alguém não é meta e estar sozinho é opção de vida. É o caso da empresária Claudia Amaral, de 39 anos. Ela é do tipo que não tem dificuldades em arrumar pretendentes. Já foi casada duas vezes, tem um filho, mas diz que não quer mergulhar num casamento:

— Homens existem aos montes no Rio, mas nesta fase da vida nós nos tornamos mais seletivas e, apesar de ter opções, não há ninguém que me desperte interesse.

Mulheres de todas as idades estão mais seletivas

A psicóloga Loraine Lopes, de 24 anos, também faz parte do clube das seletivas, mesmo percebendo que, no seu círculo de amizades, o número de casais é cada vez maior.

— Não é porque as minhas amigas estão se casando e tendo filhos que eu vou me casar com o primeiro que aparecer — diz Loraine, que costuma dividir com a mãe, Lenora, de 50 anos, outra carioca desimpedida, as noites de diversão em points de choro como o Rio Scenarium, na Lapa.

— O homem não está preparado para aceitar a nossa independência. O que vejo hoje, entre gente da minha idade, é que as pessoas namoram, mas continuam vivendo em casas separadas. É uma opção, embora não seja, a meu ver, a ideal — diz Lenora.

Mas, para o psicólogo da Universidade de São Paulo, Ailton Amélio da Silva, as mudanças no relacionamento entre homens e mulheres, sobretudo no casamento, se consolidaram mais no Rio do que em São Paulo.

— A possibilidade de manter vida sexual e legitimar filhos sem casamento está trazendo novas formas de união. O fato de a sociedade estar mais liberal também ajuda a enfraquecer a instituição do casamento legal. Hoje, a mulher não é mais discriminada porque não se manteve virgem, porque é separada ou divorciada. Os números mostram que no Rio esse conceito foi mais assimilado que em São Paulo — explica.

O mapa do amor inclui um roteiro noturno

Segundo o psicólogo e autor do livro “O mapa do amor”, Aílton Amélio da Silva, a paquera entre desconhecidos em bares e casas noturnas é o caminho para encontrar alguém. Entre as maneiras de se iniciar um relacionamento, o flerte que acontece na noite é responsável por 20% dos romances, perdendo para a amizade com colegas de trabalho e escola que virou namoro (37%) e a apresentação por amigos em comum (32%).

— É natural que as pessoas fiquem desconfiadas quando passam a se relacionar com alguém que conheceram num bar ou numa casa noturna. A margem de surpresas desagradáveis é maior — conclui.

Na noite, as diferenças entre cariocas e paulistas também são grandes. O estilo paulista de abordagem é mais arisco. Para Fernando, os primeiros 20 minutos determinam se a paquera vai evoluir:

— O primeiro atrativo é a beleza, mas na conversa é que dá para saber se a menina é das que valem a pena passear de mãos dadas no shopping.

O publicitário Arício Fortes, de 21 anos, nunca namorou ninguém que tenha conhecido numa “balada”. Embora tenha amigos que chegaram ao altar com mulheres que conheceram na noite, Arício diz que se tratam de casos raros:
— Não é preconceito, mas fico com o pé atrás.

Para a paulista Luciana, a cantada é tudo na paquera.

— Os insuportáveis são os que chegam achando que vão ganhar e, se você não dá bola, ficam nervosinhos — diz.

Eduardo Bueno, de 35 anos, acaba de sair de um relacionamento de dois anos:

— Foi uma paixão enlouquecedora. Eu era noivo e desisti de tudo para ficar com ela. Dias depois montamos apartamento e fomos morar juntos. Eu me entreguei de cabeça, mas dois anos depois, vimos que não dava mais certo — conta Eduardo, que se diz contrário ao casamento no papel.

O casal Célia Cantero, médica de 35 anos e José Antônio Cantero, administrador, de 40 anos, se conheceu no bar Charles Edward, tradicional ponto de azaração em São Paulo. Célia lembra que o atual marido a abordou com um “Você vem sempre aqui?”. Após horas de conversa, marcaram o primeiro de muitos encontros.

No Rio, uma caminhada no calçadão pode resultar em casamento. Foi assim que a psicanalista Paula Barreto desistiu de ser solteira. Num passeio pelo Leblon, conheceu o fotógrafo Guilherme Evans:

— Dei a receita para todas as minhas amigas. Corram: o calçadão é ótimo para arranjar marido — avisa.

As piores cantadas

1.
Você vem sempre aqui, querida?

2. Não sei, mas eu acho que te conheço de algum lugar.

3. Nossa, você veio mesmo para arrasar!

4. E aí? Você acha que tem jeito?

5. Machucou quando caiu do céu, meu anjo?

6. Já disseram que você é muito linda?

7. O que é que este bombonzinho está fazendo fora da caixa?

8. Como você chegou aqui se eu não vi nenhuma carruagem do lado de fora, princesa?

9. Eu não acreditava em amor à primeira vista. Mas quando te vi mudei de idéia.

10. Oi linda. Você já vai?
 


 

Crédito:Anna Beth

Autor:Redação

Fonte:O Globo