Rio de Janeiro, 17 de Maio de 2024

O cravo

A 25 de Abril de 1974
festejou-se a liberdade e o sonho
com hinos nos lábios,
com votos renovados de esperança.
O País aberto à verdade
e os braços estendidos aos Heróis,
às promessas e à confiança.
Foi dia de luta, de lágrimas,
de adeus às armas, de acolhimento,
de um sorriso para uma certeza.
As prisões e as torturas
queriam-se longe da lembrança.
Agora reforçavam-se os desejos
de uma Pátria nova Renascida,
de uma Pátria nova Portuguesa!

Porém,
o tempo passou,
e um cravo rubro, solitário,
ficou na estrada tombado...
As desilusões esmagaram-no
e o Homem Novo ignorou-o,
tomando-o por vinho entornado.

E hoje
é recordado com brindes e discursos de glória
esse dia que ninguém esqueceu.
Mas há novos pés, no silêncio, a pisarem
aquele cravo de sangue exaltado e vitória
que no auge da festa alguém perdeu.

No futuro,
uma criança,
brincando na areia da estrada,
encontrará o cravo
que à Revolução foi ceifado.
Ao romper de uma aurora,
em vigor, plantá-lo-á de novo,
para que a fé não se apague.
E crente nas razões do povo,
na sua justiça e na sua dor,
estará a plantar, sem o saber,
a mais doce força da Saudade,
o mais intenso poema de Amor.

Crédito:Helena de Sousa Freitas

Autor:Helena de Sousa Freitas

Fonte:Universo da Mulher