Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

Admirável mundo cão

Ela ficou só 12 dias na telinha. Mas foi tempo suficiente para conquistar a audiência do Big Brother Brasil. A vira-lata Mole fez mais sucesso do que os fortões Caetano e Bruno e a oxigenada Xaiane, os primeiros a sair da casa. Se dependesse dos espectadores, a cadelinha teria vida longa no BBB. Mas a direção do programa julgou que ela já havia cumprido sua missão e a tirou do ar. Tudo bem. Agora, a vira-lata global – que tem até site e fã-clube – terá tempo suficiente para desfrutar as delícias da fama. Um novo guarda-roupa certamente está nos planos. Para sua alegria, novidades é que não faltam. São jóias, coleiras incrementadas, roupinhas, gravatas, perfumes, sapatos e escovas de dente, só para citar alguns produtos, num mercado que cresce de 15% a 20% ao ano. O lançamento do livro Remédios florais de Bach para animais (Editora Pensamento) e a chegada em breve de uma linha de sorvetes italianos desenvolvida para eles são a prova de que o mercado anda tão inquieto e espevitado quanto seus consumidores.

Cães de todas as raças têm se encantado com as coleiras banhadas
a ouro com pedrinhas coloridas, de Marco Apollonio, o badalado design
da Vivara. Elas fazem o maior sucesso na Le Chien, elegante pet shop
de São Paulo. Nem o preço, R$ 120, espanta a freguesia. Outro item
com bastante procura é a coleira de silicone que muda de cor de
acordo com a temperatura do animal. No frio, elas ganham um tom
azul escuro. Quando esquenta, ficam esbranquiçadas. Mas não compre
o adereço imaginando que ele servirá para saber se o bicho está ou não com febre. O colorido não passa de uma frescurinha. Nos próximos meses estará nas araras a nova coleção de inverno assinada pela dog-stylist Andréa Tuniollo Dória. Foi marcado até um desfile para a apresentação dos modelitos!

A elegância atravessou a Dutra. Na badalada The Pet From Ipanema, do Rio, os adornos do curitibano Lincon Berrocal arrebatam a clientela endinheirada da zona sul da cidade. A dona da franquia, Ana Luiza Hungria, diz que há uma tendência clara de sofisticação. “A clientela busca coisas diferenciadas. Tratam os animais como pessoas muito queridas”, diz. As peças são feitas em ouro e prata e possuem certificado de qualidade. O colar mais caro custa R$ 1 mil. São exclusividade da franquia de Ana, em Copacabana. “O sucesso é tanto que estou fazendo jóias sob encomenda”, diz Berrocal. A loja de Ana tem até um pet café. Ali, os donos podem comer salgadinhos enquanto esperam seus dogs ou cats saírem do salão de beleza. Para os bichinhos, são servidos chocodog (chocolate com bolinha), bifinho sabor carne, frango ou bacon e ossinhos de cor e sabor variados, além de uma torta que serve também para limpar tártaro dos dentes.

Namoro – Não há dúvidas da importância que os animais de estimação ganham para seus donos, mas para alguns especialistas a humanização nem sempre é adequada. O veterinário carioca Alberto Frimer ensina que nesse caso o bom senso é melhor do que qualquer mimo. “Se o comportamento do bichinho continuar normal ao usar uma roupa ou um adereço, tudo bem. Se houver alteração, tem de respeitar e retirá-la. Uma jóia, evidentemente, vai agradar apenas ao dono”, pondera Frimer. O especialista alerta ainda que sapatos, botas e meias podem causar “pata torta”, principalmente em filhotes.

Animais

Se o uso de roupas e jóias já divide opiniões, o que dizer de um lugar especialmente criado para o cãozinho namorar? Essa foi a idéia de Ricardo Rabello, criador da Termas dog, no Rio. Antes mesmo de ser inaugurado, o lugar provoca polêmica. Rabello – que também é dono de um petshop e de uma agência de casamentos caninos – conta que a iniciativa nasceu da dificuldade que muitos donos tinham para acasalar seus cães machos solitários. Sem cruzar, eles ficavam tristes e indóceis. Ao resolver um problema, ele não esperava criar outro. “Uma rádio chamou as fêmeas de quengas. Um jornalista disse que eram prostitutas. Nem aceitei ir à tevê falar sobre isso por receio de que o assunto vire chacota. Não é inferninho”, afirma Rabello.

Rabello garante que fêmeas e machos serão criteriosamente examinados antes de cruzarem. “As fêmeas são do meu canil. Não vou pegar cadela na rua! Elas serão esterilizadas apenas para não ter filhotes, mas manterão o cio. Os machos terão que estar com a carteira de vacinação em dia e serão avaliados por um especialista antes do encontro.” Mas há quem desconfie das tais precauções. O veterinário Frimer é um deles. “Há muitas controvérsias. A proposta de realizar um exame no cão antes do acasalamento não me parece suficiente, porque há doenças que não são detectadas por ele”, diz. Atualmente, cinco cadelas de diferentes raças estão sendo preparadas. A fila de espera já conta com 300 interessados. O serviço será gratuito. Enquanto não abre a Termas, Rebello continua a realizar cinco casamentos caninos por mês na sua agência matrimonial. Hoje em dia, além de transar e casar, um cachorro tem à disposição, entre outros especialistas, acupunturista, oftalmologista, dermatologista e psicólogo. Pelo jeito, não falta mais nem falar.

Mole, uma estrela engajada
Jaq Joner/TV Globo  
MILITANTE: Depois de brilhar no Big Brother, Mole defenderá os cães abandonados  
Mole, a estrela do BBB, e seus três filhotes agonizavam à beira de uma estrada no Rio quando foram encontrados pela dona, a tratadora In-Coelum Perdigão. Poucos têm essa sorte. Diariamente, centenas de cachorros e gatos abandonados morrem nas ruas ou são sacrificados pelas autoridades de saúde. Agora, Mole estrelará uma campanha que incentivará a adoção consciente (site: www.molenobbb.com.br). Além da distribuição de folhetos, serão vendidos camisetas, bonés, banners e broches com a estampa da cadelinha. A renda será destinada à construção de um hospital veterinário e um centro de triagem de bichos abandonados. Antes de arrumarem uma casa, eles passarão por um exame clínico e serão vacinados. Em São Paulo, o Centro
ss de Controle de Zoonoses (CCZ) da prefeitura desenvolve trabalho semelhante. O CCZ (tel. 11- 6221-2842) acaba de lançar um calendário com fotos de animais que escaparam da morte e hoje vivem ao lado dos novos donos. Para diminuir o número de bichos soltos e punir donos irresponsáveis, a prefeita Marta Suplicy sancionou lei que obriga cães
e gatos a usarem uma espécie de RG. No documento, constarão dados do animal, nome e endereço do proprietário. O registro facilitará a identificação dos donos que não recolherem as fezes de seus bichinhos.

Crédito:Anna Beth

Autor:Chico Silva e Eliane Lobato

Fonte:Isto É