Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

Israel quer usar porcos contra ataques suicidas

Israel quer usar porcos contra ataques suicidas
Sentinelas com corpo de cão de guarda e cabeça de porco. É com feras desse tipo que poderiam se deparar, num futuro próximo, os kamikazes palestinos que tentariam se infiltrar nas colônias judias da Cisjordânia. Dotados de um faro muito desenvolvido e de um focinho que fuça e fareja sem parar, os porcos revelam ser verdadeiras cabeças "fungadoras". Em função disso, as colônias estudam a possibilidade de utilizá-los como assistentes de segurança. Em suma, eles se tornariam porcos de guarda.

Diferentemente do Cérbero, a criatura monstruosa da mitologia grega que guarda a porta do inferno, este animal não apresenta três cabeças, e sim três vantagens. Em primeiro lugar, "o seu olfato é muito mais desenvolvido que o dos cães", conforme explicou, em entrevista ao diário israelense "Maariv", Yekoutiel Ben Yaakov, o patrão do Gdud Haivri ("o batalhão hebreu"). Segundo esta organização, que adestra e fornece cães de guarda para as colônias, o animal disporia de um faro que lhe permitiria detectar à distância os palestinos que tentariam se aproximar dos assentamentos. Uma vez localizados os intrusos, ele só teria o trabalho de alertar os seus mestres grunhindo, da mesma forma que os gansos do Capitólio que, no ano de 390 antes de J.-C., haviam permitido desvendar o ataque dos gauleses ao cacarejar na primeira hora do dia.

A segunda vantagem também está vinculada ao seu delicado focinho. Ela vem do fato de que "o porco é capaz de detectar armas a longa distância", acrescenta Yekoutiel Ben Yaakov. A tal ponto que Geva Zin, 26 anos, largou o amestramento de cães para se especializar no do porco. É na Croácia, onde ele havia sido contratado para detectar e desativar as minas enterradas nos antigos campos de guerra, que ele encontra o seu primeiro porco. Mais exatamente, eles são uma dúzia a fungar nos quatro cantos de uma zona de risco. "Enquanto estava os observando, eu me dei conta de que eles podiam ser muito melhores que os cães para detectar as minas e os explosivos. Este é o caso sobretudo dos porcos de Angola e de Moçambique", contou Ben Yaakov ao diário israelense "Yediot Ahronoth".

Ao retornar ao seu país, este antigo soldado das forças israelenses de defesa passa a se dedicar ao amestramento de porcos farejadores de minas, com o apoio do kibutz Lahav, situado ao norte do Neguev. Embora o porco não seja Kasher, Geva ama seus animais. Sobretudo os dois mais novos da turma, Soda e Chaziza, capazes de descobrir explosivos mais rapidamente do que qualquer cão ou detector eletrônico...

Sem essas qualidades, Soda, Chaziza e seus primos jamais poderiam ter pisado o solo da terra prometida, uma vez que a criação de porcos é proibida em Israel, onde estes animais são considerados como "impuros" pelo judaísmo... e também pelo islamismo. Aliás, este último detalhe deu aos responsáveis pela segurança das colônias a idéia de obter uma última vantagem desses
animais: "Segundo a fé muçulmana, um terrorista que for tocado por um porco não terá direito às 72 virgens que supostamente esperam por ele no paraíso", explica Yekoutiel Ben Yaakov.

Em suma, o porco pode se tornar uma arma de dissuasão. Diante disso, o rabino Daniel Shilo, que é presidente da comissão de rabinos da Judéia e da Samaria (na Cisjordânia), aceitou abrir uma pequena exceção à regra, afirmando, no final de outubro, que, "na medida em que se trata de salvar vidas, a proibição de criar porcos na terra de Israel não se aplica". Assim, ele também se mostrou convencido de que, nesse bestiário a serviço da segurança, esses guardas pouco sedutores não irão fazer um trabalho de porco.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

Crédito:Benoît Merlin

Autor:Jean-Yves de Neufville

Fonte:Le Monde