Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

Quer adotar um cachorrinho?

Quem ama animais só pensa em dar carinho e protegê-los. Afinal, um bicho de estimação pode ser o único que, nas horas em que tudo parece estar dando errado, consegue tirar um sorriso de nossos lábios por fazer uma gracinha qualquer. Mas, apesar do afeto que muitas pessoas têm pelos seus bichinhos, uma realidade muito triste preocupa entidades que protegem animais: o abandono. Na Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa) são deixados, em média, 70 animais por dia. Em sua maioria, são abandonados por seus donos por motivos banais e insignificantes.

Segundo a funcionária Meg Navega (foto abaixo à direita), que atende os “proprietários” dos futuros “órfãos”, algumas pessoas simplesmente enjoam de seus bichinhos. “A maioria das pessoas que procuram a Suipa para abandonar um cachorro é porque vai mudar de casa para apartamento e não tem mais espaço para o animal; ou porque não imaginava que teria trabalho, ou por causa dos gastos, enfim, elas não consideram que muitos chegam a morrer aqui no abrigo por sentir falta do antigo dono”, lamenta Meg.

Para o supervisor administrativo Jorge Luiz Medeiros, que trabalha na instituição há sete anos, a maioria das pessoas não consideram os sentimentos dos animais e simplesmente os descartam como se fossem simples objetos inconvenientes. Em função do número crescente de abandonos, a Suipa está enfrentando um grande problema: a falta de espaço. O abrigo é pequeno em relação ao número de animais que chegam diariamente. De acordo com Jorge, para cada cinco adoções, 70 animais são abandonados todos os dias na instituição, acarretando em superlotação.

“Dispomos de uma boa equipe de profissionais para tratar dos bichos, mas não temos espaço suficiente para os oito mil animais que estão aqui hoje. Já obtivemos propostas de diversos órgãos do governo, mas sempre fica na promessa. Somos uma instituição particular, que sobrevive da doação dos sócios, logo não dispomos de muitos recursos”, diz Jorge.

A diretora social da entidade, Regina Beckman, lembra que ainda é raro as pessoas adotarem um animal, principalmente os com deficiência física; como é o caso de um amiguinho vira-latas de dois anos, chamado carinhosamente pelos funcionários de Piruzinho, que perdeu os movimentos na parte traseira. “Ele chegou aqui para nós ainda filhote. Todos o adoram, mas nunca foi adotado”.

Para divulgar o trabalho da instituição e conseguir um número maior de pessoas que se interessem pelos animais, a Suipa constantemente faz campanhas de adoção. No mês de novembro, a instituição vem dando continuidade à campanha “Adote um focinho carente”. Nesses eventos, vários filhotes e adultos podem ser adotados.

Mas o fundamental para a entidade, garante o supervisor, é ter certeza que os animais estarão sendo bem cuidados. "Entramos em contato periodicamente com os novos donos, para nos certificarmos das condições de vida dos adotados”, diz. Jorge lembra que para adotar é preciso somente uma cópia da carteira de identidade, do CPF, e comprovante de residência.

Para contribuir com as pessoas que adotam um animal, a Suipa oferece descontos e até gratuidade, em casos de pessoas que não tenham condições de arcar com as despesas de consultas, vacinas, esterilizações e cirurgias. A cada seis meses, os novos guardiões têm direito a uma consulta grátis na entidade, porque além de se preocupar com a adoção, a Suipa garante que a saúde dos “bichanos” é fundamental.

Uma das maneiras mais coerentes de diminuir o abandono e as injustiças com estes animais, segundo a funcionária Meg, é a esterilização, pois além de evitar o crescimento do número de animais sem lar, evita uma infinidade de doenças como o câncer e até a própria agressividade dos animais mais agitados. De acordo com dados da instituição, tendo a Suipa esterilizado 281 cadelas, e considerando sete filhotes por ninhada, 1.967 cães deixarão de nascer em seis meses. Em um ano serão menos 3.934 cachorrinhos abandonados. No caso dos gatos, serão menos 4.585.

A entidade é contra práticas como a eutanásia, pois para eles esta não é a melhor maneira de controlar a natalidade dos animais. Segundo Jorge, a prática só é utilizada em casos de doenças terminais ou incuráveis, para aliviar o sofrimento dos animais. “Enquanto houver esperança de cura nós continuamos tentando. Temos o exemplo de vários animais que chegaram aqui para serem sacrificados e nós conseguimos tratá-los. O próprio Piruzinho é um exemplo disso. Hoje, apesar de utilizar carrinho para auxiliá-lo na locomoção, ele vive muito bem. Não tem dores, e aparentemente é feliz”, garante Jorge.

A grande maioria das pessoas que toma a iniciativa de adotar um focinho carente, quase nunca se arrepende. Um exemplo é o caso de Fernanda Poiani, que adotou Xuxa, uma vira-latas de dois anos, mesmo morando em um apartamento. “Ela é uma excelente companhia. Está sempre muito feliz e retribui de forma encantadora aos nossos carinhos. Quando meu noivo escolheu a Xuxa, ela estava quietinha num cantinho. Estou com ela há um mês e meio, e a impressão que tenho é que ela que me adotou”, afirma Fernanda.

Cláudia Maria e o marido adotaram Bethoven e não têm do que reclamar. O casal tem vários animais em casa, e mesmo assim não descarta a possibilidade de adotar mais um. “Estou passando roupa e ele fica nos meus pés. Além de ótimo companheiro, Bethoven também é um bom guardião, muito brincalhão e está sempre feliz. Ele foi o terceiro cachorro que adotamos na Suipa; quando chegamos lá, nossa intenção era adotar um filhote, mas assim que entramos, ele veio e sentou no colo do meu filho. Nos apaixonamos na mesma hora”, suspira Cláudia.

Criada em 27 de abril de 1943, a Suipa e seus funcionários trabalham em torno da célebre frase de Albert Schweitzer, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1952: “Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante”.

 

 

 

Informações:


* Sociedade União Internacional dos Animais de Estimação Avenida Suburbana, 1801, Benfica, Rio de Janeiro, RJ.
Tel: 2501 1529 / 9954. Fax: 2501 7896.
Site: www.suipa.org.br

Crédito:Anna Beth

Autor:Janaína Ferreira

Fonte:O Dia