Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

Pet shops vão vender animais silvestres

A partir do ano que vem, vai ser possível comprar legalmente jibóias, jabutis e iguanas, os dois primeiros animais silvestres brasileiros, em pet shops. Mas os bichos não poderão ter sido retirados da natureza. Apenas aqueles criados em cativeiro serão legalmente comercializados. Ainda este mês, o Ibama deve publicar portaria autorizando o registro de criadouros desses bichos. "Com isso, os interessados vão providenciar as matrizes para reproduzir. Os filhotes só devem estar chegando nas lojas em seis meses a um ano", explicou, em Brasília, o diretor de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama, José de Anchieta dos Santos.

 

A comercialização dessas três espécies será regulamentada em outra portaria a ser definida. "Estamos estudando como vai ser a identificação (com chip, por exemplo), se poderão ser castrados ou não e criando um manual de manejo.

 

Vai ser como comprar carro em revendedora autorizada, com certificado de origem", disse Santos. Segundo o diretor do Ibama, a marcação também vai evitar que bichos retirados ilegalmente da natureza terminem nas vitrines das lojas.

 

Até então era proibida a venda de todo tipo de animal silvestre brasileiro.

 

"No caso dos jabutis, jibóias e iguanas, há bichos em excesso até em zoológico. Nenhum está ameaçado de extinção. A comercialização da jibóia amazônica, porém, vai continuar proibida."

 

No futuro, o órgão pode autorizar a venda de outros bichos. A ida das três espécies de bichos para pet shops foi autorizada pela Câmara Técnica Federal de Fauna, composta por representantes do governo e da sociedade, em setembro. A consultora ambiental e ex-presidente do Ibama Nilde Lago Pinheiro foi voto vencido na Câmara. "Essa liberação tem problemas ambientais, de saúde e segurança. Quando se autoriza criadouros e eles estão em áreas circunscritas, o Ibama pode fiscalizar. Mas como vai ser com esses animais espalhados em residências?"

 

Ela diz que vai ser difícil acompanhar se os bichos sofrem maus-tratos. "Não se trata de um microondas que, com um manual, você consegue fazer funcionar.

 

Uma jibóia alcança quatro metros em três anos e a iguana chega a um metro e meio!" Nilde argumenta que a decisão de ter um animal desses precisa ser muito bem pensada. "Ou vão soltar no Parque Ibirapuera ao menor problema."

Reprodução e controle

 

Há ainda o risco de desequilíbrio ecológico e introdução de espécies fora do ambiente original se não houver o controle. Quem comprar não poderá reproduzir os bichos ou terá de devolver os filhotes ao criador, segundo o diretor do Ibama. "Por isso estamos vendo se é possível uma castração", afirmou Santos. "Imagine os bichos soltos num sítio e começar a nascer vários deles. Quem vai fiscalizar?", pergunta a consultora. Ela lembrou que jibóias comem ratos e pintinhos vivos. "Já pensou seu filho alimentando seu bichinho de estimação assim?"

 

O presidente da Associação Brasileira de Criadores e Comerciantes de Animais Silvestres e Exóticos (Abrase), Luiz Paulo Amaral, diz que há muitos interessados em criar comercialmente esse tipo de bicho no País.

 

"Regularizar a criação e a venda, com controle do Ibama, é a melhor maneira de combater o tráfico. A demanda por eles é muito grande e a venda ilegal também", diz Amaral. Ele ressaltou que a castração de répteis e anfíbios é praticamente impossível. "Vai ter de ser uma posse responsável. Quem descumprir a lei terá de responder civil e criminalmente."

 

 

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Jornal da Tarde

Fonte:O Estado de São Paulo