Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

A Bailarina do Mar

A Bailarina do Mar
 A primeira parte desta história começa em 1878 no lar de Joseph Duncan, um homem culto e brando que trabalhava como caixa de banco. Conhecido pelo seu bom gosto nas artes, sua opinião era constantemente requisitada por amigos que desejavam decorar suas casas com pinturas ou esculturas, mas não sabiam nada sobre elas. Sua casa, na esquina das ruas Geary e Taylor em São Francisco, guardava seus próprios tesouros. Mas em pouco tempo o divórcio e o escândalo instalaram-se sobre ela. Poeta e sonhador, Joseph Duncan apaixonou-se por outra mulher e a senhora Duncan pediu o divórcio.

 

Apesar do triste fim deste casamento, os Duncan tiveram quatro filhos, e um deles foi a pequena e excêntrica Isadora. Sonhadora como seu pai, também era amante das artes e da poesia e detestava a realidade. Mas sua infância não foi feliz. Além do divórcio de seus pais, sua mãe renegou a religião na qual foi criada e casou-se pela segunda vez com o ateu Robert Ingersoll. Esses fatos contribuíram muito para a infelicidade de Isadora e para o seu desprezo ao casamento. Aos doze anos jurou que quando o amor chegasse, iria recebê-lo de braços abertos, mas jamais iria se casar.

           

Após o divórcio, a mãe de Isadora mudou-se com seus filhos para uma pequena casa em Oakland, onde viviam sem luxo. A poesia, música e a dança foram sempre muito presentes na vida de Isadora e de todos os seus irmãos. Muito culta, Isadora leu todos os livros possíveis, bons ou ruins. Freqüentava a biblioteca pública de Oakland e foi lá que conheceu uma das pessoas mais importantes de sua vida, Ina Coolbrith, que incentivou o lado criativo de Isadora. Lá também apaixonou-se pela cultura grega, que mais tarde virou uma de suas maiores inspirações na dança.

 

 

Dançando a Rebeldia

            

Isadora foi a bailarina que odiava o balé. Chegou a escrever mais tarde: “Sou inimiga do balé, o qual considero arte falsa e absurda, que de fato está de fora de todo o âmbito da arte”. Detestava sapatilhas e malhas, dançava sempre com uma túnica esvoaçante sobre sua silhueta esguia. Foi a primeira bailarina a dançar descalça. Para Isadora, corpo e natureza eram uma coisa só. Por isso, além de inspirar-se na Grécia antiga, inspirou-se também no mar. Escreveu em seu diário que tentava imitar o ritmo das ondas.

 

Rebelde, foi responsável por uma verdadeira revolução na dança. Ousou bailar as composições de grandes músicos que, na época, eram tocadas apenas em recitais e concertos, e as melodias compostas exclusivamente para o balé eram de baixa qualidade. Dançou sinfonias de Beethoven, noturnos de Chopin e valsas de Brahms. Mesmo estando anos à frente de seu tempo, não era tida como libertina: suas danças exalavam um puritanismo pagão. No entanto, por ironia, as origens de sua dança, renascentistas e gregas, remetem a cultos dionisíacos e transes extático

 

Em 1896 estreou em Chicago e percorreu toda a Europa, onde ingressou em pequenos grupos de vanguarda em Londres, Paris e Alemanha. Porém, sua grande oportunidade viria com as apresentações solo, quando as casas européias ficaram estarrecidas com suas performances

 

Além da dança, Duncan dedicou-se também ao ensino. Fundou, com sua irmã Elisabeth em Berlim, sua primeira escola onde passou a diante seus princípios. Bastante empolgada com os ideais da revolução soviética, abriu também uma escola em Moscou em 1921.

 

Realizou excursões pelos Estados Unidos e inclusive o Brasil. Escreveu uma auto-biografia intitulada “Eu, Isadora” em 1929 que, infelizmente foi bastante modificada pela editora.

           

 

Seus amores e suas tragédias      

 

Isadora teve dois filhos, um com o ator, encenador e cenógrafo inglês, Eduard Gordon Craig e outro com o poeta soviético Serge Essenin. Também teve duas tragédias. Seus filhos morreram juntos num acidente de carro e Serge suicidou-se pouco tempo depois. É dito que Isadora, em uma de suas apresentações na qual dançava de olhos fechados, teve a uma visão da morte de seus filhos. Mas foi a dança que a ajudou a continuar vivendo. Teve outros amores depois disso e em 1914, durante a Segunda Guerra, confrontou-se mais uma vez com tragédia: deu à luz a outro filho, que nasceu morto.

 

Em 1927 Isadora Duncan morreu estrangulada por sua própria echarpe, que prendeu na roda de seu Porsche. Mas sua dança e sua inspiração continuaram vivas em seus alunos e de sua contribuição à dança moderna. Não chegou a ser uma grande dançarina ou coreógrafa, sua importância se deve ao fato dela ter mostrado ao mundo as infinitas possibilidades que vão além do que se conhece, além do censo comum. Além de ter inspirado vários bailarinos como Nijinsky, Nijinska, Fokine, Massine, Balanchine, Ashton, Tudor, Graham e Wigman. Sua vida foi sua mensagem e provou que as vezes a genialidade está onde se menos espera.. 

 

                                                                                                                   Najah Zein

Crédito:Najah Zein

Autor:Najah Zein

Fonte:Universo da Mulher