Rio de Janeiro, 17 de Maio de 2024

Pobre Brasil

Penso que o título já diz tudo sobre como vejo meu País.
 
 
É o olhar de quem já está quase no ocaso da vida, de qualquer maneira com idade superior à da média dos brasileiros.
 
Que vibrou quando um escritor estrangeiro, Stefan Zweig, publicou seu famoso “Brasil – País do Futuro”.
 
Que sonhava com que o lema da bandeira brasileira, “Ordem e Progresso”, fosse realmente o que aconteceria com o passar dos anos.
 
Infelizmente, por causas desconhecidas, Zweig e sua mulher cometeram suicídio em 22 de fevereiro de 1942, na cidade de Petrópolis (RJ).
 
Para ele talvez felizmente, pois sua previsão não se materializou ainda!
 
Que acreditou que o Brasil conseguiria erradicar a saúva antes que a saúva acabasse com o País, dito popular na época em que este brasileiro era bem jovem.
 
Quando acabou a Segunda Grande Guerra, em 1945, na Europa em 7 de maio e no Japão em 2 de setembro do mesmo ano, julgou que agora estaríamos livres desses bárbaros conflitos internacionais e que viveríamos em paz daí em diante.
 
Que vibrou com a deposição de Getulio Vargas, implacável ditador, no poder desde 1930, achando que, agora sim, o Brasil andaria para frente.
 
Agora, aquele jovem sonhador constata que, apesar de alguns progressos materiais no centro do país e em alguns poucos de seus Estados, moralmente o Brasil só piorou.
 
Está deteriorado!
 
Podre mesmo!
 
Atualmente, o brasileiro consciente, sério e, principalmente honesto (qualidade cada vez mais escassa no País de 190 milhões de habitantes), só pode estar desanimado.
 
Seriedade e honestidade passaram a ser a grande exceção em nosso Brasil.
 
O que deveria ser a regra, aplicável à grande maioria (com o perdão pela quase redundância), tornou-se uma exceção sempre exaltada.
 
Passaram, a seriedade e a honestidade, a ser sempre proclamadas, mas raramente existentes, principalmente e quase sem exceção entre os que militam na política, em todos os níveis e em todos os poderes, aí incluídos a imprensa, as igrejas e as promotorias.
 
Quando começou a derrocada, esse desastre que vivemos?
 
Sob um ponto de vista conceitual, com o Presidente Washington Luis, ao proclamar que “governar era abrir estradas”. Esqueceu de dizer “estradas de ferro”, que no Brasil foram relegadas a um último plano.
 
Qualquer um de nós fica boquiaberto, com inveja, quando viaja no continente europeu (ou, mesmo, nos Estados da América do Norte) e se utiliza das excepcionais ferrovias, seguras, confortáveis, pontuais.
 
E as rodovias são excepcionais!
 
Portos e aeroportos decentes, seguros, confortáveis. Felizmente a ANAC e a Infraero não estão por lá...
 
O segundo grande marco de nosso retrocesso ocorreu quando o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira resolveu construir Brasília; não só isso como construir a capital em um ritmo frenético.
 
Custos não importavam.
 
A capital tinha que ficar pronta e ser inaugurada no governo de JK.
 
 
O Brasil quebrou!
 
 
Sinto-me à vontade para dizer que muita gente, mas muita mesmo, enriqueceu ilicitamente com a obra.
 
Muito mal feita, diga-se de passagem, com o emprego de materiais impróprios na maioria dos casos.
 
E JK criou, também, a segunda parte da desgraça.
 
Para conseguir que pessoas, políticos, burocratas, negociantes, etc., aceitassem passar a trabalhar em Brasília, ofereceu-lhes vantagens sob muitas formas: passagens, moradias, salário em dobro e por aí vai!
 
Enfim, estava criada a ilha da fantasia.
 
Agravar o problema oferecendo mais vantagens ocorreu, e continua ocorrendo, às soltas.
 
No Congresso, a semana de três dias (por vezes de dois dias) é uma realidade.
 
E a corrupção cresceu geometricamente.
 
Hoje praticada abertamente.
 
Cada um dos edifícios usados pelo governo conta com uma agência bancária, de tal maneira que o dinheiro da corrupção possa ser entregue ali mesmo, no local de trabalho!
 
Ora, Juscelino foi o precursor dessa gandaia, dessa falta de pudor.
 
O triste é que tenha sido emulada por quase todos os governos seguintes, alguns em escala maior e outras em escala um pouco menor.
 
Apesar de muitos pensarem que o pico dessa baixaria tenha ocorrido no governo Collor, afirmo com toda a certeza de que a corrupção no governo deposto foi (com o perdão pelo termo) “fichinha”, comparado ao que aconteceu no governo FHC e o que está acontecendo no atual.
 
O Governo do Sr. da Silva sublimou a arte do ganho ilícito.
 
Mensalões, mensalinhos, dólares na cueca, cartões corporativos controlados por ninguém, assalto a fundos de pensões de empresas estatais; a criatividade é impressionante e as desculpas ridículas.
 
O mal se alastrou de uma forma tão geral que é quase impossível encontrar-se qualquer repartição pública que não tenha sido atingida por ele.
 
E esse mal não se encontra só nas camadas mais altas (ou mais baixas) dos cidadãos.
 
Infiltrou-se em todas elas.
 
Um ministro da Fazenda invade o sigilo bancário de um caseiro; nada acontece ao invasor.
 
O Diretor Geral do Senado constrói uma casa de R$ 5 milhões; foi penalizado com uma demissão (para iludir a massa, “renunciou” ao cargo, mas a casa continua sendo sua!).
 
Beleza de impunidade!
 
Não assustam a ninguém e a vida continua a mesma.
 
Por isso, POBRE BRASIL
 
São 190 milhões de brasileiros sustentando todos esses criminosos.
 
Aliás, bem menos de 190 milhões, já que há que deduzir a quantidade de criminosos, certamente na ordem de alguns milhões...
 
 
 
 
 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Peter Wilm Rosenfeld

Fonte:www.montblaat.com.br