Augusto Nunes (*)
"Um é novo, outro é velho, decreta a primeira linha de uma reportagem que confronta os perfis dos candidatos Eduardo Paes, 38 anos e Fernando Gabeira, 67.
Se a frase estivesse incorporada ao editorial que formaliza a escolha feita por um jornal, nada a objetar. Se incluída em algum texto assinado por colunistas ou colaboradores, formalmente liberados para emitir opiniões, tudo bem.
Se abre uma reportagem destinada a tratar as coisas como as coisas são, a isenção é assassinada no início do filme e os capítulos restantes são condenados à morte por parcialidade.
Não há esperança de salvação para matérias jornalísticas que, amparadas em duas certidões de nascimento, decretam em seis palavras quem é o novo e quem é o velho.
Se a frase estivesse incorporada ao editorial que formaliza a escolha feita por um jornal, nada a objetar. Se incluída em algum texto assinado por colunistas ou colaboradores, formalmente liberados para emitir opiniões, tudo bem.
Se abre uma reportagem destinada a tratar as coisas como as coisas são, a isenção é assassinada no início do filme e os capítulos restantes são condenados à morte por parcialidade.
Não há esperança de salvação para matérias jornalísticas que, amparadas em duas certidões de nascimento, decretam em seis palavras quem é o novo e quem é o velho.
Se a diferença de idade é o quesito mais relevante no desfile de comparações, a sensatez e a ética recomendam enunciados que rimem com neutralidade.
Por exemplo: um tem 26 anos menos que outro. Ou, então, um tem 26 anos mais que outro. Ou, ainda, um é mais novo que o outro.
A escolha de uma quarta opção fez de Paes a encarnação da novidade, da inovação, da mudança e comunicou aos cariocas que o candidato do PV é apenas velho.
Quase 34 anos distante de Oscar Niemeyer, 10 atrás de Fernando Henrique Cardoso, quatro à frente de Lula, apenas um à frente de José Serra, Gabeira só se encaixaria nessa simplificação se fosse portador de senilidade precoce (e aguda).
Quase 34 anos distante de Oscar Niemeyer, 10 atrás de Fernando Henrique Cardoso, quatro à frente de Lula, apenas um à frente de José Serra, Gabeira só se encaixaria nessa simplificação se fosse portador de senilidade precoce (e aguda).
Como o candidato sessentão chegou ao ponto final com boa saúde, deduz-se que o decreto se apoiou exclusivamente no calendário gregoriano.
Juventude é uma expressão associada a entusiasmo, energia, dinamismo, vitalidade. No Brasil, pode ser o outro nome do perigo. Os mais velhos sabem disso desde o começo da década de 60.
Os ainda novos ficaram sabendo na década de 90. Jânio Quadros tinha 44 anos ao tornar-se presidente em 1961. Renunciou depois de sete meses, sem explicar por quê.
Os ainda novos ficaram sabendo na década de 90. Jânio Quadros tinha 44 anos ao tornar-se presidente em 1961. Renunciou depois de sete meses, sem explicar por quê.
O vice João Goulart tinha 43 quando herdou a vaga. Perdeu-a 36 meses mais tarde, deposto pelo golpe militar de 1964.
Como a era dos generais revogou a eleição direta, o último presidente escolhido nas urnas seria também o mais jovem da história republicana entre 1960 e 1989. Foi superado por Fernando Collor, eleito com 40 anos.
O recordista em idade se tornaria também o único a escapar do impeachment pelo atalho da renúncia. Os presidentes quarentões não deixaram saudade.
O recordista em idade se tornaria também o único a escapar do impeachment pelo atalho da renúncia. Os presidentes quarentões não deixaram saudade.
No começo da campanha, Eduardo Paes parecia moço demais para cuidar do Rio.
A 2 dias da decisão para a eleição de prefeito no Estado do Rio de Janeiro, está claro que o corpo de menor de 40 tem uma cabeça perturbadoramente envelhecida por excesso de pressa e carência de princípios.
Gabeira foi desde sempre um contemporâneo do mundo ao redor. Paes é a versão remoçada dos políticos do século passado. Um se orienta por idéias. Outro é conduzido por interesses, circunstâncias e conveniências.
Gabeira foi desde sempre um contemporâneo do mundo ao redor. Paes é a versão remoçada dos políticos do século passado. Um se orienta por idéias. Outro é conduzido por interesses, circunstâncias e conveniências.
Embarca no trem que lhe parece mais veloz, abandona o vagão quando a velocidade diminui.
Começou no PV, fez uma demorada escala no cordão dos agregados de Cesar Maia, elegeu-se deputado federal pelo PFL, filiou-se ao PSDB, caprichou no papel de inquisidor enquanto durou a CPI dos Correios, foi promovido a secretário nacional do partido, candidatou-se a governador para garantir a tribuna indispensável para desancar o padrinho Cesar Maia e o adversário Sérgio Cabral, rendeu-se a Lula, presta vassalagem à primeira-dama, ordena agressões a cabos eleitorais adversários, mobiliza entidades fantasmas em passeatas instruídas para gritar que Gabeira odeia suburbanos, renega os companheiros de combate na CPI, acaricia mensaleiros juramentados, absolve de todos os pecados a bandidagem dos partidos que o apóiam.
Cesar Maia?
Só esse não pode.
Babu, o vereador de estimação dos moradores dos presídios, esse pode.
Delúbio Soares?
Pode.
Os vincos no rosto de Fernando Gabeira reafirmam a idade que tem.
As rugas na alma de Eduardo Paes informam que a idade mental é muito maior que a oficial.
Um é antigo. Outro é moderno".
As rugas na alma de Eduardo Paes informam que a idade mental é muito maior que a oficial.
Um é antigo. Outro é moderno".
(*) Jornalista, publicado originalmente no JB, edição de 15/10/2008
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Crédito:Luiz Affonso
Autor:Augusto Nunes
Fonte:www.montblaat.com.br