Rio de Janeiro, 17 de Maio de 2024

Seja homem presidente, dê os nomes das elites

Essa obsessão com as “elites” é uma característica fascista. E não se espantem com a possibilidade de mudanças. Mussolini começou a vida como socialista radical, de ultra esquerda.
 
 
Estigmatizar “elites” sem qualificá-las é usar a velha tática do bode expiatório. A que elite eles se referem?
 
 
O Molusco tem que ter a coragem de apontá-la e defini-la. Precisamos saber se está falando de jornalistas, barbeiros, filatelistas, ou banqueiros... Abra o jogo presidente, seja homem!
 
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É duro para este plumitivo escolher um assunto em meio a tanta coisa junta, mas vou me esforçar. Vamos por partes:

Primeiro – Deixei o JB, desta vez para sempre. É que eles têm a extraordinária tendência (que chamam de “política”) de reduzir mais e mais o “pró labore” que pagam a seus colaboradores. Assim, antes que o jornal me obrigasse a pagar para trabalhar, fui. São mais de 35 anos de relações com um veículo que, quando comecei, nos idos de 68, era o melhor jornal deste país, uma escola de informação, ética e credibilidade. Triste destino de um nome que hoje não vale mais...

Segundo – Alentador o resultado do julgamento do Supremo, sobretudo importante num país como o Brasil a dignidade do ministro Joaquim Barbosa, um negro que certamente não precisou dar prova de competência no plenário do STF para merecer uma “ascensão social”. Filho de pedreiro, Barbosa conquistou-a legitimamente, abriu seu caminho estudando e tornando-se assim membro dessa “elite” que o nosso apedeuta-mor tanto odeia. Se os negros no Brasil tivessem oportunidades de ter uma educação de qualidade (e não meras políticas compensatórias que estigmatizam e mantêm a desigualdade), tenho certeza de que teríamos milhões de profissionais de primeira linha em todos os setores em absoluta igualdade de condições com os brancos, orientais e outras etnias. 
 
Terceiro – Mas, os “40 ladrões” foram apenas indiciados e serão processados. Condenação é outra coisa. Tempus fugit... E nossa lenta Justiça pode muito bem levar à prescrição de penas (como ocorreu com Maluf, por exemplo) e ficar tudo por isso mesmo. Mas há pelo menos um componente republicano importante, tanto o Procurador Geral da República, como o ministro relator, ambos indicados por este governo (?) deram provas de independência, ao contrário da triste figura de Geraldo Brindeiro, o "engaveteiro" ou engavetador-Mor da república de FHC. Nisso pelo menos melhoramos.

Quarto – Mas não vamos ficar muito alegres não – O neoPT pretende homenagear Laurenti Béria (ou melhor Zé Dirceu) e seus cúmplices pelo conjunto da obra e o mensalão. Nada pior do que ex-vestais...

Quinto – E por falar nisso, o governo começa uma campanha pelo “três”, por enquanto no BB e de forma subliminar, mas ao mesmo tempo em que retira a verba de R$ 2 bilhões para resolver os graves problemas de atendimento médico no Nordeste. Para que tanta grana se – segundo o Molusco – nosso sistema de saúde é "quase perfeito"? Dois bi para quase perfeito é muito e que os cardíacos morram na fila da cirurgia em Alagoas e na Paraíba...
 
Sexto - Mas naquilo que é importante para a sua sobrevivência, o governo não hesita. Que tal acrescentar mais 1,75 milhão de jovens eleitores ao curral do Molusco? Até aqui o Bolsa Voto, digo Família, beneficia os jovens até 15 anos. Ora, o voto começa aos 16 e – portanto – nada mais razoável que estender o Bolsa até os 17 (a maioridade penal fica onde está). O governo aumentou de R$ 11,8 bilhões para R$ 16,5 bilhões os recursos no orçamento do ano que vem para a chamada "agenda social", que inclui desde o Bolsa Família, o Fome Zero e até as políticas para mulheres, uma ninharia perto do que certa “elite branca” anda ganhando, mas isso já é outro assunto.

Sétimo – Essa obsessão com as “elites” é uma característica fascista. E não se espantem com a possibilidade de mudanças. Mussolini começou a vida como socialista radical, de ultra-esquerda. Estigmatizar “elites” sem qualificá-las é usar a velha tática do bode expiatório, poderiam ser judeus ou barbeiros, o termo serve para fixar um inimigo externo ao seu grupo, dar vazão à paranóia e ignorar o fato de que os membros da cúpula do partido já se locupletam alegremente nos privilégios da elite. A que elite se refere o Molusco? Aos jornalistas? Aos que estudaram? Aos que detêm a riqueza? Elite é um conceito vago embora signifique, em gera,l excelência sem o sentido de xingamento que os partidários do neoPT utilizam. Quando o fascismo chegou ao poder uma boa parte da “elite” fugiu, gente como Thomas Mann, Stefan Zweig, Sigmund Freud, Berthold Brecht, Albert Einstein, etc. tudo “elite”, mas perguntem o que fizeram os Krupp, Tyssen et caterva... Eram “povo” (Volk em alemão) ou elite? A que elite eles se referem? O Molusco tem que ter a coragem de apontá-la e defini-la. Precisamos saber se está falando de jornalistas, barbeiros, filatelistas ou banqueiros... Abra o jogo presidente, seja homem!
 

Oitavo – O governo lançou o livro. São apenas 3 mil exemplares. Por que tanto alarde por tão pouco? Eu quero comprar o livro. Interessa-me saber o destino de um desaparecido em particular: o ex-deputado Rubens Paiva. Sei quem o prendeu e matou, mas como diria José Dirceu, “não tenho provas” do segundo episódio, as testemunhas que viram têm medo até hoje. Como me disse na ocasião o ex-comandante da PE, General Adyr Fiúza de Castro, "você foi além do que devia e agora esbarrou num muro", o mesmo muro do Riocentro e de outros sumiços, como o de Orlando Bomfim. Aliás, o conceito de provas é curioso, será preciso recibo e ata de reunião de corruptos, certificado de tortura ou laudo de ocultação de cadáver, com firma reconhecida? Um dos militares que o torturou, o ex-capitão Carneiro Leão (expulso de Exército) poderia dizer algo a respeito do destino de Rubens, se estiver vivo. Rubens não era, como qualificam os militares, nem terrorista, nem assassino, nunca pegou em armas, lutou contra o regime arbitrário e ilegítimo  com as mesmas armas usadas por milhares de brasileiros, sua coragem, sua opinião e (como ele era rico) ajudando financeiramente exilados amigos em dificuldades para sobreviver no exterior. Foi preso em casa, junto com a mulher e uma filha, foi torturado na Terceira Zona Aérea e no DOI, na Barão de Mesquita, onde foi assassinado. Seu corpo foi levado para o quartel de bombeiros do Alto da Boa Vista (na época uma delegacia, alô Fernando Gargaglione) e um “seqüestro” fajuto foi montado. Os ex-catarinas Jacy e Juracy Oshendorf e Souza poderiam contar algo a respeito, assim como o então comandante do DOI-CODI. O brigadeiro Burnier também, poderia confessar algo importante (mas esse só se algum centro espírita tiver linha direta com o Inferno). E o cadáver sumiu. O livro chega a alguma conclusão sobre o destino de Rubens Paiva?
 

Nono – Nelson Jobin não precisa ameaçar os militares com bravatas. Jogar para a platéia não o recomenda. O senhor já foi ministro da Justiça e até agora os arquivos do porão ainda são secretos (se é que já não viraram cinza). Na época em que Heraldo Dias e eu andávamos atrás de Rubens Paiva fomos procurados por um ex-sargento da PE que se prontificou a vender uma foto de Rubens Paiva morto, constante de um arquivo que denominou como a “caixa de sapatos”. O militar se identificava apenas como Joaquim José da Silva Xavier, mas acabou revelando-se mais Silvério dos Reis que Tiradentes e o contato foi rompido. A pergunta é: Existiram mesmo as tais “fotos de instrução”?
 
Décimo – E há o caso do Renan... Ah, cansei!  Não confundir com o outro...
 
 
 
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Montbläät - Um Jornal para entender o Brasil
Rio de Janeiro – 31 de agosto a  6 de setembro de 2007
Ano III Nº 253
          


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Crédito:Luiz Affonso

Autor:Fritz Utzeri

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